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Carla Cardoso: “É importante dar visibilidade às mulheres que trabalham e desenvolvem as suas carreiras na Ciência”

Celebrado no passado dia 11 de fevereiro, domingo, o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência foi estabelecido em 2015 pela Assembleia Geral das Nações Unidas com o objetivo de reconhecer e fomentar o papel das mulheres e meninas na ciência.

De acordo com dados de 2022 do Eurostat, aproximadamente 76 milhões das pessoas na União Europeia estão empregadas na área da Ciência e Tecnologia. Mais de metade são mulheres. Em Portugal, a situação avizinha-se mais positiva, com uma quota de mulheres de 53,6%, superior à média europeia de 52%.

No entanto, o mesmo já não se verifica quando se analisa especificamente o subgrupo de cientistas e engenheiros – um dos mais significativos da área da Ciência e Tecnologia, que representa 24% das pessoas empregadas. Neste subgrupo, a percentagem de mulheres desce para 41% em Portugal.

A tendência continua decrescente à medida que se avança nas posições hierárquicas, segundo o estudo She Figures 2021, o que sugere desafios específicos na progressão da carreira e uma sub-representação acentuada quando se trata de cargos de liderança.

Carla Cardoso,

Carla Cardoso, Diretora de Investigação e Desenvolvimento do Laboratório Crioestaminal

Carla Cardoso não consegue precisar o momento em que decidiu que queria seguir a área da ciência. Porém, afirma, com toda a certeza, que terá sido na escola. “Desde muito cedo percebi aquilo que mais gostava e as disciplinas que mais me fascinavam, e não só soube que era na Ciência, como a determinada altura percebi que mais em particular seria na Ciência ligada à área da saúde que teria uma carreira”, explica. Hoje, Diretora de Investigação e Desenvolvimento do Laboratório Crioestaminal, partilha com a LuxWoman a sua perspetiva sobre os desafios e sucessos enfrentados pelas mulheres nesta área, em especial em cargos de liderança.

Como surge a ciência na sua vida? 

Não consigo precisar o momento que determina essa “escolha” na minha vida, mas, com toda a certeza, foi na escola e sei que desde muito cedo percebi aquilo que mais gostava e as disciplinas que mais me fascinavam, e não só soube que era na Ciência, como a determinada altura percebi que mais em particular seria na Ciência ligada à área da saúde que teria uma carreira. E para isto, não tenho dúvidas, muito contribuíram os meus professores.

O que me levou a seguir esta carreira… ter chegado até aqui não foi o resultado de um plano bem definido. O que consegui foi sendo construído com pequenas escolhas que definiram o meu percurso profissional, escolhas estas que foram motivadas pelo meu interesse em estar ligada à investigação nas ciências da saúde.

Há ainda um longo caminho a ser feito no reconhecimento das mulheres na área das Ciências?

Honestamente, sinto que se evoluiu bastante, e em Portugal, são cada vez mais as mulheres que se distinguem na Ciência e que são reconhecidas pelo seu trabalho e pelas suas conquistas.

Falando da minha experiência, posso dizer que nos locais por onde fui passando, em Portugal e no estrangeiro, senti sempre um grande equilíbrio entre homens e mulheres, desde o número de investigadores que pertenciam aos grupos que integrei, às lideranças, às competências dos envolvidos… nunca senti que houvesse diferenças entre géneros em nenhum aspeto.

Atualmente, na Crioestaminal, faço parte de uma equipa composta maioritariamente por mulheres, numa área da Ciência dedicada às Terapias Celulares, que visa no seu dia a dia poder proporcionar opções de tratamento baseadas em medicamentos inovadores em que as células são o componente ativo.

Que desafios enfrentam as mulheres nesta área?

À semelhança do que acontece noutras áreas, também nesta se assiste ao difícil equilíbrio das mulheres entre a vida familiar e uma carreira (científica) que, reconheço que ainda nos dias de hoje, continua a ser mais desafiante para as mulheres conciliarem.

Para além disso, nesta área, muitas pessoas, e neste caso não falo só de mulheres, vivem muitas vezes na incerteza e na precariedade, vivendo muitos anos sem um vínculo profissional à Instituição onde trabalham ou desenvolvem a sua investigação, e por isso com grande incerteza sobre o seu futuro profissional. E isso não ajuda nada.

E no seu caso, em que lidera?

Eu devo dizer que nunca senti que por ser mulher tivesse sido prejudicada, mas também não considero que por isso tivesse sido favorecida. O que fui alcançando foi resultado do trabalho e dedicação a tudo aquilo a que me envolvi. Tenho sempre conseguido as condições para poder desenvolver aquilo a que me tenho proposto. Acredito que não é o género que define aquilo que somos capazes de alcançar, essa é só uma das nossas facetas, há muito mais que podemos colocar naquilo que fazemos.

O que tem de mudar?

No nosso país sinto que, de um modo geral, há uma grande participação das mulheres na Ciência, mas ainda assim acredito que são necessárias políticas que promovam a igualdade de oportunidades e iniciativas que incentivem as mulheres a prosseguirem carreiras científicas.

O facto de se celebrar, desde 2015, o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência ajuda a dar visibilidade ao papel das mulheres nesta área, e isso pode influenciar outras nas suas escolhas.

É importante dar visibilidade às mulheres que trabalham e desenvolvem as suas carreiras na Ciência. E esta iniciativa é ótima para encorajar as gerações mais novas a terem carreiras científicas e tecnológicas.

Como se pode incentivar as meninas a seguirem esta carreira?

Talvez esta seja também uma questão cultural, mas penso que o que pode e deve ser feito é fazer-lhes perceber que se elas quiserem, conseguem.

Acho que as meninas devem ser incentivadas a esforçar-se por aquilo que elas quiserem ser e se for na Ciência, elas terão tantas capacidades como os meninos para terem uma carreira nesta área.

A propósito do Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, assinalado no passado domingo, que mensagem gostaria de deixar?

Dizer a todas as Mulheres e Meninas que se querem dedicar à Ciência, que persigam esse sonho, que não desistam daquilo em que acreditam, às vezes é mesmo preciso ser muito persistente e resiliente para ultrapassar obstáculos e atingir objetivos.

Devem dar o seu melhor no dia a dia, e o seu trabalho deve ser pautado pela honestidade e pela partilha, e as recompensas e o reconhecimento hão de surgir.

Na Ciência, como em outras áreas, é muito importante ter diversidade e ter homens e mulheres com modos diferentes de pensar é muito enriquecedor. Considero que a diversidade nas equipas, incluindo de género, é um fator muito importante para o sucesso.

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