Chamo-me Sílvia, tenho 26 anos e cheguei a este mundo com quatro quilos, o que levou a freira da Ordem do Carmo a ir mostrar-me a toda a gente. Percebe-se, assim, de onde vem toda a minha candura e a minha devoção. Ou não.
Nasci no Porto (carago!), fui em bebé para os Açores, passei pelo Funchal, até por Paredes, depois por Braga e agora vim para Hamburgo. Ter passado por todos esses sítios (ou eles é que passaram por mim) faz-me acreditar convictamente que “casa” é onde temos de estar e agora a minha é esta.
Licenciei-me em Ciências de Comunicação na Universidade Católica de Braga e nunca tive dúvidas de que a minha inclinação era para as letras, mais não seja porque nunca aprendi a fazer uma conta de dividir por dois números ou porque um “Suficiente” a Matemática era uma festa. Sou dona da Piaf, a cadela mais linda de todas, e também sou benfiquista doente. Tenho o mau hábito de não gostar de dar satisfações e gostaria de ter, um dia, um negócio só meu. Quem sabe, um bar de petiscos, quem sabe, um restaurante. Quem sabe, mais cedo do que tarde.
Mini Bio
Idade: 26 anos
Naturalidade: Portuguesa
No meu blog encontra: um espaço que a Internet me emprestou onde posso aliar a minha vontade de escrever sobre moda, beleza, viagens, restaurantes e sítios. É o meu light side, é onde gosto de mostrar coisas bonitas para deixar quem de lá sai com um sorriso. Pelo menos, faço por isso.
Cozinhar
Gosto tanto! Nada me dá mais prazer do que cozinhar para os meus e pôr uma mesa bonita (já diz o meu futuro marido, Jamie Oliver, “make your table look respectable”). Há sempre velas, flores, guardanapos divertidos e pratos cheios de cor. Sou uma entusiasta de gastronomia, adoro experimentar sabores exóticos, petiscar umas lapas depois de um dia de praia e pôr em prática receitas novas. Sigo o “Masterchef Australia” com a mesma devoção e o mesmo comprometimento com que o Passos Coelho segue a Merkel, tenho nos favoritos do computador inúmeros blogs ligados ao tema, como o Pinch of Yum, o Naturally Ella ou o Drizzle and Dip e as aplicações para smartphone também dão imenso jeito.
Adoro, por exemplo, a app Kitchen Stories por ser super completa. Tem uma lista de compras associada a cada receita, o vinho ideal para acompanhar os pratos sugeridos, vídeos com dicas práticas, e a luz do ecrã fica sempre ligada enquanto a app estiver aberta, o que nos permite seguir a receita sem ter de estar sempre a ir mexer-lhe. Não é bem pensado? É lá que encontro muitas vezes a resposta à pergunta que mais inquieta a humanidade: “O que é que vamos fazer para o jantar?” Não saímos dali sem uma ideia, mas a verdade é que chegada a hora de cozinhar, acabo por interpretar as receitas que encontro e fazer um bocado à minha maneira. Acho que levo algum jeito para a coisa, mas quando me corre mal, também sei ficar mais enervada do que a padeira de Aljubarrota. Os meus partners in crime nestas lides são a minha mãe e o meu namorado que faz a melhor francesinha de sempre e nem preciso de saber o segredo do molho desde que ele ma ponha à frente de quando em vez (ou muitas vezes).
Restaurantes e cafés
O hambúrguer de trufas a acompanhar com batata-doce frita e maionese fumada é o meu guilty pleasure (nem é que me sinta muito guilty, mas enfim…) aqui em Hamburgo. Vou comê-lo ao Otto’s, o ex libris das hamburgueria,s o que é dizer muito numa altura em que elas estão na moda. Também pela cidade, tenho de falar do Atelier F com uma decoração de excelência, um gaspacho especialmente bom e umas massas que fazem o meu estômago dançar o fandango. Por fim, o Erste Liebe Bar (ou o Bar do Primeiro Amor, em português), onde vamos muitas vezes ao fim de semana. Tem uma coleção de revistas invejável, como a Love e a Kinfolk, e nada melhor do que ir até lá, sem pressas, e beber um chocolate quente enquanto as folheamos. Em Praga, e se por lá passarem, não deixem de ir ao Kampa Park, onde comi uma das melhores refeições da minha vida. O restaurante fica sob a ponte e sobre o rio, é acolhedor e dividido em várias salas. Gostei, particularmente, do crème brûlée com sorvete de manga e maracujá e nut croquant. Um nome refinado que faz justiça a uma sobremesa que é uma verdadeira orquestra de sabores. O melhor pequeno-almoço, encontramo-lo no Bakers & Roasters, em Amesterdão. Vale a pena esperar na fila para arranjar mesa e comer as maravilhosas panquecas e os ovos benedict. Todavia, é em Portugal que se faz a melhor comida do mundo e restaurantes bons, mesmo bons, não faltam. Fui jantar ao Tasco, no Porto, pouco antes de vir para cá mora, e fiquei rendida. Que todos os santinhos abençoem as alheiras, os queijos, as pataniscas e tudo o que por lá se confeciona. De resto, e o que realmente me enche a alma é entrar na Frigideiras da Sé, em Braga, e a ouvir as senhoras a perguntar: “O que é que vais querer hoje, meu amor lindo?”
Das viagens
Há vários destinos que me marcaram. Fomos a Praga no fim do ano passado, e a mística quase palpável daquela cidade ficou-me por baixo da pele. Kafka, por sinal o meu escritor de eleição, chamava-lhe “querida pequena mãe” e, de facto, é um sítio que nos envolve e não nos devolve. O Vlatva atravessado pela Ponte Carlos, a Malá Strana, o castelo no topo a mandar sobranceiramente na bela menina que tem aos pés, as marionetas de madeira, o gótico e o barroco, os músicos de rua… Tudo ali é como tem de ser. Não lhe toquem. Pitoresca como Praga é Edimburgo, onde eu acho que um dia ainda hei de viver. Pelo menos, gostava muito de passar uns anos na Escócia. Pelas paisagens, pelo sotaque, pela hospitalidade, pela tão rica cultura e, obviamente, ninguém diz que não a um kilt! Paris, por tudo o que sobre ela sabemos e porque guarda o meu Erasmus, os meses mais bem passados da minha vida. Amesterdão foi a última viagem que fiz e percebi que a cidade é muito mais do que a ‘menina rebelde da Europa’. Os canais, as casas tortas e coloridas, os incontáveis museus, a concentração de nacionalidades e culturas fazem com que quase lhe sintamos o pulso. Aqui na Alemanha, adoro a energia de Berlim, o conto de fadas que é Schwerin, com o seu deslumbrante castelo, e a praia de Sylt com água inesperadamente quente.
Além-Europa, as minhas escolhas recaem sobre Cuba e Tunísia. Trago boas memórias de ambos os países. Dos cubanos, a ideia de um povo de sorriso fácil, o querido e velhinho taxista que simpatizou connosco e nos mostrou uma Havana que tão bem conhecia, as casas de fachadas coloridas, mas degradadas sob a pesada mão do comunismo. Levou-nos ao La Bodeguita del Medio, o bar onde parava Hemingway. Na Tunísia, o souk de Hammamet, com as mesquitas cujos altifalantes transmitiam, de súbito, a hora das rezas e, com elas, a sensação incrível de estarmos a experimentar tão diferente cultura. Na Tunísia, ainda houve tempo para a antiga e importante potência de Cartago, para Tunes, onde visitámos o famoso Museu do Bardo com uma extraordinária coleção de mosaicos, a linda Sidi Bou Said, pintada a azul e branco e encostada a uma falésia sobre o Mediterrâneo, para um jantar com dois muçulmanos completamente desconhecidos (o meu pai faz amigos em todo o lado), durante o qual falámos abertamente sobre muitos assuntos, numa troca de ideias saudável. Sim, também é possível, e viajar é sabermos despojar-nos de preconceitos, porque é quando nos desligamos deles que surgem as histórias que ficam para contar. E já que falamos sobre viagens, estou a suspirar pela próxima, desta vez até à Croácia! Não há ansiedade melhor do que esta de marcar e planear tudo e não vejo a hora de aterrar em Dubrovnik.
Airbnb, BlaBlaCar e Sandeman’s New Europe
Em termos práticos, e nesta coisa das viagens, já não abdicamos do Airbnb. É seguro, é de fácil marcação e, por um preço acessível, temos um conforto que “sabe a casa”. Também recorremos algumas vezes ao BlaBlaCar, um site de partilha de boleias. Viemos de Praga a Hamburgo numa carrinha grande com três checos e um Rottweiler. Foi uma viagem um tanto ou quanto “amalucada”, mas uma animação! Recomendo, por fim, as free tours realizadas pela Sandeman’s New Europe. Existem em várias cidades do mundo e a premissa é simples: compete aos guias – todos jovens e muito divertidos – levar-nos a conhecer as cidades em causa com humor, leveza e descontração. Não tem mesmo nada a ver com as visitas guiadas enfadonhas a que estamos habituados. Pelo contrário, nem damos pelo tempo a passar. No fim, cada um paga aquilo que achar que a visita mereceu. Não vos parece bem?
Meu Hamburgo
A cidade que escolhi para viver e que me parece subvalorizada. Quando as pessoas pensam na Alemanha, pensam em Berlim, Frankfurt ou Munique e não sabem nem sonham que Hamburgo tem tanto para oferecer. Foi aqui que os The Beatles deram os primeiros concertos e é a cidade alemã preferida de Karl Lagerfeld. Sabiam? Detém uma rica parte cosmopolita da qual não abdico e que abriga uma vasta oferta de lojas, restaurantes, cafés e espaços culturais. Tem aquele centro maravilhoso de prédios imponentes e ruas onde percebemos que, de facto, a economia prospera. Mas, depois, também proliferam espaços verdes no seu estado mais puro. Canais ladeados por árvores que nos conduzem até ao lago Alster, parques diversos (Stadtpark, Niendorfer Gehege, Planten un Blomen), onde se passam tardes deliciosas a passear, a ler um livro, a fazer um piquenique com os amigos ou a andar de bicicleta. Aliás, os alemães aproveitam ao máximo os momentos de lazer e o exterior e, depois do trabalho, estão todos sentados nos muros virados para a água a beber a muito tradicional e obrigatória cerveja. Engana-se muito o Pedro Abrunhosa quando canta “é tão cinzenta a Alemanha”. Não é. Não é mesmo.