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Síndrome do Intestino Irritável: apenas cerca de 15% das pessoas afetadas procuram ajuda médica

Mais de um milhão de portugueses sofrem da Síndrome do Intestino Irritável (SII). Uma condição crónica do sistema digestivo que apresenta uma prevalência de 14% nas mulheres e 8,9% nos homens, mas que ainda assim continua a ser desconhecida para muitos. E apesar de grande prevalência, estima-se que apenas cerca de 15% das pessoas afetadas procuram ajuda médica.

ArmandoPeixoto

Armando Peixoto

Esta é uma patologia que tem um grande impacto na população que dela sofre, uma vez que, em média, se estima que sofram com estes sintomas 8,1 dias por mês. Além disso, também o impacto psicológico e socioeconómico são amplamente sentidos, por situações como o absentismo laboral e social, processo de diagnóstico ou até mesmo alterações obrigatórias na rotina.

De forma a aumentar o conhecimento acerca da SII e na tentativa de melhorar o dia a dia das pessoas que sofrem constantemente com esta síndrome, falámos com Armando Peixoto, pertencente ao Núcleo de Neurogastrentrologia e Motilidade Digestiva da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia.

Que sintomas é que a Síndrome do Intestino Irritável apresenta?

A presença de dor abdominal e a alteração nos hábitos intestinais (obstipação e/ou diarreia) são os sintomas centrais da SII, no entanto, nem todas as pessoas apresentam a mesma sintomatologia e esta pode variar ao longo do tempo, o que pode ser explicado pelos vários fatores potencialmente envolvidos na génese dos sintomas.

A origem à SII é explicada pela ocorrência de um ou mais mecanismos que podem ocorrer simultaneamente, como alteração da motilidade intestinal, hipersensibilidade visceral, disfunção do eixo cérebro-intestino ou fatores psicossociais como stress, ansiedade, fobia ou depressão.

Dá para prevenir?

Por se caracterizar pela presença de sintomas abdominais sem uma causa única identificável, a prevenção da SII torna-se difícil pela sua imprevisibilidade. No entanto, a educação da população sobre as formas de apresentação e dos principais fatores associados ao desencadear dos sintomas e ao seu agravamento podem ajudar na redução significativa que os mesmos podem ter no dia-a-dia.

É de extrema importância um diagnóstico precoce?

Quando falamos da SII, falamos de uma patologia em que os primeiros sintomas, por norma, surgem entre os 20 e os 30 anos, pelo que afeta maioritariamente pessoas em idade ativa e produtiva.

Esta é uma condição com grande impacto no indivíduo e no seu ambiente, devido ao aumento dos níveis de stress e ansiedade causados pelos sintomas e às recorrentes alterações nas rotinas diárias, o que provoca, por vezes, o isolamento social ou até mesmo o absentismo laboral. Além disso, também na esfera económica, esta doença revela um grande impacto, englobando custos diretos relacionados com consultas médicas, investigação clínica e tratamentos prescritos, bem como custos indiretos traduzidos pela diminuição da produtividade, como já foi mencionado.

Pelo importante envolvimento nas diversas esferas da vida dos doentes, o diagnóstico atempado e a tranquilização em relação ao mesmo são ferramentas essenciais, de forma a proporcionar aos doentes um melhor controlo sintomático e uma qualidade de vida satisfatória, facilitando também a escolha do tipo de tratamento mais adequado.

Que tratamentos é que existem?

Não se tratando de uma doença por si em que se procure alcançar uma cura, as várias opções terapêuticas na SII visam ajudar a atenuar os sintomas.

Para a maioria das pessoas, sobretudo as que tendem a sofrer de obstipação, a ingestão de fibras, hidratação adequada e a realização de atividade física regular têm um papel fundamental para garantir o equilíbrio do organismo e manter uma função normal do trato digestivo.

Em alguns casos, a medicação pode ser também um aliado eficaz no controlo dos sintomas; noutros, a suplementação com probióticos pode regularizar o funcionamento intestinal, bem como a evicção de determinados alimentos e o controlo do stress, uma vez que ambos parecerem estar ligados a esta condição.

De forma geral, também um sono adequado parece ter influência nos sintomas da SII, que podem ser agravados pelos distúrbios de sono – aqui, as soluções podem passar pela adoção de melhores hábitos como horas certas para acordar e deitar e não consumir cafeína ao final do dia.

O que é que deve ser desmistificado?

Muitas vezes, quem se encontra perante a presença de dor abdominal e alteração nos hábitos intestinais não procura por um diagnóstico ou tratamento por vergonha de falar sobre os sintomas, optando apenas por mudar as suas rotinas para lidar com os sintomas. Por outro lado, o receio de padecer de uma doença grave que se possa apresentar de forma semelhante deverá ser esclarecido e, frequentemente, é o suficiente para um alívio sintomático significativo.

Esta é uma das principais razões pelas quais devemos aumentar a consciencialização para a SII, bem como a sensibilização da população para a mesma, de forma a que esta seja uma patologia reconhecida, normalizada e credibilizada.

A falta de informações relativamente à SII pode ser uma das causas para o aumento da mesma?

Apesar da sua prevalência, a maioria das pessoas afetadas não procura ajuda médica, estimando-se que apenas cerca de 15% das pessoas com SII procurem ajuda médica para obter o diagnóstico e plano de tratamento. Apesar do impacto significativo da SII na qualidade de vida, com sintomas frequentes que ocorrem em média 8 dias por mês, existe ainda muito desconhecimento por parte da população em relação ao diagnóstico, implicando a realização de múltiplas consultas e exames diagnósticos desnecessários, e o consequente atraso do início de uma abordagem terapêutica dirigida e eficaz.

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