[wlm_register_Passatempos]
Siga-nos
Topo

Artrite Reumatóide: que doença é esta, que impacto tem no dia a dia e como se trata

A Artrite reumatóide (AR) é uma doença reumática, inflamatória, crónica, de causa desconhecida, na qual ocorre desregulação do sistema imunitário. É uma doença crónica, porque não tem cura, mas quando é tratada de forma adequada tem um bom prognóstico vital e funcional. Afeta as articulações e as estruturas em torno das articulações e causa ainda um conjunto variado de manifestações sistémicas, extra-articulares. A sua causa é desconhecida, mas pensa-se que para o seu aparecimento contribuem fatores ambientais diversos, com particular destaque para o tabagismo, que em pessoas geneticamente predispostas serão capazes de levar ao aparecimento da doença.

A sua prevalência nos países industrializados varia de 0,5-1,5% e estima-se que em Portugal afete 0,8-1,5% da população, existindo em Portugal mais de 40000 doentes com esta doença. É duas a quatro vezes mais frequente no género feminino e pode surgir em qualquer idade.

Os sintomas iniciais mais frequentes são a dor e tumefação (inchaço) das articulações de pequeno e médio calibre, nomeadamente as articulações dos punhos, tornozelos e dedos das mãos e dos pés. Associadamente ocorre rigidez, ou seja, “prisão dos movimentos”, de predomínio matinal ou após períodos de repouso, o que condiciona marcada incapacidade para a realização de tarefas simples do dia-a-dia; lavar os dentes ou apertar botões podem ser um verdadeiro desafio nas primeiras horas da manhã. Menos frequentemente a doença pode surgir de forma repentina e associada a febre, emagrecimento e fadiga. Pode afetar muitos órgãos tais como os olhos, a pele, os sistemas nervoso, respiratório, cardiovascular, renal e hepático.

O diagnóstico precoce e consequente tratamento dos doentes com AR é fundamental, porque esta doença condiciona destruição articular e das estruturas em torno das articulações e sabemos hoje que uma parte significativa deste dano ocorre nos dois primeiros anos de doença. Para além disso a dor associada à doença e as limitações funcionais para a realização de atividades muito simples do dia-a-dia são causadoras de perturbações do sono, limitam a capacidade de desempenho laboral e perturbam, seriamente a funcionalidade destes doentes, com taxas de absentismo laboral muito elevadas, em doentes não tratados.

Os doentes com AR podem ver a sua sexualidade comprometida em virtude das dores, das limitações funcionais, da fadiga, por perturbações da autoestima e quadros depressivos. Converse com o seu parceiro(a) e tente arranjar formas de relaxar e aliviar as dores antes do ato sexual, como tomar a medicação analgésica previamente, pedir uma massagem ao seu(a) parceiro(a) ou tomar um banho quente.

 A fertilidade de homens e mulheres com AR é habitualmente normal, mas pode ser afetada pela própria atividade inflamatória subjacente à doença ou por alguns medicamentos usados no tratamento da AR, sendo que alguns estão até contraindicados na gravidez, pelo risco de causarem malformações no feto. Se pretende engravidar fala primeiro com o seu Reumatologista. Idealmente deve engravidar numa fase em que a doença não esteja ativa e após suspensão atempada dos medicamentos contraindicados na gravidez. A maioria das mulheres com AR sente-se melhor das queixas relacionadas com a doença durante a gravidez. A amamentação é possível e o controlo da doença nesta fase e também durante a gravidez deve ser feito sob orientação do seu Reumatologista.

O tratamento dos doentes com AR deve ser sempre individualizado e realizado por uma equipa multidisciplinar e inclui medidas farmacológicas e não farmacológicas. Compete ao Reumatologista coordenador esta equipa que deverá incluir o médico de família, o fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, enfermeiro, nutricionista e psicólogo, bem como médicos de outras especialidades sempre que seja necessário.

Dentro das medidas não farmacológicas incluímos a promoção de hábitos de vida saudáveis, tais como: deixar de fumar; praticar exercício físico de forma regular, adaptado ao grau de atividade da doença; otimizar o peso; adotar hábitos alimentares corretos.

Dentro das medidas farmacológicas surgem na base do tratamento os medicamentos analgésicos, anti-inflamatórios não esteroides e corticosteroides, para aliviarem a dor e a inflamação, numa fase inicial da doença ou sempre que surjam agudizações, com vista ao controlo dos sintomas. Em paralelo devem ser usados fármacos modificadores da evolução da doença (DMARDs), que visam controlar a inflamação, aliviando a dor e reduzindo a rigidez e inchaço das articulações e idealmente induzir remissão clínica, evitando o aparecimento de deformações articulares. Incluem: “convencional synthetic” DMARDs (csDMARDs), tais como o Metotrexato, Leflunomida, Sulfassalazina, Hidroxicloroquina e os Sais de ouro; os “targeted synthetic” DMARDs (tsDMARDs), inibidores da Janus kinase, tais como o Baricitinib, Tofacitinib e Upadacitinib; os “biological synthetic” DMARDs (bDMARDs), anticorpos dirigidos contra citoninas pró-inflamatórias (TNF-alfa, IL-6, entre outros) envolvidas no processo inflamatório subjacente ao aparecimento da AR.

Como conclusão, podemos dizer que:

  • A AR é uma doença reumática muito prevalente.
  • Apesar de ser uma doença crónica, existem fármacos que conseguem controlar a atividade da doença, evitar a destruição articular e até atingir a remissão ou baixa atividade de doença, permitindo aos doentes ter uma vida perfeitamente normal.
  • São sinais de alerta para o seu diagnóstico:  o aparecimento de dores e inchaço das articulações, por vezes com calor local, associados a dores noturnas e prisão marcada de movimentos, após repouso, frequentemente associados a fadiga.
  • A orientação precoce para a consulta de Reumatologia e a ulterior orientação por uma equipa multidisciplinar são os pilares para a boa evolução dos doentes com AR.

Margarida Alexandre Oliveira

Diretora do Serviço de Reumatologia do Centro Hospitalar e Universitário da Cova da Beira, Covilhã (CHUCB)

Assistente Convidada da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior (UBI)

Veja mais em saúde

PUB