E depois há as outras mulheres, as que não são contadas e que sofrem todo o tipo de violência, desde esta, mais conhecida entre nós, às formas de que começamos a falar agora: o assédio, o revenge porn ou a mutilação genital feminina, de que falaremos na próxima edição da LuxWOMAN. Na raiz destes problemas está o mesmo conceito: a mulher é um ser inferior ao homem. Temos uma novidade para vos dar: não é!
É neste contexto de violência sobre as mulheres que está a ressurgir o movimento feminista. Já há quem identifique este momento com uma quarta vaga do movimento feminista, sendo que a primeira começou no século XIX com mulheres de classes educadas a reivindicarem o direito ao voto, sobretudo nas democracias anglo-saxónicas. Em 1928, em Inglaterra, todas as mulheres passaram a poder votar. A segunda vaga desenvolveu-se de seguida com exigências dos direitos civis, como o direito à administração de propriedade e das suas vidas – poderem viver sozinhas, estudar, trabalhar, etc. Depois, já nos anos 70, começou a terceira vaga do feminismo, que coincidiu com a libertação sexual das mulheres, a famosa queima dos soutiens, e pela primeira vez se falou de igualdade entre homens e mulheres.
Os académicos discutem agora se aquilo a que assistimos hoje é à quarta vaga. Luta-se agora contra a misoginia, a mentalidade patriarcal e sexista, que nos tornou mulheres-objeto e cidadãs de segunda em termos de oportunidades laborais. E pela primeira vez, os discursos feministas estão a incluir os homens na defesa de direitos iguais para todos. Michelle Obama disse, e bem, que ao lutarmos pela equiparação total, permitiremos que os homens saiam também do papel que a sociedade lhes atribui normalmente. A ONU lançou recentemente a campanha He4She (ele por ela), que lança aos homens o desafio de se tornarem também feministas. Por cá, Teresa Morais, a secretária de Estado para a Igualdade, declarou no dia 5 de março que o Conselho de Ministros designou alguns membros do Governo para “encetarem negociações com as empresas cotadas em Bolsa com vista à promoção de um compromisso por parte dessas empresas que deve pressupor a vinculação a um objetivo de representação do sexo sub-representado – neste caso, o feminino – 30% até ao final de 2018”.
No dia 8 de março, eu quero receber boas notícias. Quero ficar a saber que as mulheres em Portugal engravidam sem ter medo de perder o emprego, que as famílias monoparentais (normalmente encabeçadas por mulheres) deixam de estar mais expostas à pobreza do que as outras, que os piropos ordinários deixam de ser o dia a dia das raparigas a caminho da escola, que as mulheres passam a ter de si próprias uma narrativa diferente e que elas e eles passem a (re)conhecer a realidade: que somos capazes de fazer tudo e que merecemos o mesmo tratamento legal e salarial em todas as circunstâncias. Vá, e também quero receber uma flor.
Imagem de destaque:
Produção Filipe Carriço, assistida por Pedro Lança
Fotografia Pedro Ferreira, assistida por Ana Viegas
Cabelos Rui Canento
Maquilhagem Cristina Gomes
Rita
Top de seda Etro, no Espace Canelle.
Colar Katerina Psoma, na Stivali.
Iva
Top de seda Etro, na Fashion Clinic.
Colar de tecido Malena Birger, na Nude.