“No Other Land” já recebeu inúmeros prémios e reconhecimentos, incluindo o Prémio de Melhor Documentário no Festival de Cinema de Berlim.
Realizado por um coletivo de activistas e cineastas (os palestinianos Basel Adra e Hamdan Ballal e os israelitas Rachel Szor e Yuval Abraham), que passaram 5 anos a filmar a destruição das aldeias de Masafer Yatta, no extremo sul da Cisjordânia, às mãos dos soldados israelitas, “No Other Land” retrata o conflito israelo-palestiniano.
O palestiniano Basel Adra, co-realizador do documentário, tem lutado contra a expulsão em massa da sua comunidade desde que se lembra. Três anos depois de ter nascido, em 1999, o exército israelita ordenou a todos os palestinianos de Masafer Yatta que abandonassem as suas casas, uma vez que o terreno seria o seu campo de treino militar. Ao vasculhar fotografias e vídeos da sua infância, Adra deparou-se com a sua primeira recordação, aos cinco anos: “Fui acordado pela luz, era a prisão do meu pai”. Aos sete anos, participou pela primeira vez num protesto contra a ocupação israelita.
“Lembro-me que, em criança, costumava dormir com os sapatos calçados para o caso de os soldados invadirem a nossa casa. Depressa percebi que não tínhamos escolha: se não lutássemos, seríamos expulsos da nossa terra e perderíamos a nossa comunidade. A necessidade da nossa resistência ajudou-me, de certa forma, a ter menos medo”, revela Basel Adra.
Após décadas de extermínio e luta sem tréguas, em 2022, o Supremo Tribunal deu luz verde à expulsão dos palestinianos desta região fronteiriça, tornando-se o maior ato de deslocação forçada desde que a Cisjordânia foi ocupada em 1967.
Os quatro cineastas conheceram-se quando os jornalistas israelitas Rachel Szor e Yuval Abraham foram a Masafer Yatta, a casa dos colegas Basel Adra e Hamdan Ballal, que passaram a maior parte das suas vidas a documentar as políticas violentas que têm sido aplicadas na sua região. “Partilhamos os mesmos valores”, explica Abraham, “partilhamos a mesma oposição à ocupação, acreditamos num futuro em que os palestinianos tenham liberdade, em que palestinianos e israelitas tenham direitos iguais e segurança”.
No documentário, conta o jornalista israelita, pretendem mostrar a “diferença abismal entre a existência deles e a minha”. Ambos vivem sob o controlo do Estado israelita, mas com dois sistemas legislativos diferentes. “Mostramos o que é viver em condições de apartheid. Os soldados podem entrar na casa de Basel e prendê-lo sempre que quiserem. Eu posso votar, o Basel não. Eu posso ir ao aeroporto, mas Basel, tal como milhões de palestinianos, não pode. No filme perguntamos se a co-resistência é possível”.
Foi na própria casa de Basel, em Masafer Yatta, que o coletivo reuniu as milhares de horas de filmagens de que dispunha, uma vez que os palestinianos do grupo não estão autorizados a sair da Cisjordânia. Basel comenta: “Comecei a filmar há mais de uma década. De facto, os meus pais e as gerações anteriores também filmaram, por isso temos uma enorme quantidade de imagens de arquivo histórico. Com o grupo, filmámos cerca de 2.000 horas, passámos semanas na linha da frente a seguir os bulldozers (os bulldozers que destroem os bairros)”.
O desejo é que “o documentário funcione como um pedido de ajuda, do nosso coletivo de palestinianos e israelitas, sobre a necessidade de acabar com a ocupação e encontrar um novo quadro político de igualdade e liberdade. Esta é a única solução”.
Até agora, o filme já recebeu inúmeros prémios e reconhecimentos, incluindo o Prémio de Melhor Documentário no Festival de Cinema de Berlim e outros prémios em eventos como o Festival de Documentários de Amesterdão, Visions du Réel e o Sheffield DocFest. “No Other Land”, ganhou também o prémio de melhor documentário no recente European Film Awards, onde os realizadores apelaram a um ‘cessar-fogo’ e ao fim deste ‘genocídio’ contra o povo palestiniano, que está a ser ‘sistematicamente visado e morto’.
O documentário sobre o conflito israelo-palestiniano está em exclusivo na Filmin.