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E-book em papel

O Estranho Ano de Vanessa M.’ foi publicado em papel. O romance fez uma carreira independente na Amazon, e só depois do sucesso do primeiro livro de Filipa Fonseca Silva como e-book é que o segundo passou pela gráfica e chega agora às livrarias.

Em 2011, Filipa tinha escrito ‘Os Trinta – Nada É Como Sonhámos’. A história era próxima da realidade de tantos e tantos jovens adultos portugueses: a longa distância entre a vida que se sonhou e a vida que se tem de facto.

Entrevistámos a autora depois de o seu primeiro livro entrar para o Top 100 da Amazon e – metáforas para quê? – adorámos a escritora e todas as outras vertentes que nos foram dadas a conhecer.

Como surgiu a decisão de traduzir o livro para inglês?

Assim que me apercebi das dificuldades que um autor desconhecido tem para vender no mercado tradicional em Portugal, decidi fazê-lo. Os livros mal têm destaque, são substituídos por outros nas prateleiras das livrarias ao fim de um mês ou dois. As editoras não exportam os seus autores para outros mercados, a não ser aqueles que são best-sellers ou premiados. Decidi traduzir o livro para inglês e investir sozinha num mercado global, mais sofisticado, onde posso gerir a minha obra como entender.

Previa este sucesso?

Sinceramente, não previa entrar já no Top 100. Não só porque a concorrência é enorme e todos os dias são lançados milhares de novos títulos, mas porque tenho várias coisas a jogar contra o sucesso do livro: o meu nome, que claramente não é inglês, o título do livro, que pode afastar pessoas que acham que não devem lê-lo por não terem 30 anos, e o facto de ser uma edição independente. Pelos vistos, nada disso importou aos leitores estrangeiros.

Qual é a diferença face às vendas e à receção do texto em Portugal?

A diferença de vendas é abissal: vendi mais livros em seis meses na Amazon do que em dois anos em Portugal. O motivo é apenas um: falta de visibilidade nas livrarias portuguesas, porque as opiniões dos leitores, quer em Portugal quer no estrangeiro, têm sido fantásticas. Tive milhares de pessoas a enviarem-me e-mails e mensagens pelo Facebook a dizer que adoraram o livro.

Chegar aos 30 é agora igual em todas as culturas? Esta sensação de desilusão de que fala o livro não é exclusivamente portuguesa nem de um país em crise?

Os países onde mais vendi foram os EUA e o Reino Unido, o que veio confirmar as minhas suspeitas em relação ao tema: é transversal a várias culturas ocidentais. Toda a gente chega a uma fase da vida em que se confronta com a realidade versus as expectativas e os sonhos que tinha construído durante o início da vida adulta, quer em termos profissionais e materiais quer, sobretudo, em termos pessoais e amorosos.

Somos adultos aos 30, ou ainda não?

Penso que sim. Salvo raras exceções, é inevitável, na década dos 30 anos, assumirmos as rédeas da nossa vida e termos de nos desenvencilhar sozinhos.

‘O Estranho Ano de Vanessa M.’, recentemente publicado, é o seu segundo livro. Alterou alguma coisa no seu processo de escrita?

Nem por isso. Começo sempre por esboçar a história, para ter uma ideia do que vão ser o princípio, o meio e o fim. Depois, faço um género de árvore genealógica das personagens. A partir daí, começo a escrever.

Se o primeiro livro tinha por base a ideia de inevitabilidade da vida quotidiana, este explora a possibilidade de mudança de vida num instante. Acredita que é possível mudar tudo num segundo, na vida real?

Acredito e tenho visto isso acontecer, mas, para o fazer, é preciso uma grande dose de coragem.

Quais são as expectativas de vendas para este livro?

Espero que, no espaço de um ano, se venha a juntar a ‘Os 30’ no Top da Amazon. Se tiver em conta as opiniões positivas que os leitores têm deixado sobre o livro, é bem possível que isso aconteça.

Os seus livros são os dois muito próximos da realidade, do quotidiano. Porquê?

Porque a realidade ultrapassa sempre a ficção. Vejo e ouço histórias que parecem realmente tiradas de um livro. Por outro lado, gosto de criar histórias com as quais os leitores se identifiquem, que possam dizer “isto já me aconteceu” ou “podia ter acontecido comigo”.

A sua ocupação profissional principal é a publicidade, também muito próxima da realidade, ou não? É possível dizer que é a realidade que a inspira?

Sem dúvida. Como publicitária, tenho de estar sempre muito atenta às tendências, não só de consumo, mas também comportamentais. Ainda assim, busco muita inspiração na arte, na música e no cinema.

Isso quer dizer que quer mudar o mundo?

Adorava mudar o mundo! Sou uma acérrima ativista dos Direitos Humanos e lutadora por causas ambientais, mas não acho que os meus livros tenham esse poder. Se com eles conseguir inspirar as pessoas a refletirem sobre a sua realidade e a lutarem pelas coisas que as fazem felizes, já me dou por muito satisfeita.

O que é que a sua vida profissional tem da série ‘Mad Men’?

Nada! A vida numa agência de publicidade, hoje em dia, nada tem de glamoroso. É um trabalho cada vez menos criativo, pela pressão dos números e do tempo, e cada vez mais mal pago.

Quais foram as campanhas que mais gostou de conceber/escrever, etc.? Pode fazer publicidade…

Adorei trabalhar na campanha da Vodafone, no início da minha carreira, em 2004, e adorei fazer o primeiro filme para o Euromilhões, em Portugal, que era o de um homem a fazer mergulho, no meio de peixes e seres marinhos de todas as espécies e, quando vinha ao de cima, percebíamos que estava na sua própria piscina. Atualmente, tenho conseguido fazer peças que me deixam muito orgulhosa para a Super Bock.

Também escreve um blogue. Gosta mesmo de palavras? Porquê?

Sempre gostei. Antes de saber ler, já andava sempre de livros na mão, fingindo que estava a ler, muitas vezes com as folhas de pernas para o ar. Assim que aprendi a ler e a escrever, foi como descobrir o meu elemento natural. Finalmente, não só podia mergulhar em mundos fantásticos, como criá-los. Foi algo que sempre fiz e é a forma como melhor consigo expressar-me.

O blogue ‘Crónicas de uma Fashion Victim’ é hoje muito mais do que um blogue apenas sobre moda. Foi sempre assim?

Comecei a escrever no blogue em 2004. Criei-o com o intuito de falar sobre moda e tendências, mas, com o tempo, e após um interregno de quase quatro anos, decidi alargar o leque de temas e falar sobre tudo o que não cabe nos meus livros. Também aproveito para publicar alguns contos e textos mais literários, para dar a conhecer a minha vertente de escritora.

A moda continua a ter um papel relevante na sua vida.

Muito relevante! É uma paixão que tenho desde os 14 anos, quando surgiram as supermodels e os criadores que ofuscavam as próprias marcas. Desde então, as revistas de moda nunca mais deixaram de entrar na minha casa. Hoje, já não posso dedicar-lhe tanto tempo, mas ando sempre a par das tendências, mesmo nos dias em que tenho de trocar os stilletos por sabrinas, para poder correr atrás do meu filho.

Quais são os seus designers, marcas e criações de eleição?

A minha marca de eleição é, e sempre será, a Dior. Se pudesse, vestia Dior da cabeça aos pés, todos os dias da minha vida. Mas também adoro marcas como a Dolce & Gabbana, a Moschino e os meus queridos Storytailors, que fizeram o meu vestido de noiva. São marcas um pouco excêntricas, mas românticas e superfemininas. Para o dia a dia, vou misturando peças variadas sem olhar para marcas. Desde que sejam peças com alguma qualidade e com um ar diferente, uso. Quanto a criadores, o meu top 3 de sempre vai para Christian Dior, John Galliano e Marc Jacobs.

O cabelo curto é a sua imagem de marca?

Hoje em dia, talvez se tenha tornado uma imagem de marca, uma vez que já o uso assim bem curto há mais de cinco anos. Gosto do contraste entre o meu ar ultrafeminino e um corte mais duro e meio punk. Também é muito prático. Já usei o cabelo de todas as maneiras e feitios: pelas costas, pelo queixo, escadeado, com franja… A única coisa que nunca mudei foi a cor. Adoro ser morena.

A maternidade abriu-lhe um admirável mundo novo?

Sem dúvida. Embora eu tenha tido uma experiência muito grande com o mundo das crianças, graças à minha irmã, que é 12 anos mais nova que eu, a maternidade é todo um outro mundo. Ensina-nos muito sobre nós próprios.

Qual é a importância do amor na sua vida?

Para mim, o amor é tudo. Sou uma romântica incorrigível. Lembro-me de, na adolescência, ter escrito no meu diário que, se tivesse de escolher entre amor, dinheiro e sucesso, escolheria sempre o amor. Hoje, mantenho essa escolha. A família é o meu pilar. Não consigo ficar longe dela durante muito tempo.

Nasceu no Barreiro e cresceu por lá. Que memórias guarda da infância?

Nasci e vivi no Barreiro até aos 23 anos. É uma terra muito sui generis. Tem um lado muito urbano e industrial, mas não deixa de parecer uma aldeia onde todos se conhecem. Cresci num ambiente muito criativo: o meu pai teve uma banda rock quando era novo e boa música sempre foi algo que se ouviu lá em casa; a minha mãe ensinou-me o gosto pelos livros e fazia-me bonecas de papel e roupa para a Barbie; o meu avô paterno ofereceu-me a primeira tela e tintas de óleo… Sempre vimos muito cinema e visitámos muitos museus. Tive uma infância extremamente feliz, sempre rodeada dos meus irmãos e de muitos primos.

Agora vive em Lisboa.

Vivo no Parque das Nações desde 2005. Escolhemos esta zona da cidade porque nos apaixonámos pela sua contemporaneidade e pela fantástica qualidade de vida que proporciona. Sair de casa e estar a dois passos do rio é inigualável.

Tem planos ou vai deixar a vida correr?

Tenho inúmeros planos. Em 2014, conto publicar um livro de crónicas sobre a maternidade e um ou dois livros infantis que escrevi há uns anos, e começar a delinear o meu próximo romance.

Se quiser ler o primeiro capítulo do livro, poderá fazê-lo aqui.

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