[wlm_register_Passatempos]
Siga-nos
Topo

Jane Hawking: o lado B

1 de 2

Falámos com a ex-mulher de Stephen Hawking a propósito do lançamento do livro ‘Viagem ao Infinito’ – uma obra sobre o seu casamento –, e descobrimos o lado mais desconhecido de uma vida complexa.

Esta é a obra que de deu origem ao filme ‘A Teoria de Tudo’, vencedor do Óscar de Melhor Ator, com Eddie Redmayne, e de dois Globos de Ouro, o de Melhor Ator e Melhor Banda Sonora.

O cientista é possivelmente uma das mentes mais brilhantes dos últimos tempos. Mas sem Jane Hawking talvez a realidade fosse outra…

Como é que nasceu o livro?

A primeira razão que me fez escrever o livro foi tentar dar um fim a todas as memórias que tenho e que estão tão frescas… Queria colocar tudo num livro para poder continuar com a minha vida e não sentir este peso tão grande em cima de mim. Passados estes anos todos, quero poder fazer aquilo que me apetece! A outra razão foi querer ter algo documentado sobre a vida de Stephen Hawking e a minha, mas que fosse oficial e correspondente à verdade, porque há muitas biografias não autorizadas e com muitos erros, há coisas que são inventadas. E uma outra razão ainda foi querer descrever precisamente o quão difícil e dura a vida de um deficiente é e para as respetivas famílias nas sociedades contemporâneas, tanto na Europa como nos Estados Unidos. Queria chamar a atenção para o facto de existir tão pouca ajuda para estas pessoas. No Reino Unido há um milhão de crianças responsáveis por cuidar de deficientes. É muito! Estas crianças, infelizmente, não têm infância e eu sei muito bem o que isso é, porque vi isso acontecer comigo no meu casamento. Estava tão exausta de cuidar do Stephen, que tive de pedir ajuda aos meus filhos, porque não tinha energia para o fazer sozinha. Sabia que isto estava errado, não queria que isso acontecesse e odiava o facto de estar a acontecer, mas não podia fazer nada, porque, ainda por cima, o Stephen não queria a ajuda de mais ninguém lá em casa sem ser eu ou os nossos filhos.

Foi uma vida muito difícil?

Sim, muito! Quando eu era nova e me casei com o Stephen, tinha muita energia, mas à medida que os anos foram passando e que ele se recusava a falar comigo sobre a doença e a ter ajuda externa, foi-se tornando mesmo muito complicado.

Onde é que foi buscar forças?

Aos meus pais, eles ajudaram-me bastante. Alguns colegas dele também me ajudaram… E depois a minha fé e o facto de eu gostar muito dele. O facto de gostar dele, e de estar casada com ele, fazia-me manter o compromisso de cuidar dele.

Quando soube da doença, como é que reagiu? Quis ir-se embora?

Não, eu não tinha quaisquer planos para a minha vida. O único objetivo era a sobrevivência. Quando a doença foi descoberta, eu tinha acabado de conhecer o Stephen. Umas quatro semanas depois de ele ter descoberto que tinha a doença, foi quando o conheci, tinha 18 anos. Ele disse-me que lhe tinham diagnosticado uma doença terrível, para a qual não havia cura, e que ia morrer possivelmente dentro de dois ou três anos. E eu fiquei muito chocada, porque gostava dele. Fui para casa e contei à minha mãe o que estava a acontecer e ela disse-me que tinha de rezar por ele, e foi o que eu fiz. E depois, umas semanas após ele me ter contado isso, encontrei-o numa estação de metro a ir para Londres e estava a agir como se nada tivesse acontecido, como se não me tivesse contado nada. Convidou-me para um encontro e eu aceitei!

Alguma vez pensou em deixá-lo por causa da doença?

Não, nunca. Eu sabia que não podia, sentia que era responsável por ele. Eu era muito nova, muito otimista… E, além disso, eu, assim como todas as pessoas da minha geração, vivíamos sob a ameaça de uma guerra nuclear, nós podíamos ter apenas uns quatro ou cinco segundos de aviso antes de um ataque nuclear e todas as nossas vidas terminariam naquele instante. Por isso, dar ao Stephen dois ou três anos da minha vida não era assim um compromisso tão grande. Podia muito bem viver com isso! E, mesmo que não acontecesse a guerra nuclear, teria o resto da minha vida para cuidar dele.

Acha que o amor consegue derrotar todos os problemas e ultrapassá-los, como este?

Tem de existir amor para se conseguir fazer o que eu fiz e tem de existir amor em todas as relações. Tem de haver um amor mútuo, assim como um respeito e um suporte mútuos também. No meu caso, o suporte não era mútuo e talvez por isso o casamento tenha chegado ao fim, eu estava demasiado cansada.

1 de 2

Veja mais em Pessoas

PUB