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Musqueba: pela emancipação das mulheres

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‘Em Rede Contra a Mutilação Genital Feminina’ é um projeto iniciado em janeiro de 2015, uma parceria entre o Projeto Musqueba e o Centro Português de Estudos Árabe-Pulaar e Cultura Islâmica, na Reboleira.

O Projeto Musqueba foi formado para emancipar as mulheres guineenses através da alfabetização e do ensino de técnicas de agricultura, implementando o conceito no país de origem da sua fundadora, Filomena Djassi, a Guiné-Bissau. Mas as mulheres africanas que vivem em Portugal têm também necessidades de emancipação específicas, impossíveis de concretizar através da agricultura, mas possíveis pelas formação e capacitação para a vida em Portugal.

É dentro deste contexto que surgem as primeiras atividades do Projeto Musqueba em Portugal e é nessa mesma altura que surge a necessidade de falar na Mutilação Genital Feminina (MGF).

Diana Ferreira Lopes, jurista de 28 anos, é Cordenadora Juvenil e Project Manager Assistant na Associação para o Planeamento da Família e é a atual presidente do Projeto Musqueba. Encontro-me com ela, com Aissato Djaló, 38 anos, assistente administrativa na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, e Cadidjatu Baldé, 29 anos, licenciada em Relações Interancionais, também elas membros da direção do Projeto Musqueba e profundamente envolvidas na luta contra a MGF.

Quando lhes pergunto como é que se sentem hoje, respondem que se sentem também portuguesas. Diana e Aissato têm dupla nacionalidade – guineense e portuguesa, mas até Cadidjatu Baldé, que chegou a Lisboa para fazer a sua licenciatura, refere que, apesar de o seu sentimento pela Guiné ser insuperável, na verdade sente que tem muito de portuguesa também. Conta que quando regressa de férias à Guiné-Bissau, muitas vezes lhe dizem: “Isso são ideias de branca. Tu agora és portuguesa.” Que ideias são essas? Entre outras, a sua posição absolutamente contra a MGF.

Cadidjatu diz-me que foi a última mulher a quem o pai permitiu que fosse feito o fanado – como chamam ao corte dos genitais das mulheres na Guiné-Bissau. Tinha 4 anos quando foi levada para a tabanca da família (a terra dos antepassados) e entrou na comunidade, de pleno direito, depois de ser mutilada em conjunto com outras meninas.

Diz-me também que se lembra perfeitamente do dia em que o pai chegou a casa, anos mais tarde, e “parecia que tinha visto um espírito”, depois de ter ouvido um programa na rádio sobre os malefícios da MGF. Proibiu solenemente que mais meninas suas descendentes fossem levadas pelas mães ou pelas tias para sofrerem o corte da vulva. Mesmo assim, “a minha madrasta ainda ‘raptou’ uma filha do meu pai e fez-lhe o corte”.

Não é só nas aldeias remotas que estas práticas existem. Aissato Djaló, hoje assistente administrativa na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, foi levada em criança para a casa da avó. Foi ela, com duas tias e uma ‘especialista’, que lhe fizeram o fanado. Duas primas, mais ou menos da mesma idade, foram fechadas numa casa de banho, Aissato foi fechada noutra. Depois de ouvir os gritos das primas, viu as mulheres entrarem pela porta, agarrarem-na à força e cortarem-na. “Fiquei com um corte no clítoris, mas por acaso ficou inteiro. Tenho-o todo, mas com um corte. É que as coisas são feitas ao acaso, não há método, é como calhar.

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