Inês Ferrão, lisboeta de 26 anos, sofre de wanderlust (desejo de viajar) desde que se conhece. Formada em Serviço Social, defende que o voluntariado e a partilha de conhecimentos são a melhor forma de conhecer e fazer girar o mundo.
Depois de ter vivido no Rio de Janeiro, viajado em África de mochila às costas, trabalhado com refugiados no sul de Itália, entre outras tantas aventuras, criou um site para que todos pudessem fazer o mesmo.
‘Para Onde?’ ajuda e orienta quem quer viajar e dar o seu contributo através da partilha de oportunidades de voluntariado, work exchange, estágios e trabalhos temporários em todos os continentes.
Mini Bio:
Idade: 26 anos
Naturalidade: Lisboa, Portugal
Presença online: Para Onde? | Facebook | Instagram | Twitter
No meu site, encontra: Informação sobre voluntariado grátis ou low cost, estágios, trabalho temporário e work exchange em todo o mundo.
Sul de Zanzibar, Tanzânia
Zanzibar é conhecida por ser a ilha paradisíaca que atrai apaixonados em lua de mel, mas eu pude descobrir muito mais. Normalmente, os turistas concentram-se no norte da ilha, deixando quase intocado o restante território, o qual proporciona uma experiência cultural genuína. Fiz work exchange (trabalho em troca de alojamento e refeições) num hotel na vila de Jambiani. Não me lembro de outra vez em que a paisagem me tenha tirado a respiração de forma tão literal. Para lá chegar, fiz uma viagem rápida desde a capital da ilha, Stone Town, numa carrinha a que chamam dalla-dalla. Lembro-me de que estávamos sempre entre bananeiras e palmeiras altas que nos impossibilitavam de ver para além da estrada. Quando finalmente os ramos nos deixaram, vi o mar com uma cor que nos habituámos a achar que só existe em revistas exóticas. O Índico roubou-me as palavras. Jambiani é uma pequena vila onde o chão é de areia e as únicas sombras são as das palmeiras. Todos jogam futebol ao final da tarde, quando o calor faz uma pausa para descansar, as mulheres muçulmanas vão de vestes para o mar cultivando algas, novos e velhos andam de bicicleta pela vila e a vida corre tranquila. É um cenário perfeitamente surreal: surrealmente bonito como não achei que fosse possível. Foi ali que vivi um mês da minha vida, tendo sempre tempo para mais uma viagem de dalla-dalla que me levasse a um restaurante numa rocha no Índico (The Rock, Pingwe), a um festival religioso em que todas as mulheres levam os seus vestidos mais coloridos ou a uma vila onde não há eletricidade e podemos ver o céu coberto de estrelas.
Airbnb & Couchsurfing
Pessoalmente, acredito que parte da alegria e da surpresa das viagens depende do local onde posso pousar as malas ao fim do dia. Desde que, em 2010, encontrei o site Airbnb, estou completamente fascinada. Muito melhor do que pagar por um quarto de hotel é alugar um apartamento que, de facto, nos dá a sensação de ser morador e não turista. É isso que quero sentir quando visito um novo lugar! No Airbnb, podemos encontrar um apartamento moderno em Nova Iorque, uma cabana de palha na Tanzânia, uma casa numa árvore na Costa Rica, um moinho em Portugal: há mesmo de tudo, e os preços são bastante acessíveis (até mais do que em hostels). O couchsurfing, por outro lado, é já um velho (mas sempre bom) amigo de muitos viajantes, e posso orgulhar-me de ser meu também. Às vezes, ainda me questiono: como é possível as pessoas abrirem as suas portas a desconhecidos para partilharem as suas casas, histórias, conselhos e refeições? É um serviço e um prazer que espero que sejam infindáveis.
Itália
Itália não é desconhecida para os viajantes, mas é sempre surpreendente. Este verão, pude conhecer a cidade de Matera, no sul do país. Fundada no século III a.C., permaneceu quase intacta até hoje, criando o cenário ideal para o cinema: não será por acaso que ali foi filmado ‘A Paixão de Cristo’, entre outros filmes históricos. Cada passo pelas grutas e escadas em ruínas aumentava a minha sensação de ter recuado no tempo sem ninguém reparar. Bolonha, cidade universitária no norte do país, em nada se assemelha a Matera, mas há anos que me faz sonhar lá morar. As cores quentes das casas (é conhecida como “cidade vermelha”), os pórticos para proteger da chuva, o cheiro a comida italiana no ar, as centenas de estudantes de bicicleta, a música e os espetáculos ao ar livre, sempre prontos a convidar para mais uma saída… Não me tentem convencer do contrário: não existe melhor cidade italiana!
Paraty/Ilha de Boipeba
O Brasil é um país com tamanho de continente, que esconde incontáveis segredos. Paraty era um deles, mas, infelizmente, já foi revelado há muito tempo. Apesar disso, na maior parte dos dias, as ruas de pedra continuam pacatas e, passeando no centro histórico colonial, a impressão é de que aquele poderia ser o meu cantinho na Terra. Tem casas alegres, capelas à beira-mar, praças onde todos se juntam para uma palavra ou outra, cavalos, cafés aconchegantes (mesmo quando o calor não dá vontade). Juntando a isso tudo, fica perto de ilhotas e praias de água verde e transparente. Se tivesse um barco e navegasse um pouco (bastante!) mais acima pelo Atlântico, iria encontrar a Ilha de Boipeba, na Bahia. Fui sem expetativas; voltei apaixonada. Como posso dizer que estou viciada numa ilha perdida no Brasil? Como posso desejar passar lá longos verões da minha vida ou mesmo construir lá uma casa na árvore e ser feliz para sempre? É porque é mesmo um lugar especial. Ao lado do (demasiado) concorrido morro de São Paulo, fica este cantinho que já vai tendo algumas pousadas, para meu desgosto egoísta. Lá estive sozinha numa praia com quilómetros de comprimento, cantei durante horas no alpendre de uma casa cheia de pessoas caricatas, aventurei-me para depois encontrar o caminho com maré cheia sem forma de o refazer. Tudo é alegria em Boipeba. Não há horários, não há regras, problemas ou compromissos. O objetivo do dia é ser feliz, e eu cumpri!