A Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado (APEF) está a assinalar a Semana de Consciencialização para os Danos Relacionados com o Álcool, que decorre até hoje, dia 19 de novembro. A APEF alerta para o facto de os portugueses consumirem anualmente, em média, 12 litros de álcool, um dos registos mais elevados dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), assim como para as consequências que daí advém em termos de saúde, nomeadamente do fígado: fígado gordo, hepatite alcoólica e cirrose hepática.

Segundo dados do relatório do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), de 2019, que considera indivíduos a partir dos 15 anos, o consumo de álcool por parte dos jovens portugueses é elevado, uma vez que, em 2019, 84,5 por cento dos inquiridos, com 18 anos, 70,1 por cento, com 16 anos, e 37 por cento, com 14 anos, afirmou ter ingerido bebidas alcoólicas nos últimos 12 meses. O estudo demonstra também que o consumo de álcool é mais elevado por parte dos homens, com 19,4 litros de puro álcool per capita por ano, do que das mulheres, que consomem 5,6 litros.
Dr. José Presa
Números assustadores e preocupantes, que levam José Presa, presidente da APEF, a alertar para a importância de se falar não só das consequências indiretas do consumo de álcool, como acidentes de viação, mas também das consequências diretas, como doenças, internamentos e aumento da mortalidade em faixas etárias mais jovens.
“Nos Estados Unidos a mortalidade associada à doença hepática provocada pelo álcool é particularmente preocupante na faixa etária dos 25 aos 34 anos. Estamos a falar de perturbações do consumo de álcool. Estamos a falar de mortalidade”, alerta José Presa.
Portugal, à semelhança de muitos países, tem na sua cultura enraizado o consumo do álcool. E talvez esse seja um dos maiores entraves à redução. No entanto, medidas têm de ser tomadas e José Presa sugere ações de sensibilização nas escolas:
“Na minha opinião, a escola talvez seja o ponto fulcral de toda a resolução, num futuro, para nós ensinarmos às pessoas que o álcool consumido faz mal à saúde direta ou indireta”, afirma José. “Se eles começarem de trás a perceber que se beberem vão poder ter mais dificuldades de aprendizagem, acidentes de viação ou então, pior do que tudo, que podem ter doenças mais jovens”.
A facilidade de acesso ao consumo de bebidas alcoólicas é também um problema, que gera comportamentos aditivos e consequências cada vez mais graves. E a esperança média de vida vai desvanecendo pouco a pouco.
“É importante que a população adulta pense nos seus comportamentos a nível social e nas consequências que os mesmos trazem para a saúde; e que alerte os seus jovens para os riscos do consumo de bebidas alcoólicas. A ingestão excessiva e contínua de álcool pode conduzir a doença hepática alcoólica. Estas situações, quando não tratadas ou prevenidas, trazem consequências graves para a saúde e podem, até, levar à morte. Neste sentido, a nossa recomendação é de tolerância ZERO para o consumo de álcool.”, alerta José.
A sociedade tem um papel fulcral para o combate ao consumo de álcool em excesso e a chave para o problema é evitar. Como diz o ditado “Mais vale prevenir do que remediar”.