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A construção de uma nova relação: a que bandeiras vermelhas devo estar atenta?

Artigo de Opinião de Mauro Paulino, Psicólogo Clínico na Mind | Instituto de Psicologia Clínica e Forense; e Autor do livro “Virar a Página – Como lidar com o fim de uma relação” (PACTOR)

A perda de uma relação amorosa, enquanto experiência emocionalmente violenta e com impacto negativo na autoestima, tende a alimentar o medo da pessoa em luto de ficar sozinha (“será que vou ficar sozinha para sempre?”, “serei digna do amor de outro?”) e/ou, não raras vezes, a tendência para iniciar, de forma algo impulsiva, um novo relacionamento (a qual pode também ser alimentada pela pressão externa de familiares e amigos, com frases como “quando arranjares outra pessoa é que voltas a ser feliz”, “instala uma aplicação e vai conhecer pessoas novas” ou “só estás triste porque ainda estás sozinho”), ignorando algumas red flags.

Por este conceito entende-se o conjunto de pistas que nos alertam para comportamentos negativos da parte do outro que invalidam a construção de uma relação romântica saudável e que nos incitam a distanciar dessa mesma pessoa, evitando o perigo de carregar, novamente, um coração partido. O risco de ignorar estas bandeiras vermelhas é superior quando a pessoa em luto não respeita o seu tempo e espaço, o qual é imperativo para refletir sobre as relações e escolhas amorosas do passado e pensar sobre possíveis motivos que tenham contribuído para ignorar estes alertas no passado. Reconhecer esses sinais ajuda-a a identificar o que pretende e, por oposição, recusa numa relação, assim como o que exige de si própria, enquanto companheira, e do outro, para um potencial projeto de vida partilhada. Em poucas palavras, esse tempo de reflexão e autoconhecimento aumenta o risco de evitar tornar-se numa vítima de uma relação tóxica, por ignorar sinais de que, à sua frente, não estava o amor da sua vida, mas uma pessoa pronta a aproveitar-se da sua vulnerabilidade.

Um exemplo de red flag é o que a Psicologia das Relações denomina por love bombing – traduzido para a língua portuguesa como “bombardeamento de amor” – que se define por um excesso de atos de carinho, elogios cons­tantes e colocação da pessoa num pedestal que, na realidade, serve como ferramenta de manipulação, em que a pessoa manipuladora ganha o controlo total sob a outra que se apaixona por estes atos de alegado amor. Frequentemente, este fenómeno é acompanhado por atos de impulsividade, como um pedido de casamento – o qual é considerado precoce aos olhos dos demais, mas que, aos da pessoa apaixonada, é mais uma prova de um amor para a vida toda. Afinal parece mesmo a alma gémea… (ou se calhar, essa pessoa disse-o mesmo).

Outro sinal, remete para a tendência a surgirem episódios de humilhação e desvalorização (não raras vezes depois do período de bombardeamento de amor). Após a manipulação (quando o manipulador já tem a vítima “na mão”), surge a fase da desvalo­rização, crítica, desprezo e distância emocional, potenciando que a pessoa apaixonada duvide do seu próprio valor (impactando de forma drás­tica a sua autoestima e consequente papel ativo para terminar a relação).

Outro exemplo de alerta é a forma como a pessoa pela qual se está a apaixonar interage com a sua rede de amigos e famílias. Se, por um lado, não o apresenta aos mesmos após meses de relação e/ou recusa-se a falar do futuro, esta pode ser uma pista de desinvestimento emocional, que tende a estar associada a uma ausência de compromisso e de responsabilidade afetiva perante o seu bem-estar e o do relaciona­mento. Por outro, se a pessoa se tentar infiltrar, de forma insidiosa, na sua vida familiar e no seu círculo de amigos, por oposição à anterior, esta poderá ser uma falsa ten­tativa de demonstrar investimento emocional. Ao conquistar os seus amigos e família, fará com que não acreditem em si perante os de­sabafos negativos sobre o seu companheiro manipulador. Nos casos em que o agressor não consegue conquistar a rede social de suporte, existe uma tendência para identificar defeitos nos amigos, provocar confrontos e afastar a ví­tima de toda a gente – se a mesma estiver sozi­nha, sem o apoio dos demais, é mais fácil ser manipulada, controlada e viver para a relação.

Estes sinais permitem, como mencionado, prevenir o risco de (mais) experiências negativas. O objetivo não é, de todo, apavorar a pessoa em luto ou fomentar sen­timentos de culpa, mas somente po­tenciar a autocrítica relativa ao próprio funcionamento e consequente identificação de comportamentos não saudáveis que podem estar a contribuir para o respetivo mal-estar psicológico ou empurrar, sem se dar conta, para um novo relacionamento com as mesmas red flags do an­terior.

No livro “Virar a Página – Como lidar com o fim de uma relação”, são discutidas as dez principais bandeiras vermelhas a estar atento na construção de uma nova relação, assim como os dez passos para um processo de luto saudável aquando da perda de uma relação amorosa, entre outros recursos práticos baseados em evidência científica.


Mauro Paulino

Psicólogo Clínico na Mind | Instituto de Psicologia Clínica e Forense

Autor do livro “Virar a Página – Como lidar com o fim de uma relação” (PACTOR)

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