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… Isabel Saldanha, fotógrafa

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É engraçado que toda a gente se inibe de falar sobre si mesmo, como se o pressuposto do autoelogio das nossas qualidades fosse uma arrogância e não apenas o que devia ser, um fenómeno fabuloso de autoconhecimento.

Por isso, torna-se socialmente mais conveniente inaugurar qualquer apresentação com a doce candura das nossas falhas e dos nossos eternos defeitos. Isto, na expectativa de que as almas atentas rebatam em elogio aquilo que sabemos serem, há anos, as nossas qualidades intrínsecas, que esperam timidamente a luz da confirmação pública. Que se lixe, já ando aqui há uns anitos!

A Isabel é uma tipa muita feliz, um espírito sagaz e curioso que se deita todos os dias amuada por ter de fazer uma pausa de sono em tudo o que é vida. A Isabel é uma gaja que me cansa, porque quer fazer mil coisas ao mesmo tempo, excedendo mesmo os limites impostos à condição feminina. A Isabel é uma boémia, hedonista, que troca a monotonia do sofá por uma seca coletiva, bastando para isso que seja outdoor e tenha bom vinho. A Isabel é uma romântica, perfecionista. A Isabel é uma bem-disposta que vive para dizer ‘Bom dia!’ em voz alta e volta com a alma cheia do café do bairro, só porque o retribuíram com a mesma intenção. A Isabel é desapegada e impulsiva. A Isabel tem defeitos como toda a gente, mas como é otimista não se inibe em dar palco às suas qualidades. A Isabel vive dentro de mim e é um prazer dar-lhe abrigo, mesmo que, para isso, me compita a missão de arrastar o seu esqueleto cansado até ao próximo desafio.

É licenciada em Gestão, é fotógrafa a caminho de escritora e tem duas filhas, a Caetana e a Camila.

Mini Bio:

Nome: Isabel Saldanha

Idade: 35

Naturalidade: Lisboa

Presença online: Site | Facebook | Instagram

Coisas que amo: vinho, viagens #boralá, loiras #filhasdamãe, escrita, fotografia, livros, comida, #atevelhinhos, amigos, alfama.

Compromisso de valores

Energia e alegria de vida, muita! Entusiasmo por aventuras, sede de loucuras, viagens e paixões. Paixão por quem sou, paixão pelo que faço. Residente num universo onde a boémia e a disciplina fazem as pazes ao final do dia. Onde uma mulher que é mãe é, primeiro, uma mulher. Em que as crianças são educadas sem peneiras, num ambiente de inquietude, curiosidade e pensamento inclusivo. Onde os adultos não são estátuas de referência, mas seres orgânicos, que inspiram até nas suas fragilidades. Onde não há certezas e isso não é uma angústia. Que vive numa casa, onde o maior repositório de energia está na atitude franca com que se agarra a vida.

Onde as rotinas incluem o fast food e o fast forward. Onde o exercício físico também contempla tocar às campainhas e fugir. Onde se come mais gomas do que goma. Onde a celebração da vida dita que, às vezes, temos de sair à pressa, sem nos pentear. Quando o calor chega, os pés vivem descalços, sem o assombro do sujo e do perigo. Quando o frio aperta, não se poupa nos abraços. Priorizam-se os sorrisos e as gargalhadas, mas não se escondem as lágrimas. Os finais são sempre felizes, mesmo quando se perde.

Alfama

Sempre soube que, um dia, quando viesse morar para Lisboa, seria num bairro histórico que queria viver. Quando conheci Alfama, apaixonei-me. As casinhas a escalar a encosta, entaladas entre o Tejo e a sombra de um castelo, entornaram-me as medidas. As ruas estreitas para o amparo das dúvidas, a fala emancipada das crianças, a voz puxada às ancas do mulherio, o fado de chamariz, a paixão pelo berço, a pedra grossa das ruas e as pessoas, todas as pessoas, sempre as pessoas. Alfama é fácil de amar. Era uma tentação fazê-lo. Embora haja uma crueldade nos amores fáceis, cedi em tudo. Embrenhei-me tanto nas ruas como nas pessoas, explorei-a, gozei-a como pude, quanto pude, o que quis e como quis, fotografei-a de forma incansável, elogiei-a em textos, em sonhos, em poemas e em diálogos.

Tornei-me parte. Encaixei-me à força na sua história, cravei-me com vontade na sua morada. De adereço, fiz endereço, e o que começou como um caso ao acaso virou namoro, investida, promessa, noivado e casamento. Daqui a um mês, mudo de morada. Mesmo na prática forjada do desapego, é na hora do adeus que tudo nos parece mais belo. A paisagem e as pessoas ganham a beleza que a demão da saudade pinta, e o meu fado vai-se escrevendo na despedida. Viverei bem com a saudade (digo), levo-a num caixote comigo.

Vou sentir é mesmo falta das pessoas, das pessoas dos dias, das que foram contemporâneos comigo, das que me deixaram fazer da morada palco, das que nos acolheram como filhas do bairro e nunca me fizeram sentir estrangeira ou perdida. Essas não vão numa caixa, vão no pulsar com que me faço à vida, vou levá-las das ruelas para as avenidas. Viverão para lá do Tejo, da sombra do Castelo, na saudade que franchisei comigo, ainda que esta não seja a última morada em que me dê por inteiro. O povo sabe, sabe sempre, que não há amor como o primeiro.

Lisboa

Lisboa é uma miúda endiabrada, de cabelo despenteado, que roça os sapatos engraxados no chão enquanto é arrastada pela mãe à entrada de uma missa. Lisboa tem um vestido redondo de flores, com padrão fininho, onde as nódoas se confundem com um jardim. Lisboa é uma menina de mãos irrequietas e dedos pegajosos. Lisboa quer saltar ao elástico entre os meninos da sua idade, adiando até poder o seu estatuto de princesinha. Lisboa gosta de pirolitos, golos de ginjinha à escondida e balões grandes de pastilha Gorila. Lisboa é uma menina que se quer perder sem se encontrar, na esperança de se manter criança no conforto das suas sete colinas.

#filhasdamãe

Ser mãe muda tudo, muda mesmo tudo. Não muda para melhor, não muda para pior, mas muda. Às vezes, tenho saudades da minha vida antes delas. Dou-me muitas vezes à contemplação do que seria a minha vida, se a maternidade ainda fosse um desejo por concretizar.

Penso em tudo o que poderia fazer, a liberdade explícita do tempo (quase comovente), as viagens sem régua ou intervalo, o sono prolongado ao desmazelo (as saudades), os impulsos com direito a esse nome, uma agenda só minha, solta das amarras das obrigações, sem o aguilhão lixado da manutenção das rotinas, a sustentabilidade do lar, o equilíbrio da casa. Isenta da obrigação de assumir no mesmo papel a cuidadora, a amiga, a líder, a encarregada, a profissional, a financiadora, a educadora, a cozinheira, a empregada, a professora, a coleguinha, a contadora de histórias, a conciliadora, a motorista, a guia, a precetora e a mãe. Acho que, enquanto viver sóbria, vou ter sempre saudades dos tempos em que o tempo era a unidade deliciosamente egoísta das minhas concretizações.

Estas saudades que eu tenho do que seria, sabendo que já sou, com tudo o que tenho, serão sempre o meu pêndulo de equilíbrio, enquanto pessoa.

Não há amor sem liberdade. A liberdade pressupõe escolha e a escolha pressupõe caminhos. Não há inteligência humana, nem elevação do amor, que, em exercício pleno, não implique uma opção, que não deixe no ser humano, mais orgânico, a ansiedade de tudo o que seria, do que não escolheu. A maior certeza da minha escolha é que, quando escolhi ser mãe, também me escolhi a mim.

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