Artigo de Opinião de Bárbara de Sousa Alvarado, Growth Marketeer da Bloq.it.
Bárbara de Sousa Alvarado
O lugar da mulher é onde ela quiser, mas será também na área tecnológica? Segundo a Eurostat, em 2020, a percentagem de mulheres que trabalhavam e tinham formação no setor da Tecnologias da Informação era 19%, sendo ainda muito inferior, quando comparada com o número de homens em IT.
É certo, este é ainda hoje um setor predominantemente dominado por homens, o que impacta em muito o seu desenvolvimento e inovação, bem como o funcionamento das empresas. O facto de as mulheres serem ainda minoritárias nestas organizações revela-se até nos produtos desenvolvidos para os consumidores. As ferramentas digitais são construídas e idealizadas à medida dos homens, já que resultam maioritariamente da sua perspetiva e visão, mesmo tendo como objetivo serem também utilizadas por milhões de mulheres espalhadas por todo o mundo.
Mas porquê esta desigualdade no setor? É preciso recuarmos e refletirmos sobre valores familiares e culturais. Desde tenra idade, as raparigas são levadas a terem primeiramente contacto com brinquedos que estimulem a sua criatividade e soft skills, já os rapazes recebem os seus primeiros aparelhos digitais, como as consolas ou computadores. Logo aqui, os segundos têm maior contacto com o mundo tecnológico, sendo impulsionados a aprofundar este interesse ao longo do seu crescimento. A isto, junta-se a visão dos próprios pais no que respeita ao futuro dos filhos. No que toca às meninas, a perspetiva é, muitas vezes, que sejam, por exemplo, professoras ou enfermeiras. Por outro lado, vêm que os filhos poderão agarrar uma carreira como engenheiros ou médicos. Logo neste ponto, direcionam-se os jovens rapazes para as áreas da lógica, como a tecnologia, e as mulheres são identificadas para funções que precisam maioritariamente de competências humanas.
Estas razões podem estar entre as várias que ainda colocam as mulheres em desvantagem numérica nos diversos cursos TIC, uma tendência que é preciso contrariar para que estejam cada vez mais presentes nas empresas e no ecossistema tecnológico. Para isto, é preciso haver um de todos: mulheres, homens, bem como das empresas e deste ecossistema inovador.
Acredito que enquanto mulheres nos devemos impor desde cedo para explorarmos tudo o que é digital e tecnológico. Tentar contrariar o que é “socialmente” mais correto para uns ou outros – se a área tecnológica nos apaixona, devemos sair da zona de conforto e não ter medo de fazer um percurso diferente das nossas mães, irmãs ou avós.
Do lado das empresas, considero fundamental que percebam a importância de uma maior presença feminina nas suas equipas. Entre outros aspetos, as profissionais acrescentam estrutura e uma ótima capacidade de gestão, disciplina, organização, análise, mas também uma vertente psicológica de empatia, competências humanas e de interação entre equipa. Por tudo isto, podem humanizar a tecnologia, que é naturalmente técnica, bem como o dia-a-dia no escritório e toda a vivência na organização.
Os empregadores podem ainda criar propostas de valor direcionadas e que permitam a atração e retenção destas colaboradoras, como são exemplo modelos de trabalho flexíveis. Segundo o relatório da Kaspersky “Women in tech, where are we now?” 47% das mulheres que trabalham no setor acredita que a pandemia atrasou a sua progressão na carreira, considerando que o trabalho remoto pode favorecer a igualdade de género.
Do lado do ecossistema, este ainda não é suficientemente atrativo. Está ainda direcionado para os homens – que são investidores, bem como empreendedores. O certo é que toda esta presença masculina facilita a relação e comunicação entre as diversas partes e torna o sucesso das mulheres nesta área muito mais desafiante. Por exemplo, cada vez existem mais mulheres como investidoras, algo que vejo como muito positivo, mas ainda existe caminho para o equilíbrio.
Se tivermos estes pontos em mente, acredito que a percentagem de profissionais IT do sexo feminino irá crescer, mas muito dificilmente será totalmente equilibrada com a de homens. Esta responsabilidade coloco, principalmente, em anos e anos de cultura, que tornam ainda difícil às profissionais e à sociedade visualizarem uma carreira na área. Contudo, isto não é de todo impossível contornar.
Para que isso seja possível, o importante é que cada um de nós, sem exceção, tenha em mente que para uma transição digital igualitária e justa para todos, precisamos de mais e mais mulheres em tecnologia.