Se no inverno os pelos não são uma preocupação, no verão ganham uma importância significativa para a maioria de nós. Além de demorar algum tempo a removê-los, estes ainda nos limitam as idas à praia ou a escolha de roupa. No entanto, existe um método de depilação que nos ajuda a poupar tempo e a dizer sim, sem pensar duas vezes, a todos os convites.
A depilação a laser é, segundo Pedro Santos, mestre em Medicina Estética e Antiaging pela Universidad Complutense de Madrid, responsável pelo grupo Especializado de Lasers da Sociedade Portuguesa de Medicina Estética (SPME) e Director clínico do My Secret Group, um “método de depilação que nos oferece resultados permanentes”. Ao contrário dos métodos habituais, o laser irá “queimar” o pelo com uma temperatura, ideal, de 72º C. Esta temperatura chegará às células estaminais, “que estão no fundo de todo o folículo” – na base, chamada de papila, e na lateral, a protuberância- e que “faz com que o pelo não volte a nascer”.
Mas quantas sessões é que tenho de fazer? Podemos continuar a fazê-la durante o verão? Tenho de ter um tipo de pelo específico? O especialista em tratamentos com Laser ajudou-nos a dar resposta a estas e a outras dúvidas mais comuns.
O que é a depilação a laser?
A depilação a laser é um método de depilação que nos oferece resultados permanentes. Definitivos não e, às vezes, há esse equívoco. Com o laser, o que se faz é aproveitar que o pelo é escuro para absorver o laser e transformar a luz do laser em calor. Esse calor, chegando aos 72ºC, danifica as células estaminais, que estão no fundo de todo o folículo – na base, chamada de papila, e na lateral, a protuberância – fazendo com que o pelo não volte a nascer. É, por isso, que oferece resultados permanentes ou a longo prazo.
Porque é que não podemos falar de resultados definitivos?
Não falamos de resultados definitivos, pois temos folículos que estão “adormecidos” e esses, como não têm pelo em si, não conseguem absorver o laser e por isso não vão ser afetados. Por isso, só quando eles nascerem é que vão conseguir ser depilados. É, por isso, que volta e meia, passados alguns meses ou anos, depois de ter iniciado um ciclo de tratamentos podem ser necessárias sessões de manutenção para tratar estes folículos que estavam adormecidos e que não se tinham desenvolvido.
Existem vários tipos de laser?
Existem dois tipos de laser de referência. Estes dois são aqueles que têm maior evidência científica da sua eficácia e segurança. Portanto, para peles claras – aquilo o que nós chamamos de fotótipos 1 a 3 – e pelo mais escuro -, o laser de referência é o Alexandrite. Para as peles mais escuras – fotótipos 4 a 6- , o laser de referência é o Nd:YAG. O pelo claro, como não tem cor, não é absorvido pelo laser e por isso não é depilável por métodos a luz ou laser.
Porém, estão muito na moda os lasers Díodo, sobretudo de 3 e 4 ondas, mas a base científica deles não é significativa. A grande maioria destes são de origem chinesa e com pouco controlo de qualidade da energia emitida e que qualquer pessoa consegue adquirir. De grosso modo, um laser Díodo, sim, se for de uma marca conceituada. Duas, três, quatro ondas… isso não é relevante pois não existem evidências científicas de que será melhor.
É, também, importante reforçar que muitas vezes existem equipamentos que se chamam laser mas que não o são. São luzes pulsadas, ou IPL, havendo muita oferta no mercado que anuncia laser SHR ou laser IPL e isso não são verdadeiramente lasers.
Quem tem o pelo mais claro não deve, então, fazer depilação a laser?
Nestas circunstâncias, o laser até pode piorar, levando ao aparecimento de mais pelos! Se o pelo for mesmo muito loiro, a única solução permanente é aquilo a que nós chamamos de depilação elétrica, em que vamos “eletrocutar” cada pelo, com uma micro-agulha. É significativamente doloroso e, por isso, há que se pesar os prós e os contras antes de se submeter a este procedimento.
Qual a melhor altura para iniciar a depilação a laser?
Não convém ser no verão. Pois, quanto maior contraste houver entre a pele e o pelo, melhores vão ser os resultados e menores vão ser os riscos de efeitos laterais. O ideal é iniciar um a dois meses após terminar o verão para deixar a melanina baixar do bronzeamento do verão e depois prosseguir de forma regular, pois vão sempre ser necessárias várias sessões.
Porque é que são necessárias mais do que uma sessão?
O pelo tem um ciclo de crescimento em que só na primeira fase do ciclo, que se chama anagénese, é que este é totalmente contínuo desde a superfície até à tal parte inferior, a papila, onde estão as células estaminais. Nas outras fases em que está a crescer, a estrutura do pelo quase que se destaca e um novo já está a nascer por baixo, mas não estão ligados um ao outro. Ou seja, o calor não é transmitido à localização alvo, por isso, só durante a anagénese é que os pelos estão suscetíveis a ser depilados eficazmente com laser. Tendo em conta que os nossos pelos não estão todos sincronizados na mesma fase, são necessárias várias sessões para tratar o maior número possível de pelos nesta fase para conseguirmos ser eficazes.
Devemos esperar quanto tempo de intervalo entre as sessões?
O intervalo não é fixo, pois o tempo que o pelo demora a fazer o seu ciclo é diferente entre as várias zonas do corpo. Por exemplo, na face, tendo em conta que é um ciclo mais curto, nós podemos fazer sessões a cada 4 semanas. Nas axilas e nas virilhas, já falamos em cerca de 6 semanas. Quando falamos de pernas e de costas, estamos a falar de 10 a 12 semanas. Ou seja, se nós repetirmos antes, o benefício da sessão não vai ser tão grande.
Podemos fazer estas áreas ao mesmo tempo, tendo em conta as diferenças de intervalos?
Sim. Uma estratégia que, até, pode ser mais interessante é fazer sessões, mais ou menos, de 6 em 6 semanas, em que se em todas se trata face, axilas, virilhas e, eventualmente, braços. A cada 12 semanas, junto com as restantes áreas, tratam-se pernas e costas. É certo que vai demorar mais tempo a terminar este tratamento destas áreas, pois o tempo necessário para atingir uma média de 6 a 8 sessões será maior.
Para além da depilação permanente, quais os benefícios?
A probabilidade de ter pelos encravados é diminuída. Isto, obviamente, se a pessoa seguir as recomendações. Quando fazemos a depilação a laser fica sempre um bocadinho do pelo no que chamamos o conduto – o espaço que está desde onde ele nasce até à superfície da pele- e, uma a duas semanas depois, deve-se fazer uma exfoliação para promover a saída destes vestígios de pelo. Se eles ficarem no conduto, vão acabar por encravar também.
Para pessoas que têm uma pele mais rugosa, mais comumente na parte lateral do braço, que se chama de queratose pilar, a depilação a laser ajuda a melhorar. Para quem transpira bastante, embora não vá reduzir a sua produção, o suor fica menos retido e, por isso, tem menos odor e é mais fácil de aplicar o desodorizante. Há outras indicações médicas, como por exemplo o quisto sacrococcígeo.
Quais os casos em que não se pode fazer depilação a laser?
São muito poucas as situações que contraindicam, de uma forma absoluta, a depilação a laser. Por exemplo, uma pessoa que esteja em tratamento de uma doença oncológica não pode fazer este tipo de procedimento. Algumas doenças autoimunes também podem contraindicar a depilação a laser. Para além disso, apenas situações muito pontuais e concretas. Não se pode fazer depilação a laser sobre tatuagens. Se houver um problema na pele, em que na zona a depilar esteja irritada e comprometida a nível da função barreira – arranhões ou feridas- não se deverá realizar o procedimento. Algumas medicações, como algumas específicas para o coração ou alguns antibióticos, alteram a nossa sensibilidade ao laser, e podem contraindicar a depilação. E isso é um dos cuidados universais que se deverá ter, sempre que se faz alguma medicação, é preciso reportar. Até um “Brufen®” ou qualquer anti-inflamatório, nas primeiras 24h após a sua toma vai aumentar a sensibilidade da pele ao laser e poderá dar origem a efeitos laterais como queimaduras que, noutras circunstâncias, não aconteceria.
Quais os cuidados que devem ser tidos depois de iniciar esta depilação?
Nos primeiros três a cinco dias, é importante reforçar bastante a hidratação. Porque é sempre uma agressão, embora controlada, à pele, e devemos repará-la, acalmá-la. A melhor solução é um gel de aloe vera sem álcool. É o melhor hidratante possível no pós depilação, salvo em situações específicas em que se tem de usar algo mais intenso e de prescrição médica, como um creme com cortisona.
Deve rapar o pelo 24h a 72h antes da sessão com um creme depilatório, uma lâmina ou uma máquina com pente zero. Evitar bronzeamento no último mês para o Alexandrite e na última semana para o Nd:YAG. E evitar, enquanto a pele estiver irritada, fazer exposição solar, por norma entre dois a cinco dias, em qualquer um dos métodos usados. Também, entre sessões de depilação, nunca se deve fazer depilação por arrancamento. Ou seja, se for preciso reduzir o tamanho do pelo deve-se utilizar um creme depilatório ou cortar o pelo, porque, se não, quando chegarmos à próxima sessão, os pelos que estariam na fase em que seriam depiláveis já não irão estar susceptíveis a serem eliminados.
Qual seria o mês ideal para parar a depilação a laser, antes da época de verão?
Não tem necessariamente de parar. A chave está num bom acompanhamento do profissional que faz o laser. Porque se o centro ou clínica de depilação dispuser das duas soluções de laser, o Alexandrite e o Nd:YAG, uma pessoa que tenha a pele branca pode no verão passar para o adequado a peles escuras para compatibilizar a esta circunstância. É certo que nessas alturas vai haver um ligeiro compromisso dos resultados. Como há a necessidade de realizar várias sessões, o ideal seria começar logo em outubro e novembro, pois consegue-se realizar uma boa parte das sessões até ao verão seguinte. No caso de haver necessidade de exposição e não houver esta possibilidade de alternar entre tipos de laser, basta uma semana antes da exposição para a pessoa poder de uma forma tranquila expor-se ao sol.
Que mitos importa desmistificar?
A maioria dos mitos são mais comerciais do que outra coisa. Primeiro, uma depilação eficaz, verdadeiramente indolor, não existe. Porque, se há a necessidade de chegar a 72 graus em cada um dos pelos, obviamente que se vai sentir qualquer coisa. O que se pretende é que seja o menos desconfortável possível.
Segundo, que as sessões são sempre mensais. Não são, depende do tal ciclo de crescimento do pelo. Terceiro e último, ter um laser com mais ondas, também não significa que é melhor.