Os olhos são os primeiros a comer, depois é que a boca serve de juíza e sentencia se a comida é, ou não, do nosso agrado e se corresponde às expectativas. No Le Bleu do Chef Kiko Martins, não é diferente. Os olhos, ludibriados, fazem juízos de valor assim que os pratos chegam à mesa. Não tardam em dar sentido ao que veem. Porém, é a boca – e a detalhada explicação do chef – que desvenda os segredos de cada prato. De repente, o arroz do nigiri é substituído por um marshmallow cuja base é um caldo de dashi e, no risotto, o arroz vem estufado numa salada e o aipo é que faz o seu papel no prato. Vamos conhecê-lo?
O prédio art déco, em Campo de Ourique, é o anfitrião do Le Bleu, aberto desde julho de 2024. Antigamente, nesta esquina, estava instalado um talho conhecido de grande parte dos moradores do bairro que Kiko Martins, inspirado pelo Atlântico e com a ajuda do arquiteto João Louro, transformou numa alegoria sutil ao mar em tons de branco e azul.
O arquiteto João Louro foi o responsável pela decoração do espaço
Com o mote “nem tudo é aquilo que parece”, no restaurante só se servem pratos de “peixe e marisco, mas de uma forma mais criativa e divertida”, explica o chef. Depois de muitas horas de testes e vários meses de afinação até chegar ao resultado desejado, o menu apresenta ingredientes, combinações e técnicas mais elaborados, com os quais, na sua grande maioria, Kiko Martins nunca tinha trabalhado antes.
A LuxWoman teve a oportunidade de se aventurar neste que é o restaurante mais experimental do chef e partilha consigo a experiência. Para começar a refeição, antes do couvert, chegou-nos à mesa um pequeno amuse-bouche, cortesia do Le Bleu, de cavala marinada sobre uma base gelada que se come à mão. E, atenção, não demore muito tempo a apreciá-lo que pode derreter. Segue-se, então, o couvert, uns gougères de queijo Comté e espargos para molhar num dip de anchovas.
O Couvert Le Bleu
Nas entradas, em estilo finger food, provámos umas deliciosas ostras da Ria Formosa, onde até a “casca”, feita de pó de ostra desidratada e manteiga, é comestível. Estas são ainda envoltas em creme e espuma de ostras com chalota e um final picante devido ao uso de jalapenhos. O nigiri de lírio, que em vez de arroz vem montado num marshmallow cuja base é um caldo de dashi, foi um dos pratos que mais “gozo e muitas dores de cabeça” deu ao chef. Em causa estava fazer um “marshmallow que não fosse doce, mas sim salgado, e que tivesse elementos de mar”, explica Kiko Martins.
Nigiri de lírio e marshmallow
O bacalhau à Brás, que ainda entra na parte das entradas, foi surpreendente. Deixando de lado o aspeto tradicional, esta iguaria da gastronomia portuguesa é, no Le Bleu, apresentada num rolo de batata, recheado com bacalhau. Leva, ainda, azeitona desidratada, gema de ovo por cima e pickles.
Bacalhau à Brás
Inspirado pelo chef brasileiro Rodrigo Oliveira, que em 2023 partilhou a cozinha com Kiko Martins no restaurante Talho, o chef criou a entrada gamba do Algarve sobre um dado de tapioca, cozinhada numa bisque de marisco, e cuja espinha é comestível.
Gamba do Algarve com tapioca crocante
Já nos pratos principais, temos dificuldades em eleger o favorito entre os dois que experimentámos. O primeiro, um Risotto de Black Cod e Aipo, mas onde o arroz está estufado numa salada à parte e o aipo faz o seu papel no prato. O segundo, Polvo e Enguia no Carvão, chega-nos à mesa com um aroma incrível a fumado. No prato, tudo se come, até as cinzas, que são feitas com arroz desidratado, e o carvão, feito com cherovia cozinhada em tinta de choco.
Por fim, mas não menos importante, adoçámos o paladar com uma mousse de crème fraîche e granizado de romã, muito fresca e delicada, cujo segredo está num véu e numa salada de espargos brancos.
O bar do Le Bleu
Mas nem só de comida se faz o Le Bleu. As bebidas, principalmente os cocktails, dão continuidade ao mote da casa. Todos desenvolvidos com “muita dedicação” por parte da equipa, há que experimentar o Bianconi, um Negroni branco com tequila em vez de gin, ou o Fluffy Mary uma versão do Bloody Mary que leva espuma de ostras.
O Le Bleu está aberto de terça a quinta apenas aos jantares, das 19h às 23. Já às sextas e sábados está aberto ao almoço, das 12h às 15h30, e ao jantar, das 19h às 23h. Aos domingos e segundas está encerrado. As reservas podem ser feitas através do site, em lebleu.pt.