Lanche à Bastardo

Já tinha ouvido falar da sua fama aos almoços e jantares, mas foi de tarde que o conheci, o filho ilegítimo dos restaurantes lisboetas, o Bastardo. Não me arrependo de por aí ter começado.

Localizado naquela que é a mais pequena rua da capital, a da Betesga, no primeiro andar do International Design Hotel, o Bastardo acolhe-nos com pompa e circunstância. Mal entro, tenho a sensação de que há uma carta fora do baralho. Ainda não sei qual, mas agrada-me.

Espreito o ambiente da sala e sorrio: parece não haver duas cadeiras iguais, nem carpetes, nem candeeiros. No entanto, há uma harmonia que faz todo o sentido, um jogo decorativo que se interliga de forma tranquilizadora.

Já na mesa, com as colegas de profissão, escolho o lugar junto à janela, para não perder pitada da vista. Dali vejo a rua Augusta, o Rossio e muita da azáfama típica da Baixa.

Tenho sede. Quando abro a carta para escolher, volto a sorrir (e a rir). Todos os nomes têm um cunho pessoal e, muitas vezes, de humor. Detenho-me na categoria “sumos dão prazer e fazem crescer” e escolho a “Limonada, lúcia-lima e o biscoito de canela”. Provo e penso: genuína, fresca e reconfortante ao mesmo tempo. Fiquei de olho no Antioxidante (laranja, gengibre e beterraba) e no Detox (pepino, maçã, limão e coentros), mas ficam para a próxima.

Ainda antes de chegar o incrível carrinho de chás, e entre a conversa trivial que corre na mesa, passo mais uma vez os olhos pela atmosfera da casa, em busca da carta fora do baralho.

Demoro-me nos quadros com frases que compõem as paredes e sorrio mais uma vez. “Vai à merda”, lê-se à minha minha esquerda. “Vai tu”, lê-se imediatamente ao lado. Depois de ver todos os outros, rio-me. Os quadros são da autoria da designer Inês Maldonado e jogam com frases retiradas de filmes, uns mais clássicos do que outros.