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Vinho no Feminino: Sofia Soares Franco

Sofia Soares Franco nasceu no mundo dos vinhos e é uma das representantes da 7.ª geração – a única mulher –  da família José Maria da Fonseca, que há quase 200 anos se dedica ao negócio do vinho. Mas Sofia nem sempre esteve responsável pelo Enoturismo e Comunicação Institucional da José Maria da Fonseca. O seu percurso profissional passou pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros e também pelo Comando da NATO em Oeiras e acreditava que a segurança e defesa seriam o seu futuro, mas o convite da família para se juntar ao negócio do vinho, em 2006, falou mais alto.

Quando é que se começou a apaixonar pelo mundo dos vinhos?

Nasci no mundo dos vinhos. Tenho a honra e a responsabilidade de pertencer a uma verdadeira família do vinho que conta já com 7 gerações (a José Maria da Fonseca foi fundada em 1834). Nesse sentido, cresci a ouvir as histórias das gerações anteriores e a viver o dia a dia da nossa empresa. Quer a brincar nos jardins da Casa Museu José Maria da Fonseca com os meus irmãos e primos, quer a passear nas vinhas com o meu avô Fernando, uma referência importantíssima para mim neste mundo e enquanto pessoa, e a ver este mesmo avô, o meu pai e o meu tio a trabalharem todos os dias com muita dedicação e paixão.

Acredito que a paixão nasce connosco, mas depois é alimentada pelas nossas vivências e pelos ensinamentos que vamos recolhendo. 

Um dos que mais me marca até hoje é o de que não somos donos da empresa, somos apenas cuidadores e temos o dever de a passar às próximas gerações ainda mais próspera.

É difícil conciliar a vida pessoal com a profissional?

Já foi mais, tenho três filhos, uma de 11 e dois de 7, mas diria que desde o nascimento dos gémeos até aos 3 anos deles senti-me constantemente a equilibrar todos os “pratos” e a fazê-los girar. Nem sempre foi perfeito, quer a nível profissional quer a nível pessoal, e senti-me a falhar muitas vezes. Atualmente os miúdos estão mais crescidos e tenho a sorte de ter uma equipa fantástica em quem confio e delego muito, por outro lado tenho um marido e um suporte familiar que também me ajudam muito na gestão pessoal, sobretudo com os miúdos. Mas ser profissional e mãe é estar constantemente a meio de uma reunião e a fazer lembretes mentais acerca do fato de judo que tenho que preparar quando chegar a casa, da consulta que tenho que marcar ou da ementa do jantar, e vice-versa – o que se agravou no último ano com a gestão do teletrabalho/telescola e da difícil fronteira entre trabalho e casa.

Enquanto mulher, sente que alguma vez a trataram de forma diferente nesta área profissional?

Ao início talvez. Não necessariamente por ser mulher, mas talvez por ser bastante nova e apesar de ter nascido e crescido neste mundo, havia muita coisa que não dominava e a fasquia muito alta e tinha algumas inseguranças, sobretudo em fazer apresentações de vinhos e falar em público. Mas fui sempre muito bem acolhida e com o tempo fui ganhando mais conhecimentos e amadurecendo também.

Venho de uma família de homens, na minha geração somos 8, entre irmãos e primos, e sou a única mulher. Crescemos os 8 numa quinta e eu era “mais um”, nunca vi o facto de ser mulher como uma desvantagem, antes pelo contrário, acho que até por vezes era e sou tratada com mais deferência. Mas, por exemplo, quando cheguei à José Maria da Fonseca, há 16 anos, havia determinados eventos que eram só para homens, mas na altura fiz ver que também merecia um lugar à mesa. Por outro lado, na Confraria do Periquita em que juntamos de 2 em 2 anos Confrades de todo o mundo e em que se usam trajes próprios com cores diferentes consoante a hierarquia dentro da confraria, institui que as mulheres da família passassem a usar cor-de-rosa.

O mercado dos vinhos começa agora a ser mais procurado pelas mulheres?

Sim, é um facto mas curiosamente desde sempre a mulher é um decisor chave no momento da compra de vinho. A mulher está atualmente mais desperta para o mundo dos vinhos e é também cada vez mais experimentalista. Por outro lado, também no mundo dos vinhos temos hoje em dia cada vez mais enólogas e produtoras de enorme mérito e qualidade. Já não é um mundo “de homens”.

O que faz um bom vinho?

Por detrás de um bom vinho tem que estar uma enorme paixão do produtor. É um trabalho árduo desde a vinha, passando pela adega até chegar às mãos do consumidor. Para além da qualidade do vinho em si, atualmente é cada vez mais importante a preocupação com a embalagem e o próprio storytelling por detrás de cada marca. Tendo dito isto, acho também que os “bons vinhos” vivem muito das ocasiões em que são bebidos, com quem os partilhamos, do local onde estamos e do nosso estado de espírito.

Portugal oferece qualidade a baixo preço?

Sim, infelizmente Portugal continua conotado com preço baixo. No entanto tem vindo a ser desenvolvido um enorme trabalho por parte de muitos produtores para melhorar o posicionamento dos nossos vinhos. No entanto, há uns anos vendiam-se muito poucos vinhos caros na exportação e hoje em dia essa tendência já começa a inverter-se.

Temos pouca ‘reputação’ no estrangeiro?

Acho que já não é uma realidade tão evidente e está em franca transformação. Não só em termos de vinhos, mas a própria marca Portugal está cada vez a ganhar mais reputação no estrageiro. Um enorme contributo para este facto tem sido o turismo. É, no entanto, um processo lento que demora gerações.

O que deve ou pode mudar?

Devemos prosseguir com o trabalho contínuo de valorização dos vinhos portugueses, apoiados pelas instituições que nos ajudam muito com a promoção como a ViniPortugal e as várias Comissões Vitivinícolas (CVRs) do país. Por outro lado, os produtores têm que se consciencializar que não podemos continuar a competir pelo baixo preço mas sim pela nossa qualidade e história.

Quais são os planos para a José Maria da Fonseca?

Na José Maria da Fonseca, e com quase 200 anos, estamos numa fase de consolidação e crescimento da nossa presença tanto a nível nacional como internacional. Temos atualmente mais de 60 marcas de 5 regiões diferentes do país distribuídas por mais de 70 países. Iremos certamente continuar a lançar marcas fortes e a abrir novos mercados.

Temos também vindo a cimentar a nossa oferta de Enoturismo, tanto em Azeitão na nossa Casa Museu, como em Reguengos de Monsaraz, na Adega José de Sousa. Por outro lado, estamos a apostar também na restauração – com o projecto do Wine Corner by José Maria da Fonseca que nasceu em 2021 em Azeitão.

O nosso foco está também, desde há largas décadas, na sustentabilidade, sendo que esta temática faz verdadeiramente parte do nosso DNA. Por sermos uma empresa já com sete gerações, vemos a sustentabilidade como a única forma de as próximas gerações da família terem uma empresa viável e gerida com responsabilidade nas áreas ambiental, social e económica. Os próximos passos serão manter a estratégia que temos vindo a implementar e consolidar a melhoria contínua dos processos, a redução de consumo de energia, redução de consumo de água, continuar a adaptar packaging, assim como desenvolver os planos de ação dentro do programa de certificação FAIR’N GREEN.

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