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Ao Som de Vallechi

Uma parte intrínseca de si, a música está presente desde que cantarolava canções e inventava melodias na infância. Introspectivo por natureza, vivia num mundo interior que lhe parecia muito mais vasto e enigmático do que o mundo exterior que o rodeava. No gravador, registava as melodias que ia criando. Mais tarde, teve acesso a uma guitarra e começou a tentar traduzir essas melodias de ouvido. Fazer da música uma forma de vida, foi algo que quis em determinado momento, após ter passado por bandas e explorado o lado mais performativo da música. Depois, seguiram-se noites a tocar música em bares no Bairro Alto e o despertar da atenção de vários clubes e promotores. Explorar o mundo do “DJing” foi, por isso, um processo natural. Distinguindo-se por fundir diferentes géneros musicais, lançou o seu primeiro EP “HOLD” em agosto deste ano.

Chama-se Tiago, mas no meio artístico apresenta-se como Vallechi. Quais as diferenças entre ambos?

Vallechi é um conceito, uma personagem simbólica que eu criei. Ele representa uma versão idealizada e exagerada de mim mesmo, um modelo de indivíduo que desejo ser. Através deste alter ego, posso explorar facetas da minha personalidade e da minha criatividade que, de outra forma, poderiam permanecer latentes. Ao personificar Vallechi, parte se  torna real.

Vallechi é um símbolo que me recorda a importância de procurar ser melhor, ousar ser diferente e buscar a autenticidade, mesmo que isso signifique transcender o que o “Tiago” representa no mundo real.

Créditos: Antonio Eugenio

Créditos: Antonio Eugenio

Como surgiu a música na sua vida? 

A música é uma parte intrínseca de mim, algo que sempre esteve presente.

As minhas primeiras memórias remontam à infância, quando me via constantemente a cantarolar canções e a inventar melodias. Estas composições pareciam uma trilha sonora incessante da minha mente, uma espécie de mantra que me permitia entrar em devaneios profundos e fascinantes. Eu era um introspectivo por natureza, vivendo em um mundo interior que me parecia muito mais vasto e enigmático do que o mundo exterior que me rodeava. Lembro-me de carregar um gravador e registrar essas melodias efêmeras. Mais tarde, na casa dos meus avós, tive acesso a uma guitarra e comecei a tentar traduzir essas melodias de ouvido.

Na época, eu não tinha muito a meu dispor, mas a música era infinita e poderia ter o quanto quisesse ter. Era também uma maneira de expressar o que eu sentia e de me conectar com o mundo de uma maneira que apenas a música poderia oferecer.

Teve formação em música clássica. O que o fez seguir pelo mundo do “DJing”?

Ao longo do meu percurso, comecei a questionar como poderia fazer da música não apenas uma paixão, mas uma forma de vida. Inicialmente, tive a oportunidade de participar em bandas, explorando o lado mais performativo da música. No entanto, a minha jornada passou por tocar música em bares do Bairro Alto. Para minha surpresa, essa experiência despretensiosa rapidamente chamou a atenção de vários clubes e promotores. À medida que essa procura aumentava, comecei a perceber que possuía um estilo único na seleção musical, bem como uma obsessão por misturar várias músicas num único set. Para mim, o ato de misturar faixas tornou-se uma forma de expressão musical, uma maneira de criar sonoridades completamente novas a partir das músicas existentes. Esta evolução natural do meu percurso, levou-me a explorar o mundo do “DJing,” onde a fusão de diferentes géneros musicais se tornou a minha assinatura distintiva.

Créditos: Maria Rita

Créditos: Maria Rita

Sendo a música um elemento tão importante da sua vida, como olha para ela?

A minha abordagem à música e ao “DJing” tem uma raiz profunda na criação de experiências que misturam os domínios do sonho com a realidade. A minha intenção é explorar artisticamente o nosso mundo interior para melhor compreendermos o nosso mundo exterior. Quando componho, não vejo a música apenas como uma série de sons, mas como uma narrativa emocional e visual. Procuro traduzir conceitos concretos em expressões musicais e visuais que transmitam uma mensagem e uma atmosfera específicas.

Acredito que a essência de criar música capaz de transformar e inspirar o mundo está a desvanecer-se, mas esta é a pedra angular de tudo o que estou a construir. A minha experiência de vida, incluindo uma década no Reino Unido, permitiu-me trabalhar em diversas áreas, desde moda até arte e música, colaborando com marcas internacionais. Esse percurso diversificado moldou a minha visão artística, incorporando elementos de música, tecnologia, arte, comunicação e imagem. A música que crio combina uma melancolia ponderada com uma visão otimista do futuro. O meu objetivo é trazer essa experiência para os clubes, onde a dança de olhos fechados é permitida, onde uma entrega total ao nosso mundo interior acontece.

Teve a música um impacto transformador na sua vida?

O meu processo criativo começa com a composição musical, onde utilizo a música como uma ferramenta para processar emoções e pensamentos profundos. Enquanto construo os loops musicais e crio as composições, mergulho num estado de transe, onde a música se torna uma ponte entre o meu mundo interior e o mundo exterior. Este processo é um meio de autoexpressão que me permitiu enfrentar pensamentos negativos e de baixa autoestima. Com o tempo, a música tornou-se uma força terapêutica que me ajudou a evoluir para uma nova realidade, caracterizada pela aceitação, felicidade e esperança.

Créditos: Laurent

Créditos: Laurent

O que é o conceito Psychomagic e como o sentimos na sua música?

O conceito de Psychomagic, criado por Alejandro Jodorowsky, envolve o uso da arte performativa como um meio de transformação interna. Psychomagic combina o mundo dos sonhos com a realidade, lançando novas luzes sobre as nossas visões e crenças. Na minha música, procuro incorporar este conceito, pois acredito que esta é uma forma de arte que nos pode conduzir a questionar e alterar a nossa perceção do mundo.

Através da reinterpretação de conceitos como “liberdade”, “a nossa perceção versus a realidade” e “as mágoas da vida”, a minha arte pretende criar um espaço para a discussão desses conceitos, em que os apresento numa linguagem contemporânea. A música, juntamente com as experiências visuais e emocionais que a acompanham, é uma ferramenta para questionar e mudar o nosso ponto de vista a um nível subconsciente. O meu objetivo é proporcionar uma plataforma onde tanto individual como coletivamente possamos evoluir, refletindo sobre o nosso mundo interior e exterior.

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