O ‘Body Imagem Movement’, um projeto que pretende redefinir os ideais de beleza e incentivar as mulheres a amarem o seu corpo, teve início na Austrália pela mão de Taryn Brumfit e já tem uma embaixadora portuguesa.
Paula Cordeiro é investigadora e autora da plataforma online Urbanista, criada no início do ano, e juntou-se à causa porque quer “poder passar a palavra de que as mulheres são bonitas e de que o mais bonito da mulher está dentro dela”, revelou em entrevista ao Observador.
No Urbanista lê-se: “Acima de tudo, somos por aquilo em que acreditamos, sem medo de o revelar. E pelas mulheres. Para que gostem mais de si e umas das outras. Sem complexos. Ou olhares de reprovação”, acompanhado do hashtag #ihaveembraced.
Cada embaixadora do movimento espalhará a mensagem, tendo em vista também a construção de um documentário, intitulado ‘Embrace’, que visa produzir uma mudança global nos padrões de beleza. Por enquanto, só está disponível o trailer, apenas com a história de Taryn, mas a ideia é a de juntar a de muitas outras mulheres.
O ‘Body Imagem Movement’ surgiu há cerca de dois anos quando Taryn Brumfit percebeu a imagem negativa que estaria a passar à sua filha realizasse uma cirurgia plástica que ponderava fazer para se livrar do excesso de gordura na barriga.
Mesmo depois de cancelar a operação, Taryn optou por emagrecer e participar num concurso de culturismo para sentir o que era ter o corpo perfeito. E conseguiu. Mas não se sentiu mais feliz por isso.
Aceitando o seu corpo tal como ele era, Taryn avançou com o ‘Body Imagem Movement’ com o desejo de incentivar outras mulheres a serem mais positivas em relação à sua imagem.
Pode juntar-se ao projeto deixando o seu e-mail no site e acompanhar o desenvolvimento do movimento na página de Facebook e Twitter.
A propósito da autoimagem, a LuxWOMAN publicou uma reportagem em julho do ano passado que fala de toda esta realidade, incluindo o Body Imagem Movement.
A beleza vem de dentro
Por Mariana Cardoso
Quem é que tem culpa da imagem deformada que temos de nós próprias? A moda e a publicidade são sempre apontadas como as fontes dos nossos complexos em relação ao corpo, mas há mulheres que fogem à ditadura da ‘magreza é beleza’ e são lindas de morrer com corpos fartos. Porque é que umas vivem tão bem com o corpo que têm e outras não, apesar das modas?
No espelho, vejo uma rapariga mais gorda do que realmente sou. Estou a preparar-me para a apresentação da minha escola de dança para o Dia Mundial do Sapateado. Sinto-me desconfortável na minha pele, pelo simples facto de ter de usar minissaia e collants de rede. Estou constantemente a baixar a saia. Caio em mim e apercebo-me de que aquilo eu vejo não é o que os outros veem. Eu baixo constantemente a saia (e a minha autoestima), enquanto os outros veem uma mulher jovem e bonita, com curvas e (quase) tudo no sítio. “Estás ótima”, dizem-me as colegas de turma, mas eu não me sinto assim.
Eu era uma criança rechonchuda. Com o crescimento, a gordura esticou, mas o meu corpo nunca se transformou naquilo que eu idealizara.
Sempre admirei as mulheres que via nas capas das revistas e nas produções de moda, sempre foi meu desejo ser fisicamente como elas. Por mais dietas que fizesse, ou deixasse de fazer, atingir aquele corpo era, e é, impossível. Daí o meu complexo: nunca poder vestir-me de acordo com as tendências.
Por muito tempo, as peças de roupa largas foram as minhas melhores amigas, e a escolha baseava-se numa premissa muito simples: esconder, esconder e esconder toda a gordura. Quando comecei a ter aulas de dança, aos 13 anos, pensei que teria uma porta aberta para um corpo mais esbelto. Hoje, com 21, tenho aulas lado a lado com mulheres bonitas, emocionalmente fortes e, claro, fisicamente perfeitas. Isto, na verdade, alimentou os meus complexos.
Se calhar, estou a exagerar, porque afinal só visto o 40, mas há uma pergunta que passa constantemente na minha cabeça: porque é que a imagem veiculada pelos media é tão importante para mim? De onde é que vem esta ideia de que o meu corpo não é ‘perfeito’? Estará relacionada com a minha infância? Com o facto de ver a minha mãe, uma mulher maravilhosa, forte e, para mim, fisicamente perfeita, também com os seus próprios complexos? Ou estará mesmo relacionada com o mundo da moda? Quando fui à procura de respostas para as minhas perguntas, encontrei muito mais razões do que estava à espera, muitas delas surpreendentes.
Mulheres com curvas não são reais?
De certeza que já sentiu o mesmo ao ver a publicidade atual: tudo o que vê é ‘perfeito’, mas nada é real. Somos constantemente bombardeadas com imagens que nos dizem que a mulher ideal é jovem, tem 1,75 m, 55 kg, cabelo comprido liso, uma pele impecável e um corpo 100% tonificado, sem uma curva ou contracurva. Felizmente, nem todos pensam da mesma maneira.
São cada vez mais as vozes que se juntam contra a magreza excessiva das manequins ou o Photoshop exagerado nas fotografias. Um exemplo? A capa da revista norte-americana GQ de 2003, em que a foto da atriz Kate Winslet foi retocada de forma excessiva, de forma a parecer mais magra do que realmente era. Já este ano, a atriz viu-se envolta noutra polémica semelhante.
Este ano, estreará ‘A Perfect 14’ (em tradução livre, ‘Um 44 Perfeito’), um filme sobre modelos plus-size que lutam para singrar no mundo da moda e mudar os padrões de beleza da sociedade.
Foi a carreira da modelo canadiana Elly Mayday que inspirou Giovanna Vargas, a realizadora, e James Earl O’Brien, o produtor e editor, a criarem o documentário ‘A Perfect 14’: “O seu rápido progresso no mundo da moda como modelo plus-size inspirou-me muito. A indústria da moda tem dado tão pouco espaço às modelos mais curvilíneas que, como resultado, estas pessoas não se veem tão bonitas, sexy e glamorosas como qualquer outra modelo”, afirma Giovanna.