

Em criança, sempre acompanhada de um pequeno rádio com microfone, era através da música que expressava as suas emoções. No entanto, profissionalmente, não fez dela a sua opção número um. Queria ser performer ou bailarina, por isso, frequentou do sétimo ao nono ano o Ensino Articulado de Dança – equivalente ao Conservatório- e, aos 16 anos, começou a frequentar o Chapitô. Durante esses anos, foi compondo por diversão e ia improvisando com amigos. Até que em 2019 lançou a sua primeira música e nunca mais parou: editou o EP “Jüradamor”, em maio de 2022, e já lançou dois temas de uma trilogia de singles colaborativos, que serão apresentados ao vivo, pela primeira vez, no Porto, Hard Club, a 21 de abril, e em Lisboa no Capitólio, a 29 de abril. Os bilhetes já se encontram disponíveis nos pontos de venda oficiais e em jura.pt.
De que forma é que a música surge na sua vida?
A música sempre esteve presente na minha vida. Sempre fui uma criança e uma bebé muito animada. Tinha um radiozinho com microfone e andava sempre com ele antes de falar. Além disso, o meu pai anda de mota e contou-me que quando eu andava com ele cantarolava e isso espantava-o. Ou seja, essa era a forma de expressar as minhas emoções.
Mas profissionalmente, era performer ou bailarina que queria ser?
Os meus pais não são músicos, mas sempre ouviram música e deram-me muitas asas para que pudesse fazer tudo aquilo que quisesse artisticamente. Achava que ia ser performer ou bailarina, esse era o caminho que estava a seguir. Fiz ballet quando era pequenina, depois fiz o articulado, que é equivalente ao Conservatório, do sétimo ao nono ano e, depois, fui para o Chapitô.
Claro que nunca parei de cantar, mas não era a minha intenção ser cantora ou compositora. Foi uma consequência de tudo o que aconteceu. Mas olho para trás e fico mesmo feliz pelo meu percurso, porque me deu valências bastante úteis para os dias de hoje. Por exemplo, o movimento dá-me liberdade para me expressar em cima do palco com as minhas canções e o circo traz outra vida que posso vir a acrescentar nos meus espetáculos. Tudo se complementa.

Créditos: Joanna Correia
O que é que mudou em 2019?
Nessa altura, gostava muito de improvisar em beats e melodias e depois começava a escrever canções. E entretanto, tinha feito uma música para a minha avó com o beat do Free Soul Beats e tinha esta urgência de que ela a ouvisse. E agora que falo nisto, percebo que teve mais impacto na minha carreira do que pensava. Porque a partir do momento em que consegui lançar a música a tempo de ela a ouvir, todas as conquistas eram feitas com esse objetivo.
Quais foram e são as suas referências e influências musicais?
Oiço muita coisa e variada. Passei de estilo em estilo. Houve uma altura em que só ouvia Reggae, Drum And Bass, Transe, R&B. Gosto de ouvir tudo e tudo tem um lugar. Mas a maior referência que tive, conheci quando andava no Chapitô, foi a Erykah Badu. Ela tornou-se na minha musa e referência. A liberdade e a forma como ela canta e se expressa… Uau.
Embora mais conhecida por Jüra, o seu nome é Joana Silva. Porquê a escolha de um nome artístico?
Como tudo o resto, isto vem tudo de um caminho que nada tinha a ver com a música, mas que depois fez todo o sentido.
Quando frequentei o Chapitô, foi uma altura da minha vida em que era mesmo muito criativa e muito livre. A escola dava-me liberdade e tudo valia, desde que explicasse o porquê de me querer expressar de certa maneira.
Chamo-me Joana e a minha alcunha, para os meus amigos, é Juka. Não me recordo de o porquê, mas estava a rabiscar e percebi que se juntasse as duas perninhas do K na minha alcunha se transformava num R e resultava em Jura. Nessa altura, mais ou menos em 2016, não tinha pensado nisso para nome artístico e apenas serviu para mudar o meu nome no Instagram. Mas fez todo o sentido, porque tudo o que faço é trabalhado com a verdade e com o que sinto. E isso é, mais ou menos, uma jura de amor pela vida e por tudo. Sinto que estava lá para mim.
O que também acontece com a minha maneira de escrever, que as pessoas têm imensa curiosidade e acham que é a minha forma de comunicar só com o meu público. Mas isso foi algo que eu criei entre 2015 e 2017 e aplico no meu dia a dia.

Créditos: Joanna Correia
O que é que a Jüra tem que a Joana Silva não tem?
Antes dizia que a Jüra e a Joana eram a mesma pessoa. Mas descobri que, sinceramente, o que nos difere é a minha disponibilidade social. Estamos todos numa fase e passámos todos por uma fase difícil, com a pandemia e com o que se passa no mundo, e cada vez sofremos mais com tudo e sempre me protegi muito como Joana. Como Jüra sou um bocadinho mais disponível e isso é bom para mim, porque me deixa mais comunicativa.
Quando escreve, no que é que se inspira?
É muito fácil. Na minha vida, no que me acontece, nos amores e desamores… Acho que todas as minhas canções são para alguém e são muito específicas de um momento e altura da minha vida. Podem ser sobre a relação com um amigo, ou de alguém de quem estou a gostar. A única música que eu escrevi sem ser para um elemento amoroso, foi para a minha avó e mesmo assim era sobre amor. Sou uma pessoa muito emocional, adoro o amor e acho que estamos cá para termos relações e nos ligarmos uns com os outros.

Créditos: Joanna Correia
Depois de “ameio” com a colaboração de Ícaro, seguiu-se “milagre” em colaboração com o produtor Blaeckfull. De onde é que surgiu a ideia de criar esta trilogia de singles colaborativos?
Esta trilogia foi um abrir de portas da minha casa para poder visitar outras. Sou eu a permitir-me fazer coisas que sinto sem pensar que tenho de seguir uma linha.
São três sonoridades muito diferentes, das quais gosto muito, e que podem chegar a pessoas diferentes. Além disso, fora o Free Soul Beats e o Miguel Ferrador, foram as primeiras colaborações que fiz.
Há um fio condutor entre elas?
Não. A ligação é ser improvável e serem colaborações.
Falando em colaborações, com quem é que gostava de colaborar?
Adorava fazer canções com a Iolanda, com o T-Rex e com o Slow J.
Lançou em maio de 2022 o EP “Jüradamor”, para quando é que podemos esperar um álbum?
Estou a trabalhar no álbum. Neste tempo, entre o EP e agora, tenho feito canções e tenho-me descoberto em várias sonoridades. A ideia é mostrar tudo o que temos feito e que temos guardado. E em setembro vou começar a fazer o álbum e juntar pessoas com quem me identifico.