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‘O Bom Caminho de Santiago’

Fausta Pereira publica este mês o seu primeiro livro. ‘Bom Caminho’ é sobre o Caminho de Santiago, o percurso físico e o interior, é sobre a descoberta do eu mais íntimo e sobre a alegria da simplicidade.

O lançamento é já esta quarta-feira, às 18h30, na Livraria Bertrand, no Chiado. A apresentação está a cargo de Laurinda Alves e Tiago Salazar.

Como é que nasceu este livro?

Enquanto preparava as minhas peregrinações, várias pessoas me fizeram perguntas que revelavam ou curiosidade em relação ao Caminho de Santiago ou receio. Havia quem gostasse de fazer o Caminho e não soubesse por onde começar, e outros que arranjavam argumentos para não o fazer, como o elevado número de dias para a peregrinação ou o pouco à-vontade com a condição física.

Escrevi o ‘Bom Caminho’ como se este livro fosse o último empurrão a todos os que já pensaram em fazer o Caminho de Santiago mas que nunca foram peregrinos e, portanto, não sabem como diminuir um número infinito de desassossegos. O livro fala das questões logísticas necessárias, pretende motivar à ação e depois relata uma parte do Caminho português, porque não é preciso começar em França e dispor de 30 dias para o percorrer. Podemos começar em Portugal, e o Porto, Valença do Minho e Tui são locais de saída frequentes.

Dedica um capítulo à preparação física necessária. O caminho não se faz caminhando?

A minha preparação foi maior na primeira peregrinação, quando fui de bicicleta. Senti essa necessidade porque a bicicleta não é um transporte que utilizo no meu dia a dia. Aliás, naquela altura, em 2011, a bicicleta estava arrumada há vários anos na cave, sem uso. Na segunda vez, a pé, não fiz qualquer preparação, mas ela é conveniente. Efetivamente, o Caminho faz-se caminhando, mas a preparação física permite-nos olhar para os quilómetros diários com mais otimismo.

Fala várias vezes da necessidade da lentidão do Caminho para alcançar estados meditativos. De regresso ao dia a dia, consegue manter essa capacidade de autofoco durante quanto tempo?

Tudo depende do ponto de partida do peregrino e da intensidade com que viveu o Caminho. Se ele vai de mente aberta e disponível, então a lentidão do Caminho interioriza-se. Para mim, e após as peregrinações, foi desconfortável voltar ao movimento da cidade, às conversas corridas das pessoas e aos horários a cumprir.

Mas, por outro lado, a minha resposta a estas situações era controlada, menos impulsiva, porque passei a ter um novo espaço interior que não queria que fosse incomodado, um espaço que me ajudou a fazer um discernimento mais apurado do que devia ou não preocupar-me. Ainda hoje mantenho esta espécie de autofoco, embora, confesso, uns dias mais aguçado do que outros.

Já fez mais vezes este Caminho ou está para fazer? Vai experimentar os outros caminhos de Santiago?

Fiz duas vezes o Caminho a partir de Valença do Minho, o segundo ponto de partida no Caminho português, depois da cidade do Porto, com maior frequência de peregrinos. Na primeira vez, fui de bicicleta; na segunda, a pé. O objetivo era aumentar a dificuldade e ter outro ponto de vista sobre um percurso já conhecido.

Respondo sem qualquer dúvida que vou voltar ao Caminho. Vou voltar a aumentar a dificuldade e os quilómetros e a diversificar a rota. Quero muito fazer o Caminho do litoral e o do interior. O do litoral está a despertar a curiosidade de muitos peregrinos e, em particular, oriundos de outros países, pela sua beleza, sempre junto à costa. O Caminho Francês desperta-me curiosidade, mas não faz parte dos meus planos no curto prazo, pelo menos, sem antes cumprir outros caminhos a partir de Portugal.

Talvez porque gosto muito deste país e sei que esta é uma forma diferente de conhecer o nosso território, de nos cruzarmos com as nossas gentes, de percebermos, com maior disponibilidade, a nossa diversidade. O Caminho entranha-se, sem qualquer dúvida. Não tanto porque se quer voltar à cidade de Santiago de Compostela, mas porque se quer repetir todo o processo.

Quem é o jovem que lhe empurra a bicicleta na subida de Brea Vella de Carnicouba?

Infelizmente, nunca mais o vi. Estou até convencida de que ele não era português. Não me dirigiu qualquer palavra, antes uma ordem através do movimento corporal. Este jovem é o exemplo perfeito do tipo de pessoas que nos marcam no Caminho, sobre as quais não conhecemos nada e sabemos que nunca mais voltaremos a ver.

No entanto, foram importantes naquele momento, mesmo sem se darem conta disso. Este jovem reforçou em mim a ideia de que, enquanto indivíduos, não vamos a lado nenhum se continuarmos a sentir pena de nós próprios. Há que seguir.

Quais são os seus planos?

Quero continuar a escrever, o que, tal como o Caminho, me obriga a tomar decisões, a criar prioridades, a abrandar, e a reforçar a confiança em mim.

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