Depois de passar por 17 países, Christina Oiticica expõe pela primeira vez em Portugal e não esconde a satisfação: “Conheço Portugal quase todo. Já fui muitas vezes ao país. E há muito tempo que queria ter uma exposição para o público português”. “Fauna e Flora”, uma mostra em parceria com o americano Blake Jamieson, está disponível no Palácio Biester, na Luka Art Gallery, em Sintra, até 17 de agosto.
Christina Oiticica e Blake Jamieson. @Chris_Heeney
Em 2003, ao pintar uma tela de 10 metros numa floresta, Christina Oiticica viu a natureza a intervir: “Estávamos a morar num hotel, eu tinha uma exposição em Paris e precisava de trabalhar. Era complicado trabalhar no quarto porque ficava tudo sujo, com cheiro a tinta. E eu recebi uma tela de 10 metros e decidi pintar na floresta. Deixei o quadro lá para secar e caíu uma folha, depois um inseto”, conta.
Primeiro ficou chateada pois achava que estavam a estragar a sua obra. Depois abraçou a ideia. A partir daí, a artista plástica desenvolveu uma técnica em que permite que a natureza aja sobre as suas criações. “Essa tela de 10 metros, que era um rolo, fui desenrolando a cada estação ao longo de um ano e criei a obra que chamei de “Quatro estações”. Eu ia pintando e enterrando. A partir daí, explorei outros espaços para manter esta parceria com a natureza”, revela a artista, que já levou a experiências a vários cantos do mundo, como à Amazónia, ao Japão, à Índia, ao Rio de Janeiro, a uma aldeia indígena na Bahia e, atém no Caminho de Santiago de Compostela.
Obras enterradas
Se visitar a exposição “Fauna e Flora”, vai poder ver o resultado de um processo de intervenção da natureza que durou nove meses: “A nossa proposta foi deixar por nove meses porque é o período de uma gestação. E depois disso, vimos a semente crescer sobre a nossa obra”, explica a artista. Durante este tempo, os quadros feitos em parceria com Blake ficaram enterrados em Monthey, na Suíça, onde a brasileira reside. A técnica chama-se Land Art e foi criada nos anos 1960.
