Uma análise das investigadoras Anna Bernard da Católica Lisbon School of Business and Economics, e Anna Jacobs, do Instituto de Kiel para a Economia Mundial, da Universidade de Bielefeld (Alemanha) ao estudo publicado pelo Observatório Social da Fundação “la Caixa”
A partir de dados obtidos do Inquérito Social Europeu (2008-2022), o presente artigo mostra que a brecha política de género, segundo a qual as mulheres jovens se inclinam mais para a esquerda política do que os homens jovens, aumentou notavelmente na última década. Esta tendência é mais marcada nos países da Europa do Norte e Ocidental. Examinando as características individuais e regionais, este estudo chegou à conclusão de que a brecha política entre homens e mulheres é seis vezes maior para a Geração Z e os Millennials comparativamente a outras coortes. Uma maior exposição aos media sociais, propiciada pela cobertura 3G, está ligada a uma deslocação para a direita política dos homens nas zonas rurais e a uma deslocação para a esquerda política das mulheres nas zonas urbanas.
Pontos-chave
- A brecha política de género entre os jovens europeus aumentou significativamente na última década. A brecha entre as visões políticas das mulheres e dos homens jovens mais do que triplicou, passando de uma diferença de 0,2 pontos para 0,7 pontos no espetro político de 0 a 10.
- Neste sentido, foram observadas claras diferenças entre países: A brecha política de género é duas vezes maior na Europa do Norte e Ocidental do que no resto da Europa.
- Examinando as características individuais e regionais, a brecha persiste e é seis vezes maior para a Geração Z e os Millennials comparativamente a outras coortes.
- Uma maior exposição aos media sociais está associada a posições mais para a direita para os homens nas zonas rurais e a posições mais para a esquerda para as mulheres nas zonas urbanas. Este efeito aumenta a brecha política de género entre os jovens que estão mais expostos aos media sociais do que as pessoas mais velhas.
Embora a implantação da rede 3G esteja claramente relacionada com o aparecimento da brecha política de género, a diferenciação entre zonas urbanas e rurais permite compreender melhor a sua direção. A moderada deslocação dos homens para a direita é impulsionada principalmente pelos que vivem em zonas rurais. Contrariamente, a significativa deslocação para a esquerda das mulheres, que representa a maior parte do aumento da brecha política, é devida predominantemente às mulheres das zonas urbanas. Este grupo demográfico urbano, pelo facto de ser mais populoso, tem um impacto substancial na tendência global.
Conclusão: Os media sociais podem estar a impulsionar as jovens mulheres urbanas para a esquerda e os jovens homens rurais para a direita
Este artigo confirma o ressurgimento de uma brecha política de género na Europa: As mulheres jovens tendem a inclinar-se mais para a esquerda política do que os homens jovens. Esta tendência é mais marcada sobretudo nos países da Europa do Norte e Ocidental. Os resultados sugerem que o desenvolvimento dos média sociais exercem uma influência sobre as orientações políticas ao mesmo tempo que revelam uma heterogeneidade geográfica. Os homens das zonas rurais tendem a mover-se mais para a direita à medida que a cobertura 3G aumenta, enquanto as mulheres das zonas urbanas tendem a mover-se para a esquerda. Considerando que as coortes mais jovens são mais propensas a utilizar os media sociais, é provável que tais efeitos sejam ainda mais pronunciados entre elas, contribuindo para o aumento da brecha política observada na juventude. Os resultados obtidos são coerentes, quer os inquiridos tenham sido convidados a identificar a sua própria posição no espetro político de esquerda-direita (como descrito neste artigo), quer as suas visões políticas tenham sido medidas com base no partido político de que se sentem mais próximos. A investigação futura deve examinar se a brecha política se traduz em diferentes comportamentos de voto. Para além disso, o efeito diferencial da exposição aos media sociais nos homens das zonas urbanas e das zonas rurais continua por esclarecer. É necessária mais investigação para compreender por que razão os média sociais acabam por gerar mudanças ideológicas opostas nestes grupos.