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Um em cada três portugueses vê informações falsas quase todos os dias

Ordem dos Psicólogos Portugueses lança “Vamos Falar Sobre Desinformação” para ajudar a combater a desinformação

Um em cada três portugueses vê informações falsas ou erradas quase todos os dias e cerca de 81% dos portugueses estão preocupados com a sua capacidade para distinguir conteúdo verdadeiro e falso na internet. Além disso, entre os temas onde encontram mais desinformação, destacam-se a política (28%), economia e custo de vida (19%), guerras (37%) e imigração (17%). Estes são dados reunidos pela Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) que mostram a massificação da desinformação e que, apesar de não ser um problema novo, é um problema urgente.

Com o objetivo de fortalecer as competências de todos e, em particular, apoiar pais, professores e educadores na tarefa de ajudar as crianças e jovens a navegar na (des)informação disponível nas redes sociais e noutras plataformas digitais, a OPP lançou esta terça-feira, dia 1 de abril, o recurso “Vamos Falar Sobre Desinformação”. Desde o que é a desinformação ao que podemos fazer para nos protegermos, reunimos alguns pontos-chave abordados no documento.

A desinformação e as razões que levam alguém a espalhá-la

A desinformação corresponde a qualquer tipo de conteúdo ou prática que contribua para o aumento de informação falsa, não validada, pouco clara e/ou que tenha a intenção de afastar as pessoas dos factos e da verdade. Pode assumir várias formas: deepfakes, bots, contas falsas, clickbait, conteúdos virais ou descontextualização de conteúdos verdadeiros.

As pessoas podem divulgar desinformação por brincadeira, por acreditarem nela, com o objetivo de enganar, com o objetivo de fazer dinheiro ou com fins políticos ou ideológicos.

Os impactos da desinformação, em nós e na sociedade

A desinformação afeta a saúde pública, promove desconfiança nas instituições, influencia atitudes e comportamentos, alimenta a polarização e mina a confiança na democracia. Está associada ao aumento do extremismo, da violência e do discurso de ódio.

As estratégias usadas para espalhar a desinformação

Identificar informação errónea/falsa é um desafio exigente e complexo. Quando recebemos informação nova, a nossa primeira reação é tentar compreendê-la e integrá-la no conhecimento que já temos disponível. Apenas num segundo momento é que tentamos avaliar se esta é verdadeira ou falsa. Ou seja, verificar a verdade exige um esforço cognitivo adicional, pelo contrário, aceitar imediatamente a informação como válida é um caminho rápido e automático.

A desinformação é criada para explorar vulnerabilidades psicológicas, recorrendo a estratégias como:

  • Atacar posições opostas;
  • Inserir informações surpreendentes;
  • Sobrecarregar com informação;
  • Mexer com as nossas emoções;
  • Repetir várias vezes a desinformação.

Além de estarmos conscientes destas estratégias que são utilizadas por quem cria conteúdos desinformativos é necessário, ainda, resistirmos a três armadilhas:

  1. A tentação de confirmar a nossa visão do mundo. Temos uma tendência natural para procurar informações que reforcem aquilo em que acreditamos e comprovem que estamos corretos. A desinformação é mais perigosa quando está alinhada com a nossa visão do mundo, fazendo com que a aceitemos fácil, rápida e acriticamente.
  2. A tentação de confiar cegamente nas pessoas do nosso grupo. O mensageiro/a da desinformação também influencia a credibilidade que atribuímos à mensagem. Se esta nos chega a partir de alguém em quem confiamos ou de um grupo a que pertencemos, a nossa predisposição para acreditar naquilo que é dito aumenta exponencialmente.
  3. A tentação de simplificar aquilo que é complexo. A desinformação tende a simplificar o mundo – preto ou branco. As instituições, pessoas ou assuntos são retratados como sendo sempre bons ou sempre maus, facilitando que as perspetivas diferentes das nossas sejam ignoradas ou consideradas falsas logo à partida.

Os mais vulneráveis

Todos podem ser afetados, mas são as crianças, os adolescentes e as pessoas mais velhas os mais vulneráveis. Cerca de 50% dos alunos de 15 anos não distingue factos de opiniões, e pessoas com mais de 65 anos partilham sete vezes mais desinformação do que jovens adultos.

O papel das redes sociais na proliferação da Desinformação

A era digital trouxe uma mudança significativa na forma como a desinformação prolifera, aumentando exponencialmente o seu alcance e rapidez de disseminação. Por exemplo, nas redes sociais uma notícia falsa espalha-se seis vezes mais rápido do que uma notícia verdadeira.

Todos os dias, enquanto utilizadores, podemos percorrer distraidamente cerca de 90 metros de feed nas redes sociais. Para garantir que permanecemos atentos aos ecrãs, estas plataformas têm de certificar-se que recebemos conteúdos que gerem reações e sejam emocionalmente intensos. O conteúdo que melhor encaixa nestas condições é a desinformação.

As redes sociais também favorecem a criação de câmaras de eco (também denominadas bolhas informativas). Uma câmara de eco é um contexto onde as nossas opiniões e ideias são repetidas e reforçadas por outras pessoas que pensam igual a nós. Com o tempo, podemos ficar com a ideia de que “toda a gente pensa assim” e se alguma pessoa não o fizer, deve ser rejeitada ou alvo de desconfiança.

Medidas de Proteção  

O combate à desinformação requer um esforço individual e sistémico. A OPP propõe um conjunto de estratégias práticas:

  • Parar e pensar. Refletir antes de reagir ou partilhar. Prestar atenção à reação emocional provocada pelo conteúdo. Muitos conteúdos são feitos para gerar cliques ou reações emocionais. Importa suspender a decisão de reagir até conhecermos as implicações do conteúdo.
  • Verificar e investigar. Observar se o título corresponde ao conteúdo, verificar se o URL é confiável, confirmar se o autor é identificado, confiável e qualificado, confirmar a data e avaliar se a imagem corresponde ao conteúdo relatado.
  • Fazer uma “leitura lateral”. Este método consiste em verificar o que se lê, enquanto estamos a ler. Se nos deparamos com informação que nos deixa na dúvida, precisaremos de outras fontes para nos sentirmos confiantes na sua credibilidade, como verificadores de factos, imprensa de referência ou fontes científicas.
  • Clicar com critério. Os primeiros resultados de pesquisa nem sempre são os mais fiáveis. É importante avaliar a origem, o título e o resumo antes de aceder.
  • Denunciar conteúdos desinformativos. As plataformas digitais permitem reportar conteúdos falsos, ofensivos ou perigosos. Denunciar ajuda a reduzir a exposição de outras pessoas.
  • Divulgar informação de qualidade. Partilhar informação validada por especialistas e que tenha base científica ajuda a contrariar a disseminação de conteúdos falsos.
  • Usar recursos de fact-checking. Ferramentas como o Polígrafo, Prova dos Factos (Público), Fact Check (Observador), Iberifier ou EUvsDisinfo e Google Fact Check Explorer permitem verificar a veracidade dos conteúdos.

Para os pais, mães e educadores/as, a entidade recomenda que adotem estas estratégias para ajudar crianças e adolescentes a lidar com a desinformação?

  • Conversar sobre ecrãs e outras tecnologias digitais, mantendo um diálogo aberto sobre os seus benefícios, riscos e como adotar hábitos digitais seguros e saudáveis;
  • Explicar o que é a desinformação e os diferentes tipos de desinformação;
  • Verificar em conjunto os factos. Reveja as informações que a criança/adolescente leu e ajude-a a perceber como poderia identificar as informações falsas/enganosas. Encorajar o pensamento crítico com perguntas, tais como: “Isto parece-te correto?”; “Onde é que encontraste a informação?”; Quem criou este conteúdo? Qual o objetivo? O criador do conteúdo parece-te confiável? Isto são notícias verdadeiras? Um anúncio? Ou uma opinião? Quem pode ser beneficiado ou prejudicado com estas mensagens?
  • Ajudar a perceber quando algo é falso. A criança ou adolescente conhecer quais os sinais mais comuns de sites, apps ou publicações enganadoras aumenta o seu ceticismo online e facilita uma navegação segura;
  • Ensinar a estar atentos aos seguintes sinais: escrita ortográfica/gramatical errada ou confusa; E-mails ou mensagens de remetentes desconhecidos; Alegações exageradas (ex: milagre, inacreditável); Informação prejudicial para outras pessoas, como desinformação sobre Saúde ou incitamento ao ódio; Imagens e vídeos manipulados (deepfakes) que parecem reais, mas apresentam movimentos estranhos e artificiais; Publicações altamente emocionais, que tentam provocar medo, raiva ou choque. Citações sem fonte, que parecem credíveis, mas não indicam quem a disse ou onde foram publicadas;
  • Explicar que em caso de dúvida, é preferível não partilhar;
  • Encorajar a correção de erros;
  • Denunciar conteúdo enganoso ou falso;
  • Partilhar ferramentas de fact-checking.

O documento recomenda também o jogo pedagógico “Bad News”, que permite aprender, de forma segura, as estratégias de manipulação usadas na desinformação, fortalecendo a resistência psicológica a conteúdos falsos.

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