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Carolina Piteira: “Não há dias sem inspiração”

Enquanto mulher, quantas vezes foi alvo de comentários e questões desconfortáveis e intrusivas sobre a sua personalidade, profissionalismo e aparência? “Know Your Place / No Teu Lugar” é o título da mais recente exposição de Carolina Piteira, que reflete sobre as expectativas e responsabilidades frequentemente impostas às mulheres. A mostra composta por 21 obras de pintura e colagem, que conta com curadoria e textos de Inês Pinto e Sousa, está em exibição no número 48 da Rua Nova do Almada, no Chiado, até dia 10 de setembro. Visitámos a exposição e estivemos à conversa com a artista plástica. 

Qual foi o mote para a exposição “Know Your Place / No Teu Lugar”?

A exposição começou com a obra “When do you stop making babies and start making art again?”. Esta surgiu depois de um comentário pouco simpático feito por um colecionador num momento em que eu estava com uma exposição individual. Resumidamente, este apercebeu-se de que eu tinha dois bebés, pois no final da visita guiada peguei na minha filha de dois meses, e perguntou-me “Então quando é que a Carolina pára de ter filhos e volta a trabalhar?”. Eu senti que esse comentário não era apropriado para aquele momento e deixou-me triste, tendo em conta que eu tinha acabado de encher o Museu da Eletricidade sozinha e tinha estado, pelo menos, 6 meses a trabalhar intensamente. Como essa foi uma questão que me carregou muito nos ombros e cada vez que vinha para o atelier não me esquecia disso, pintei este quadro e surgiu quase como uma terapia. Colocar isto em tela soube-me tão bem, que eu passei para outras perguntas que me fizeram profissionalmente só por ser mulher.

Quadro “When do you stop making babies and start making art again?”

Quadro “When do you stop making babies and start making art again?”

Além da obra que deu mote à exposição, que outras destaca nesta exposição?

As que me tocam mais são, obviamente, os potes“Don’t think you’re going to sell any paintings because of your beautiful eyes”, “Your problem is your success” e “So, what does your husband do for a living?” -, porque são perguntas que me foram feitas diretamente a mim. Depois, pinturas que eu sinto que são especiais, é a primeira, que trouxe toda a narrativa e que me permitiu construir esta história, e a última, que fecha a exposição, porque, para além de me dar muita paz, acho muito poética a ideia de que temos de desaparecer para nos encontrarmos. Ou seja, o nosso lugar não é num sítio físico, é em nós. Nós temos de nos encontrar cá dentro.

Quadro "So, what does your husband do"

Quadro “So, what does your husband do for a living?

Durante a exposição, viajamos por retratos de diferentes mulheres que trazem consigo representações do peso das responsabilidades, expectativas e pressões sociais; mas que, ao longo da narrativa, vão transmitindo uma sensação de libertação, que simboliza a esperança de um novo começo. Os quadros foram pintados desta forma sequencial?

Sim! A primeira foi mesmo a primeira e a última foi mesmo a última a ser pintada. O caminho que fazemos durante a exposição, está na ordem pela qual pintei as obras. Eu não tinha a narrativa no início e foi acontecendo. Aliás, foi uma terapeuta que me disse para tirar os pesos das minhas mulheres. Então eu comecei a tirar-lhes a cor, a vesti-las de branco e a tirar-lhes os pesos de cima, que era uma coisa que eu tinha de fazer comigo.

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Carolina Piteira no seu atelier

Desde a infância que a arte faz parte da sua vida? Como é que tudo começou? 

Desde sempre. Quando tinha 9 anos sofri um acidente muito grande. Cai de uma claraboia com 7 metros de altura e parti tudo e mais alguma coisa. Isto fez com que tivesse de ficar muitos meses deitada na minha cama e a única coisa que conseguia fazer era pintar. Comecei por desenhar tudo o que via no meu quarto e depois, quando já tinha pintado tudo o que possas imaginar, comecei a imaginar o que estava para lá da minha janela no canto do quarto e a desenhar mundos novos. É extraordinário como a criatividade me ajudou quando eu tinha apenas 9 anos e me mostrou que eu conseguia ver para além daquilo que estava à minha frente. Desde esse momento, que nunca mais parei e nunca tive dúvidas de que era isto que eu queria fazer. Sempre senti que este era o meu futuro.

Quadro "A space for hope to grow III"

Quadro “A space for hope to grow III”

Como é que funciona o seu processo criativo? 

Vai mudando, mas sou sempre restrita com os horários e tento sempre fazer os mesmos. Chego cedo de manhã e saio ao final do dia pelas 17h30 / 18h para ir buscar os meus filhos. Não há dias sem inspiração, isso não existe. Tenho de estar sempre a pintar. Claro que há trabalho que corre mal e vai “fora”, ou seja pinto por cima. Mas não me posso dar a esse luxo e é um trabalho igual aos outros. 

Quais são, neste momento, os seus sonhos a nível profissional? 

Eu quero continuar a ser feliz a fazer aquilo que eu faço. Para mim é o mais importante.

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