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Vírus Sincicial Respiratório: a vacinação pode ser a resposta

A propósito da Semana Mundial da Imunização, que se assinalou entre os dias 24 e 30 de abril, conversámos com uma especialista sobre a importância da prevenção, nomeadamente através da vacinação, no caso específico do Vírus Sincicial Respiratório.

Conhecido por provocar bronquilites em bebés e crianças, o Vírus Sincicial Respiratório  – apelidado pelo médico pneumologista Filipe Froes de “Vírus Sem Reconhecimento”- pode causar graves consequências na população adulta, principalmente aos que têm mais de 60 anos. Em 2019, por exemplo, foi responsável por mais de 3 milhões de casos de insuficiência respiratória aguda, cerca de 274 mil hospitalizações e cerca de 20 mil mortes em contexto hospitalar.

Assinalada entre os dias 24 e 30 de abril, a Organização Mundial da Saúde celebra a Semana Mundial da Imunização com o intuito de consciencializar a população para a importância da vacinação.  Importância essa que Joana Louro, assistente hospitalar graduada de Medicina Interna, reforça quando nos fala na prevenção do Vírus Sincicial Respiratório.

Antes de falarmos de prevenção, o que é o Vírus Sincicial Respiratório (VSR)?

Como diria o meu colega e amigo Professor Filipe Froes, VSR é o Vírus Sem Reconhecimento! Isto porque toda a gente – e quando digo todos são mesmo todos: sociedade no geral, mas também profissionais de saúde – reconhecem e valorizam muito outros vírus respiratórios, como o da Covid ou o vírus da gripe (Influenza), mas não dão o devido reconhecimento ao VSR. Um vírus também ele sazonal, altamente contagioso e que se encontra em circulação em simultâneo com outros vírus respiratórios. É o responsável por quadros respiratórios com um largo espectro de manifestações – desde sintomas muito ligeiros a quadros com muita gravidade clínica, associados a morbilidade e mortalidade importantes. Este ano as urgências e enfermarias dos nossos hospitais estiveram cheias de infeções respiratórias virais graves – com necessidade de hospitalização. A infeção por VSR foi uma das causas.

Joana Louro, assistente hospitalar graduada de Medicina Interna

Joana Louro, assistente hospitalar graduada de Medicina Interna

Quais as faixas etárias mais afetadas?

O VSR causa uma doença de todas as idades. E, como a resposta imunitária após a infeção natural é incompleta e tem curta duração, as infeções pelo VSR vão ocorrendo ao longo da vida. Mas, como em todas as outras infeções com estas características, os extremos das idades são os mais problemáticos e onde a infeção pode ter maior gravidade, ou seja, maior morbilidade e mortalidade. É por isso que a nossa atenção vai em especial para a faixa pediátrica, sobretudo até aos 2 anos, e para os mais velhos, em particular acima dos 60 anos. Estes  adultos mais velhos estão mais suscetíveis a que a infeção pelo VSR seja grave. E se tiverem outras doenças crónicas – mais frequentes nestas idades –, como a diabetes, a insuficiência cardíaca ou a DPOC, o risco é ainda maior. É também por isto que muitas vezes digo que o VSR é uma “doença da família”. A disseminação no agregado familiar é muito frequente, e numa sociedade onde avós e netos partilham vidas e rotinas, a transmissão do VSR das crianças (onde o vírus é altamente prevalente) para os avós (onde o vírus pode provocar mais complicações) é uma constante.

Quais os sintomas a estar atento?

Habitualmente, as infeções por VSR em adultos saudáveis resultam em sintomas ligeiros semelhantes aos de um resfriado comum: tosse, mialgias, febre, rinorreia… tal como uma gripe. No entanto, como já referi, nas pessoas com mais de 60 anos e sobretudo com outras comorbilidades, como, por exemplo, a diabetes, a infeção pode ter muito mais gravidade. Pode evoluir para uma infeção das vias respiratórias inferiores, ou seja, uma pneumonia vírica, que pode eventualmente complicar devido a uma sobre infeção bacteriana. Pode também levar a exacerbações de outras doenças de base, como a DPOC ou a asma, descompensar uma insuficiência cardíaca previamente existente e originar também complicações cardiovasculares. E nesta faixa etária e nestas pessoas com doenças crónicas de base a infeção por VSR está frequentemente associada ao aumento de hospitalizações e de mortalidade também.

Como se pode prevenir?

Resposta curta? VACINAR!

A verdade é que não existe nenhum tipo de tratamento específico para a infeção pelo VSR. Ao contrário do que acontece na COVID ou na gripe, em que temos tratamentos dirigidos para casos específicos, nomeadamente aqueles em que prevemos maior risco de complicações e gravidade. Para o VSR não existe. Apenas o tratamento de suporte geral. Por isso, a única arma que nos resta mesmo é a prevenção. E prevenimos vacinando. Aliás, através de uma vacina que tem uma taxa de eficácia elevadíssima. Claro que também prevenimos através da adoção de medidas de etiqueta respiratória que a COVID tão bem nos ensinou, mas não estamos a falar do mesmo tipo de prevenção. E acho que ninguém pretende que netos e avós se deixem de beijar e abraçar.

Chega hoje ao fim a  Semana Mundial da Imunização, que alerta para a importância da vacinação. Porque é tão importante?

Porque as vacinas salvam vidas! E é isto que as pessoas têm de perceber! Segundo a  Organização Mundial da Saúde, cerca de 154 milhões de pessoas foram salvas pelas vacinas desde 1974, ou seja, nos últimos 50 anos. As vacinas, tal como as Estatinas para o tratamento da dislipidemia, foram os medicamentos que mais vidas salvaram em todo o mundo.

As pessoas estão a deixar de levar vacinas? Porquê?

Essa é uma pergunta complexa e acho que podíamos estar horas a discutir o tema. Mas, de uma forma muito reduzida, identificaria 3 causas: o cansaço da vacinação, o número muito significativo de pessoas que estão sem médico de família, que é onde está o core da prevenção, e, por fim, o desconhecimento, ou melhor, a iliteracia sobre o tema.

O que deve ser feito para alertar a população?

Informar, educar e capacitar são as nossas maiores armas. Uma população mais informada, com mais formação e literacia em saúde é uma população mais saudável. E isto está mais do que provado. Por isso, digo sempre que educação e saúde são duas caras da mesma moeda. As pessoas precisam de ter acesso a informação e formação em saúde fidedigna e de qualidade. Por outro lado, precisam de perceber que fazemos todos parte do mesmo ecossistema, onde o altruísmo e a preocupação pelo outro também permitem uma sociedade mais forte e saudável. Vacinar também é um ato de amor pelo outro. Em alguns tipos de doenças e de vacinas, como a do VSR, vacinar também é proteger o outro, mais velho, mais frágil.

No ano em que celebramos os 50 anos do 25 de Abril, os 50 anos da Liberdade, não esqueçamos que a vacinação é isso mesmo. Vacinação significa liberdade. Liberdade para viver mais e melhor, livres de doenças que podem ser prevenidas, livres das complicações que estas doenças implicam.

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