Segundo os dados de 2020 do Global Cancer Observatory (Observatório Global do Cancro), da Organização Mundial de Saúde, são registados cerca de 2.300 novos casos por ano de linfomas. De entre os cancros que se desenvolvem no sistema linfático, o Linfoma não Hodgkin ocupa o sétimo lugar na tabela de cancros mais frequentes em Portugal.
Este domingo, dia 15 de setembro, é assinalado o Dia Mundial do Linfoma. Com o objetivo de sensibilizar para este tumor do sistema linfático, que embora não seja desconhecido não é tão mencionado como os outros, estivemos à conversa com Maria Gomes da Silva, Diretora do Serviço de Hematologia Clínica do Instituto Português de Oncologia de Lisboa.
Maria Gomes da Silva, Diretora do Serviço de Hematologia Clínica do Instituto Português de Oncologia de Lisboa. Créditos: Courtesy Janssen Biotech Todd Buchanan/MedMeetingImages.com 2022
O que é o Linfoma não Hodgkin?
Os linfomas são tumores do sistema imunitário, mais precisamente tumores de linfócitos. Os linfócitos são um tipo particular de glóbulos brancos que circulam no sangue e na linfa e permanecem também nos órgãos linfoides, como os gânglios linfáticos. Quando ocorre a transformação maligna dos linfócitos, a regulação de processos críticos na vida destas células (como a multiplicação e a morte celular ) é perturbada, o que leva a que se acumulem e não sejam destruídos. O Linfoma não Hodgkin, o tumor hematológico mais frequente, é uma entidade muito heterogénea – ou seja compreende dezenas de subtipos diferentes
Como se manifesta?
Também as manifestações desta doença são extremamente variadas e pouco específicas. Contudo, a mais frequente é o aumento de volume dos gânglios linfáticos quer superficiais (caso em que se tornam palpáveis), quer profundos (levando por vezes a sintomas de compressão). Pode ocorrer febre, perda de peso, sudação abundante e fadiga, mais uma vez queixas que ocorrem em muitas outras situações também. Os linfomas podem afetar outros órgãos para além dos gânglios e nesses casos as manifestações muitas vezes relacionam-se com o órgão envolvido.
Quais as faixas etárias mais afetadas?
De forma geral os linfomas aumentam de incidência com a idade. Alguns subtipos, raros, têm maior incidência em idades jovens.
Segundo mostram os dados de 2020 do Global Cancer Observatory (Observatório Global do Cancro), da Organização Mundial de Saúde, surgem cerca de 2.300 novos casos por ano. A que se deve este aumento de casos?
A incidência dos linfomas aumentou regularmente nas últimas décadas do século XX e, globalmente, estabilizou depois disso. Desde dessa altura têm-se registado aumentos de incidência de alguns subtipos específicos de linfoma. Os motivos são desconhecidos e em parte estas variações relacionam-se com uma maior e melhor capacidade diagnóstica e com um registo mais exaustivo das doenças. Outras causas têm sido postuladas mas não estão demonstradas. Não há dados que permitam considerar que a incidência está a aumentar em Portugal.
A tendência é que continue a aumentar?
Parece-me expectável que sim, se se mantiverem as causas para esse aumento. Contudo, essa afirmação é puramente especulativa.
Há formas de prevenção desta doença?
Infelizmente, como a causa da maioria dos linfomas não Hodgkin é desconhecida, não é possível recomendar nenhuma estratégia de prevenção da doença. A atenção a sinais e sintomas como os referidos acima e um acompanhamento médico regular podem permitir um diagnóstico precoce, o que pode ser importante nalguns subtipos de linfoma.
Quais as opções de tratamento?
As opções de tratamento são múltiplas, até porque falamos de muitas doenças diferentes. De forma geral passam pela quimioterapia e imunoterapia na primeira linha terapêutica. A radioterapia, por si só, tem um papel limitado no tratamento dos linfomas não Hodgkin. Nos doentes em quem a doença reaparece estão hoje em dia disponíveis outras opções que passam pelo uso de agentes (em geral pequenas moléculas) dirigidos, anticorpos monoclonais acoplados ou não a medicamentos, imunomoduladores, terapias celulares, etc.
Este é ainda um tipo de cancro desconhecido? Porque é que é importante sensibilizar as pessoas?
Não se pode dizer que seja um tipo de cancro desconhecido. As décadas recentes têm visto progressos impressionantes em termos do conhecimento sobre os mecanismos e a biologia dos linfomas, e desenvolvimentos muito significativos em novas terapêuticas eficazes. É contudo um tumor talvez menos conhecido do que outros, mais frequentes, pelo que todas as ações de sensibilização das pessoas e da sociedade são importantes. O conhecimento contribui para diminuir os medos! O aumento da literacia leva a uma maior familiarização com esta entidade, à desmistificação de conceitos e convida à participação ativa de todos na luta contra a doença.