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Marco Piangers: este pai é top!

É um fenómeno nas redes sociais, seguido por milhares de pais (e mães). Dos vídeos virais às palestras, Piangers comove, faz rir e transforma outros pais.

Marcos Piangers escreve, faz vídeos, dá palestras e tem um programa de rádio no Brasil, onde nasceu. É famoso, tendo passado também pela televisão, e hoje é um fenómeno das redes sociais, com uma comunidade no Facebook que ascende a um milhão de fãs (e vídeos com mais de 30 milhões de visualizações).

Mas nenhuma destas descrições lhe assenta tão bem quanto dizer que é pai. Pai de duas meninas. Ou melhor, de Anita, de 11 anos, e Aurora, de 4.

Piangers acaba de lançar a versão portuguesa do seu livro ‘Papai é Pop’ em Portugal. Por cá, a obra, que junta dois anos de crónicas sobre as suas duas filhas, intitula-se ‘O Pai é Top’. E este pai é mesmo ‘top’.

Antes de seguirmos, uma advertência: este é um texto que pode – e deve – ser partilhado com todos pais que conhece para um “descubra as diferenças”.

A aparência cool – barba comprida, camisa de ganga e sorriso rasgado – casa na perfeição com a boa disposição e o humor com que conversa. Mas assim que o assunto são as suas filhas e o seu papel como pai, o rosto ilumina-se ainda mais e a linguagem corporal alinha-se num só sentido: encanto.

Era suposto ter sido uma entrevista curta, mas foi impossível. O discurso de Piangers flui, sem cortes, e a conversa prolonga-se muito facilmente, sempre com muitas histórias, deliciosas, de Anita e Aurora pelo meio. Afinal, este pai é tão ‘top’ quanto ‘pop’ (o livro no Brasil foi publicado ao mesmo tempo que a versão ‘Mamãe é Rock’, escrito pela sua mulher, fazendo a comparação dos dois estilos de música com os distintos papeis assumidos pelo pai e pela mãe na sociedade) e a paixão que sente por assumir este papel há 11 anos revela-se em cada palavra que pronuncia.

Aqui damos-lhe a conhecer este pai, um comunicador nato que participa no programa de rádio brasileiro ‘Pretinho Básico’ e é ainda head digital da produtora brasileira Atlântida, destacando algumas partes da entrevista, onde irá encontrar várias reflexões que se distanciam dos clichés de pai.

Para acompanhar, juntámos-lhe vídeos, aqueles que receberam já milhões de visualizações e milhares de partilhas, e que ora fazem rir, ora emocionam. Convido, entretanto, a leitora a deliciar-se com a entrevista completa nas páginas de uma das próximas edições da LuxWOMAN.

Hoje (a entrevista foi feita dia 8 de março) é o Dia da Mulher. Já prestou alguma homenagem às mulheres da sua vida?

Sim, apesar de que, lá em casa, todos os dias são o Dia Internacional da Mulher. Acredito que este é um dia para nos lembrarmos como a sociedade é machista e como nós, homens, podemos ser melhores. É só um dia de lembrança, de reflexão, especialmente para os homens, porque todos os dias deveriam ser dias de luta pela igualdade de género, para que as mulheres ganhem o mesmo que os homens e quem sabe mais! Quando me virei para a Anita, a minha filha de 11 anos, e lhe disse: “Filha, o meu sonho é que um dia possas ganhar a mesma coisa que um homem”. Ela respondeu: “Não pai, eu quero ganhar muito mais”. Porque merece ganhar mais! Eu vejo na escola, na turma dela, as meninas são melhores a Matemática, Português, História, Geografia, têm o caderno mais bonito, a caligrafia mais interessante, as composições mais criativas, conversam mais, comunicam melhor… e depois alguma coisa se perde quando saem da escola e entram no mercado de trabalho. O meu maior medo é que as minhas filhas não sejam aquilo que elas podem ser. A minha briga é para que elas sejam o que quiserem. Não quero ser, ou que outro homem seja, limitador.

Considera, então, que a luta pelos direitos das mulheres é um assunto que também diz respeito aos homens?

Precisei de ter duas filhas para entender essa diferença de género. Com o passar dos anos, quanto mais olho para elas, mais vejo o quanto o mundo é desigual para as mulheres, e o quanto os homens recebem recados errados o tempo todo, de que não precisam de participar como pais…

Antes de ser pai não tinha tanta perceção disso?

Lamentavelmente não, não tinha. A minha mãe e a minha mulher foram-me mostrando, e as minhas filhas mostraram-me. E nesse sentido acho que sou muito egoísta, porque a minha busca é por um mundo mais igual para as minhas filhas, por mim! Nunca parei para pensar que a minha mãe sofreu muito e que a minha mulher sofre muito. Essa perceção só veio depois de ter duas filhas. Mas mesmo um homem que não tenha duas filhas deveria pensar nisso, porque teve mãe e tem namorada ou mulher e relaciona-se com mulheres. Então, peço desculpa, acho lamentável ter precisado de duas meninas para me mudarem a cabeça, a forma de pensar. Todos os homens deveriam fazer esta reflexão.

Na sua crónica “Os melhores pais do mundo” fala de uma “geração de pais com culpa”. Quais são os problemas dos pais de hoje? Quais são os maiores desafios da paternidade atualmente?

O pai não tem tempo para nada. E se não tem tempo, é um escravo: do trabalho, do dinheiro ou de alguém, como o chefe, sem tempo para a família. É importante o homem perceber que não é só um pagador de conta. Os arrependimentos no final da vida de um homem dizem respeito ao tempo que não passou com os filhos, com a sua mulher, com a família. Quanto mais cedo ele perceber isso, mais cedo se libertará e entenderá que quanto mais dinheiro tiver, mais dinheiro vai querer; quanto mais promoção e poder tiver na empresa, mais vai querer. Nunca é o suficiente, nunca vai chegará lá, nunca vai ficar rico. Nunca vai ficar rico! Isto é libertador, porque assim penso: ‘É verdade! Porque é que estou a trabalhar tanto!? Vou aproveitar a minha vida, vou trabalhar o suficiente para pagar as minhas contas, guardar algum dinheiro, cuidar do meu filho, ficar com ele. Ele não precisa de estar na melhor escola, ter outro carro. Posso ter uma vida simples e passar mais tempo com a minha família’.

Ter tempo é um luxo, quase inacessível, para muita gente!

É um luxo e um luxo não renovável. A roupa? Pode-se comprar outra. O dinheiro? Trabalhamos e ganhamos mais. O tempo que perdemos não volta, um aniversário que se perde de um filho, não se recupera; o dia em que o seu filho andou pela primeira vez e o pai ou a mãe não estavam lá, não se recupera. São coisas que não se recuperam. O dinheiro ou uma posição no trabalho, recuperam-se, e se não acontecer, não vai ser isso que nos fará chorar no final da vida. Parece-me que confundimos os valores, entrámos numa roda de produção económica que nos fez esquecer como é importante gastar um pouco de tempo a conversar, a jantar a olhar nos olhos um do outro, em vez de estarmos ao telemóvel…

A verdade é que vivemos num mundo totalmente marcado pelas novas tecnologias, como tudo o que isso tem de bom e de mau. Os vídeos, as redes sociais, os smartphones, tudo isso faz parte do dia a dia das crianças. Como encara a educação dos filhos nesta era tão digital?

Acho bem existir tecnologia, ela empurra a civilização para a frente, e acho maravilhoso que a minha filha tenha acesso ao Google e possa pesquisar coisas. A [filha] de quatro, no outro dia disse-me ‘vais procurar no Google?’ e eu respondi ‘mas tu sabes o que é o Google’ (risos). ‘Sim, eu sei que procuras no Google’, disse-me. É bom que o conhecimento esteja à disposição, eu com a idade delas tinha de procurar na enciclopédia. Ao mesmo tempo, acho que é importante o pai ser responsável pelo uso da tecnologia. Costumo dizer que a tecnologia é como o açúcar. Não é que seja ruim, a questão é que é muito bom! Se eu deixar, a minha filha almoça chocolate, gelado e vive em frente ao ecrã do computador, do iPad ou do iPhone. Mas é da responsabilidade do pai dizer-lhe que tem de comer carne, arroz e feijão, porque precisa de nutrientes. Da mesma forma acontece com a tecnologia, deixá-los ver um pouco de Youtube, mas dizer que é importante aprender línguas, escrever coisas ou, quem sabe, aprender a programar, e fazer-lhes entender que a tecnologia é uma ferramenta para sermos pessoas competitivas ou melhores no futuro. Mas também é muito importante o analógico, e neste mundo que todas as crianças estão ligadas ao digital, acho até que é um diferencial competitivo ter filhos que sabem fazer contas, escrever a lápis e gostam de entender a natureza, percecionar os cheiros, tocar nos animais. Porque, muitas vezes, a geração que está sempre a brincar com os videojogos não tem a habilidade de entender as coisas palpáveis, analógicas, do mundo real, ou até capacidades de sociabilização. Acho que as duas coisas são importantes e quanto à tecnologia, tem de ser usada com um pai ao lado, a monitorizar.

A primeira palestra que deu no TEDx (em baixo), onde falou pela primeira vez sobre a sua mãe ter sido abandonada pelo seu pai, ainda grávida, conta com milhares de visualizações. Quando subiu àquele palco, imaginou que iria ter essa repercussão?

Não! Estava muito nervoso. Sabia que pela primeira vez ia falar de coisas muito íntimas. O TEDx pede para falarmos 20 minutos e eu falei menos, porque fiquei muito nervoso, já entrei para o palco nervoso e saí de lá direto para a casa de banho, a chorar. O público foi muito carinhoso, na questão de ter participado naquela palestra com respeito, e depois nos comentários, nas partilhas. Fico muito agradecido. Acho que é uma mensagem que toca muitos pais, que faz com que muitos pais percebam que não estão tão presentes como poderiam. Há pais que abandonaram os filhos e que voltam a falar com eles, os que estão em casa mas não participam, passam a participar. E muitas mães abandonadas se identificam também.

As suas crónicas – e o livro (editado pela Planeta, €10,90) – são também uma forma de tentar combater esta realidade, de homens que não assumem a paternidade?

Não era. Mas as pessoas acabam por se apropriar destas mensagens para transformar o mundo. Acho isso lindo, porque são mensagens que, de facto, transformam o mundo, há pessoas que mudam a vida, que pedem a demissão, que passam a participar mais, que promovem mulheres, que passam mais tempo em casa…

É mesmo transformador!

Sim, e não é culpa minha, porque estou só a contar a minha experiência. É transformador porque as pessoas decidem usar essa ferramenta para transformar as suas próprias vidas. Não é o Marcos a falar, é uma mensagem que precisa de ser dita, que conta a verdade para as pessoas e elas decidem partilhar. É muito bonito ver as pessoas a participarem mais, as mulheres a sentirem-se mais abraçadas, valorizadas.

Que conselhos práticos daria a um futuro pai?

Quem ele tem de perceber que, o mundo diz-lhe que tem de trabalhar muito porque ter um filho é muito caro, mas isso não é verdade. Pode-se ter uma vida simples, com tempo dedicado ao filho. Aquilo que posso dizer a alguém que descobriu que vai ser pai é: ‘Vai dar tudo certo. Biliões de pessoas já nasceram no mundo e ninguém morreu por ter tido um filho. E se participar, a vida vai ser melhor. Será trabalhosa, desafiadora, cansativa, mas a vida vai ser melhor, porque a sua mulher terá mais tempo, os seus filhos serão mais felizes’. E não é o dinheiro que faz com que sejamos melhores pais, é o tempo que se dedica a esta missão.

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