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Gisela João: “mais do que nunca, é muito importante gritar e cantar a liberdade”

Estava em Valência, Espanha, quando decidiu que, em 2024, o que queria fazer era “cantar a liberdade” por Portugal. De uma conversa com um amigo, o guitarrista espanhol Carles Rodenas Martinez, surgiu a ideia para o projeto “Gisela Canta Abril”. Neste espetáculo inédito, Gisela João exalta as músicas dos autores e compositores de Abril, celebrando os 50 anos da democracia portuguesa. Porém, não estará sozinha. Vai partilhar o palco com Carles Rodenas Martinez e Luís “Twins” Pereira. A, mais ou menos, uma semana da estreia – as primeiras datas são nos dias 24 e 25 de abril, no Cineteatro de Amarante e no festival Sons de Liberdade, no Teatro Tivoli BBVA, em Lisboa – tivemos a oportunidade de conversar com a fadista.

Como surgiu a ideia para o espetáculo “Gisela Canta Abril”?

Volta e meia, no meio dos meus concertos, costumo cantar algumas músicas de intervenção. Em novembro, esteve em Valência a estudar e conheci o Carlos, que é professor de Guitarra. Houve um dia em que lhe estava a contar o que é era o 25 de abril, o que é representava para nós, como é que a Revolução dos Cravos foi feita, que é uma revolução muito poética, feita com flores e com música. Mostrei-lhe quem eram os cantautores e ele começou a tocar uma música do Zeca Afonso, de que gosto muito, e eu comecei a cantar. Nesse momento, pensei: “Eu posso fazer uns concertos destes. Porque não”. E perguntei-lhe se ele alinhava se eu fizesse uns concertos a cantar músicas de intervenção. Ao que ele me respondeu que seria uma honra. Então, não vou mentir, foi nesse dia, assim que desci do prédio dele, que telefonei ao meu manager para dizer que, em 2024, o que eu queria fazer era cantar a liberdade. Disse-lhe, também, que o mundo estava muito estranho e precisava disso. Agora, passado meses, já vamos a meio de 2024 e o mundo está mesmo muito estranho. Por isso, mais do que nunca, é muito importante gritar e cantar a liberdade.

Cartaz do espetáculo "Gisela Canta Abril" no dia 25 de abril

Cartaz do espetáculo “Gisela Canta Abril” no dia 25 de abril no Teatro Tivoli BBVA

Celebramos 50 anos do 25 de abril, este ano. O que significa para si esta data?

O 25 de abril sempre foi uma data que me inspirou e que me deixou assim um bocadinho nervosa e expectante pelo dia em si. Agora, neste momento, acho que há muita coisa que nós podemos dizer, ainda por cima eu sendo mulher. O mundo está tão estranho que até nós, em Portugal, nos sentimos em risco de novo…a nossa liberdade, a nossa segurança, tudo! O 25 de abril, neste momento, tem um grande significado. Para além de serem 50 anos, tudo o que tem estado a acontecer é retrocesso, é contra a liberdade que tantos lutaram para nos dar. Portanto, é muito emocionante perceber que existem tantas pessoas à espera deste dia para o comemorar. Acho que este ano, vão estar muitas pessoas na rua, pelo país todo.

É importante ir para a rua no dia 25 de abril? Porquê?

É importante falar sobre a liberdade. Se pensarmos bem, pelo menos eu acho, a liberdade, por ser precisamente tão livre e querer que toda a gente seja tão livre, acaba por não se saber defender. Então, quem a pode defender somos nós, e a liberdade defende-se gritando por ela, indo para a rua por ela. Não calando. Porque “os maus” não têm vergonha nenhuma de dizer as coisas que dizem, não têm vergonha de aparecer a dizer coisas horríveis. Parece que estamos no século passado. Acho que é mesmo importante gritarmos e vivermos o 25 de abril para defendermos a liberdade.

Nos dias de hoje, a música tem um papel interventivo e revolucionário?

A meu ver, a música continua a ter esse papel. A arte em geral continua a ter esse papel. Agora, a verdade é que a necessidade faz o hábito. Como, atualmente, vivemos uma liberdade tão garantida, a necessidade de a defender, se calhar, não é a mesma de quem estava sem ela nos anos 60 e 70, por exemplo. Portanto, eu sinto que, nos últimos tempos, há de novo uma enorme vaga de escrita musical, literária, de ataque, digamos assim, ao fascismo, ao roubo da liberdade, às caixinhas onde nos querem enfiar. Eu noto que há, de facto, uma corrente a tentar falar mais alto de novo. Porque, lá está, as pessoas começam a sentir-se assustadas e precisam de responder e de reagir.

Gisela João. Créditos: Sara Pinheiro

Gisela João. Créditos: Sara Pinheiro

Neste espetáculo, o público vai poder ouvi-la cantar as músicas dos autores e compositores de Abril. Como foi feita a seleção do repertório?

Primeiro, quero aconselhar toda a gente a fazer uma pesquisa, porque vão descobrir músicas incríveis, vozes incríveis e letras incríveis. É espetacular. Porém, a parte dolorosa foi ter de escolher o que ia usar no concerto e o que ficava de fora. Também tem sido divertido perceber que há música que têm mais do que a minha idade, e que continuam a fazer sentido hoje em dia. É triste, ao mesmo tempo, perceber isso. Não era suposto… Mas a qualidade da escrita e da composição destes cantautores é tão incrível que ela bate certo hoje em dia, também. Além disso, há uma sonoridade que é muito portuguesa e que se percebe que é muito portuguesa nestas músicas. Mesmo que eles não tenham começado a cantar, a sonoridade, em si, faz-nos sentir que é português. E, depois, tem sido bom perceber que houve mais pessoas do que aquelas que pensávamos a lutar.

Gostava de criar um movimento que dissesse que estas músicas deviam fazer parte do nosso dia a dia…

Estes cantautores fizeram tanto pela nossa liberdade, não só pela música, mas pela liberdade de uma nação. Acho que deviam estar mais presentes nas vidas das pessoas, através das rádios ou das televisões. Seria muito interessante ouvir estas músicas mais vezes. Às vezes, achamos que as coisas não têm um impacto, mas, de facto, se ouvirmos um poema destes, uma música destas, algumas vezes, pode fazer com que, no dia a dia, nos movamos.

Que temas vamos poder ouvir em “Gisela Canta Abril”? 

Há um que eu tenho de cantar, claro, que é o “Grândola” de Zeca Afonso. Depois, vou cantar, também, a “Inquietação”, a “Canção de Embalar” , a “Balada de Outono”, a “Queda do Império”, os “Vampiros”… são muitas músicas.

O repertório será sempre o mesmo em todos os concertos ou tenciona variar?

Não. Há tantas músicas boas e bonitas, que o que vou fazer é em metade do concerto cantar sempre as mesmas e, na outra metade, vou variando. Assim elas não ficam no silêncio.

As primeiras datas serão nos dias 24 e 25 de abril. O objetivo será dar continuidade a este espetáculo? 

Sim, o objetivo é nos 50 anos do 25 de abril, cantar a liberdade pelo país.

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