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És mulher num cargo de liderança? Aposto que já te fizeram estas perguntas (que nunca fariam a um homem)

Um artigo de opinião de Rita Maria Nunes, Country Manager da The Alternative Board (TAB) em Portugal

O Dia da Mulher tem um sabor agridoce. Se por um lado deveria ser um momento de celebração pelas conquistas das mulheres no mundo corporativo e no mercado de trabalho, por outro, enquanto este dia existir e tiver de ser lembrado, muito há ainda a fazer.

Para muitas mulheres em cargos de liderança, este dia é um lembrete importante de todas as barreiras invisíveis que ainda existem, e que, por muito que se fale em progresso, as mulheres continuam a enfrentar desafios que os homens não vivem e muitos nem sequer imaginam ser real.

E se não acreditas no que te falo, desafio-te a fazer este exercício. Lê as seguintes perguntas e imagina que estás a colocá-las a um homem. Como consegues equilibrar o trabalho com a vida familiar? Não tens medo de parecer demasiado agressiva? Tens a certeza de que estás preparada para este desafio? Como é que chegaste até aqui? És a favor das quotas para homens? E quando decidires ter filhos, como vais fazer com a tua carreira? Como é ser um homem e estar à frente da liderança de uma empresa/departamento?

Tudo isto parece um pouco absurdo, mas são estas as perguntas com que as mulheres se deparam diariamente, e que jamais seriam feitas a um homem, de tal forma que é quase ridicularizado sequer pensarmos nestas questões.

É comum que mulheres em posições de liderança sejam submetidas a um escrutínio mais intenso em relação às suas competências. Enquanto um homem é frequentemente presumido como alguém competente até prova em contrário, uma mulher precisa constantemente de provar o seu valor para ser levada a sério. Ou seja, uma mulher é incompetente até provar o contrário e só chegou ao cargo porque teve ajudas ou para cumprir uma quota. Essa disparidade cria um ambiente onde as líderes femininas sentem a necessidade de se esforçar mais para obter o mesmo reconhecimento que os seus pares masculinos.

Ninguém pergunta a um homem se ele apoia “quotas para homens” quando vê uma sala de reuniões cheia deles. Mas quando uma mulher chega a um cargo de topo, há sempre alguém pronto a questionar se foi mérito ou se foi um benefício das políticas de diversidade. A liderança masculina foi durante séculos dominada por redes de contactos e favoritismos, mas só agora, quando as mulheres começam a ocupar espaço na liderança, é que o conceito de mérito se tornou de facto importante.

Estereótipos de género profundamente enraizados influenciam a perceção das mulheres líderes. Características como assertividade e firmeza, valorizadas em líderes masculinos, são frequentemente vistas de forma negativa quando exibidas por mulheres, sendo que estas são rotuladas como agressivas, insensíveis ou de feitio difícil. A verdade é que a liderança masculina já vem com um estatuto automático de autoridade.

Por outro lado, comportamentos colaborativos ou empáticos podem ser interpretados como falta de autoridade. Esta dualidade coloca as mulheres numa posição muito delicada, onde qualquer ação que uma mulher tenha tem sempre dupla interpretação e nenhuma delas é positiva.

Mulheres em cargos de liderança frequentemente enfrentam questões sobre como equilibram as suas responsabilidades profissionais com a vida pessoal, especialmente no que diz respeito à maternidade. Perguntas sobre quem cuida dos filhos ou como gerem o lar são comuns, refletindo a expectativa social de que a mulher deve priorizar a família. Se um CEO homem tem filhos, ninguém se questiona sobre como ele gere a sua vida pessoal. Ninguém pré assume que ele deve sair mais cedo para ir buscar os miúdos à escola.

Já para não falar de uma questão que assombra as mulheres entre os 25 e os 40 anos que tem a ambição de crescer na sua carreira profissional. A maternidade continua a ser vista como um obstáculo à liderança feminina, enquanto a paternidade é quase irrelevante na equação profissional dos homens. E muitas mulheres que até optam por não ter filhos, um direito absolutamente válido, têm na mesma de lidar com a pergunta sobre a decisão de serem ou não mães. Ninguém pergunta a um homem se ele quer ter filhos e como é que isso vai influenciar a sua carreira. E isto não é teoria. É um facto!

 A pergunta que mais adoro, no mau sentido, obviamente é: Como é ser mulher num cargo de liderança? Isto nunca é questionado a um homem. Para mim não se trata de como é ser “mulher” ou “homem”. Trata-se sim de: “Como é para ti estar num cargo de liderança?” sem significância ao género. Perguntar a uma mulher como é liderar sendo mulher é, de certa forma, reafirmar a ideia de que a liderança tem um padrão masculino – e que ela, por ser mulher, está a fazer algo “diferente”.

O problema nunca foram as perguntas, mas a perspetiva das mesmas. Não é a curiosidade, nem sequer o tom com que são feitas. O problema é o que está por trás delas: a suposição de que a liderança feminina ainda é uma exceção, algo raro, algo que precisa de ser explicado. E o verdadeiro desafio não é que parem de fazer estas perguntas. O verdadeiro desafio é criar um mundo onde nenhuma destas perguntas faça sentido.

Enquanto uma mulher líder tiver de responder a questões que nunca seriam feitas a um homem na mesma posição, o caminho ainda não está terminado. E é por isso que o Dia da Mulher não é só sobre flores e elogios. É sobre continuar a desafiar estas narrativas e mudar a forma como vemos a liderança.

Porque a verdadeira igualdade não é quando as mulheres podem liderar – é quando ninguém se surpreende com isso.


Artigo de Opinião de Rita Maria Nunes

Country Manager da The Alternative Board (TAB) em Portugal

Foto RMN

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