“Porque é uma peça leve e divertida sobre questões mais pesadas, como a morte ou os desafios das doenças mentais. Tentamos criar oportunidades para que o público se possa rir das situações mais pesadas, e de uma forma leve, convidamos à reflexão sobre identidade, sobre ansiedade e sobre quem somos quando ninguém está a ver” – a resposta é de Liliana Marques, a humorista e guionista que, ao lado de Inês Miranda, protagoniza este espetáculo que, de uma forma divertida e leve, pretende chamar a atenção para a ansiedade e as suas diversas formas.
Liliana Marques: “No fundo, a pergunta ‘quantas queres?’, estende-se a ‘quantas oportunidades queres para ser feliz?’. O importante é não nos esquecermos que a vida não é um ensaio.” Créditos: Rita Carmo
A peça que estreia no dia 2 de outubro, no Cine-Teatro Turim, em Lisboa, é anunciada como uma sátira surrealista sobre o silêncio, a morte e o medo. Nas palavras da humorista é muito mais do que isso. “É uma peça que dá voz à ansiedade, que brinca com a voz da ansiedade. Diria que a maioria das pessoas já ouviu essa voz, em algum momento. O que tentamos fazer é brincar com essa voz para explorar algumas questões, como a questão da identidade, sobre o medo de sermos quem somos ou sobre o medo da morte ou do silêncio”, explica-nos Liliana.
Em cena, as humoristas tentam equilibrar a humor negro e absurdo de uma forma complementar. “Não existe propriamente um duelo entre o humor negro e o absurdo, eles complementam-se”, explica a humorista, prosseguindo: “Como humorista, gosto de explorar piadas ou cenas mais acutilantes e sobre temas mais tabu e na performance em palco é muito libertador ir à procura dos detalhes mais absurdos. A peça vive do humor que vai estando presente ao longo dos diálogos mas também nos detalhes mais absurdos da nossa prestação em palco.”
O que pretendem com tudo isto? – perguntámos. Liliana levanta um pouco do véu da pretensão desta dupla de mulheres humoristas: “Pretendemos, acima de tudo, que o público se divirta e tenha um bom momento de entretenimento. Às vezes, a arte pode ser só isso: uma forma de escapar ao cinzento e trazer um certo alívio através de uma gargalhada. Além disso, gostaríamos que quem fosse ver se sentisse inspirado a refletir sobre a presença da voz da ansiedade, se sentisse convidado a brincar com ela em vez de ficar refém dessa voz. Que o público também pudesse refletir sobre se está a fazer tudo o que pode para viver a vida que quer. No fundo, a pergunta “quantas queres?” estende-se a “quantas oportunidades queres para ser feliz?”. É fácil cairmos no esquecimento que devemos agarrar todas as oportunidades que temos para vivermos a vida que sempre sonhámos, e isso pode querer dizer começar a fazer exercício para sermos saudáveis ou inscrevermo-nos num curso da nossa carreira de sonho, para cada pessoa quererá dizer algo diferente, o importante é não nos esquecermos que a vida não é um ensaio.”
Liliana Marques: “Gostaríamos que quem fosse ver se sentisse inspirado a refletir sobre a presença da voz da ansiedade, se sentisse convidado a brincar com ela em vez de ficar refém dessa voz.” Créditos: Rita Carmo
A humorista revela, ainda, que esta peça tem um enorme significado para ela, sendo um dos projetos mais gratificantes da sua vida, salientando o facto de se terem permitido não ficar à espera da oportunidade certa para avançar, mas sim, arregaçaram as mangas e puseram em prática, ou no papel, e, agora, em palco, as suas ideias. “Como humorista e guionista, este espetáculo foi dos projetos mais gratificantes da minha vida. Ao longo de cerca de dois anos, eu e a Inês Miranda, reunimos com um computador à frente para irmos dando forma às ideias que tínhamos para esta peça. Divertimo-nos muito no processo de criação, fizemos tudo sozinhas, da ideia à produção, e isso significa muito. Até porque a peça também convoca a essa reflexão: porquê esperar pela oportunidade certa, ou pelo convite ou pelo casting, ou pelo dia certo, do mês certo, quando podemos tomar as rédeas da nossa vida e escrevermos nós o guião e mais, nesse guião, podemos limitar as falas de certas pessoas, ou da famosa ansiedade. Está mais nas nossas mãos do que se pensa. E depois conseguimos divertir-nos a fazê-lo, quer na escrita, quer em palco, num lembrete constante que nos podemos rir de tudo na vida, até do medo, até da morte, até da ansiedade”, sublinha.
Liliana Marques e Inês Miranda. Créditos: Rita Carmo
“Quantas Queres?”
- 3 e 4 de outubro, 21h30, Cine- Teatro Turim, Lisboa, €14
- 11 de outubro, 21h30, Teatro Sá da Bandeira, Porto, €14