

Todos os anos são diagnosticados, em Portugal, 6 mil novos casos de cancro da próstata, dos quais morrem aproximadamente entre 1800 e 2000 homens. Segundo a International Agency for Research on Cancer (IARC) da OMS, em Portugal, só em 2022, o cancro da próstata teve uma incidência de 7529 casos, o equivalente a 20% de todos os tumores diagnosticados no sexo masculino.
Para assinalar o Mês de Sensibilização do Cancro da Próstata, que se assinala em novembro, falámos com Andreia Capela, médica oncologista e presidente da Associação de Investigação de Cuidados de Suporte em Oncologia (AICSO).

Andreia Capela, médica oncologista e presidente da Associação de Investigação de Cuidados de Suporte em Oncologia (AICSO)
Em Portugal, todos os anos há 6 mil novos casos de cancro da próstata diagnosticados, dos quais morrem aproximadamente entre 1800 e 2000 homens. Estão estes números a aumentar? Se sim, a que se deve esse aumento?
Em 2022, registaram-se 7500 novos casos, 2000 mortes por cancro da próstata e uma prevalência aos 5 anos de 29 000 casos (GLOBOCAN), contudo é importante enfatizar que a mortalidade é explicada sobretudo pela elevada prevalência. Em 2020, tínhamos 6700 novos casos e 1900 mortes. Tem havido uma tendência de aumento do número de novos casos desde 1998. A explicação para este crescimento não está totalmente clara, no entanto, alguns fatores contribuem para esse facto, nomeadamente o aumento da sobrevivência, do número de doentes com acesso a rastreio, do sedentarismo e da obesidade.
É este o cancro que mais afeta o sexo masculino?
Em Portugal, é o tumor com maior incidência nos homens (seguido pelos cancros colorretal, pulmão, bexiga e gástrico) e o terceiro em mortalidade masculina. No mundo é o segundo cancro com maior incidência nos homens e o quinto em mortalidade masculina.
Quais os sintomas que os homens não devem ignorar?
A prevenção e o diagnóstico precoce são a chave! Os sintomas são frequentemente associados a doença avançada. É importante os homens não ignorarem sintomas como alteração do padrão urinário, perda de sangue na urina, disfunção erétil, dor ao urinar ou durante o ato sexual. Contudo, convém relembrar que a maioria dos doentes com doença inicial não têm sintomas.
Como é feito o diagnóstico?
Inicia-se o estudo através de uma análise ao sangue, com avaliação médica no Urologista para decisão de exames adicionais, como a ressonância magnética e confirmação do diagnóstico com uma biópsia da próstata (picada da próstata por via transrectal).
Quais os tratamentos existentes?
Dependendo do estadio de doença, os tratamentos disponíveis são: o bloqueio androgénico, a cirurgia , a radioterapia, a braquiterapia, a quimioterapia, a hormonoterapia e moléculas alvo, e tratamentos de medicina nuclear.
Hoje em dia, é mais fácil conseguir vencer esta doença?
Hoje em dia, dispomos de várias opções para tratar os doentes, desde tratamentos locorregionais curativos, como a cirurgia e a radioterapia, bem como tratamentos sistémicos para a doença avançada, com intuito paliativo/controlo da evolução da doença.
Com a evolução da medicina, quais são as perspetivas para o futuro? Há novos estudos que sejam mais otimistas?
Sim. É uma área em constante evolução com expectativa de surgimento de novas moléculas com diferentes mecanismos de ação, combinações de tratamentos já em utilização, novas sequenciações. O presente deverá ser otimista com o futuro. A investigação nesta área é elevada e crescente e decorre em várias frentes com diferentes alvos.
Existem alguns cuidados que podem ajudar a prevenir esta doença? Quais?
Do ponto de vista da pessoa, individualmente deve existir uma preocupação de ter os cuidados de evitar os carcinogéneos já conhecidos e levar uma vida ativa e uma dieta adequada, nomeadamente rica em alimentos não processados como frutas e verduras, incluindo a redução do consumo de proteína animal. Além disso, importa haver uma abolição de tabagismo ativo e passivo.
No dia 17 de novembro será realizada a 7ª. Caminhada do Cancro da Próstata, que visa promover a importância do exercício físico e de outros hábitos saudáveis em doentes oncológicos. Qual é o impacto da atividade física nos doentes oncológicos e, especificamente, nos que sofrem de cancro da próstata?
O exercício físico tem comprovado alguns benefícios, nomeadamente na diminuição da perda de capacidade funcional e no controlo de alguns fatores de risco. No cancro da próstata especificamente é um importante adjuvante de controlo de efeitos adversos da terapêutica, por exemplo, o ganho de peso, o aumento de risco cardiovascular e de osteoporose, e a perda de funcionalidade física. O exercício físico pode ainda ter importantes benefícios psicossociais e emocionais.
Este é ainda um tema tabu para os homens. Porquê?
Os tratamentos do cancro da próstata afetam frequentemente alguns atributos da masculinidade e da função sexual. Além disso, causam sintomas desconfortáveis e impactantes da rotina diária. Contudo, doenças diagnosticadas precocemente podem ainda beneficiar de estratégias terapêuticas com preservação de funcionalidade sexual e urinária, limitando assim os impactos físicos e psicológicos. Um diagnóstico de cancro ainda hoje se reveste de uma conotação negativa em quase todos os tipos de cancro, porém a evolução científica tem permitido que os diagnósticos possam ser mais precoces e as intervenções mais individualizadas e eficazes, o que permite longas sobrevivências, limita os efeitos laterais e possibilita ao doente uma vida com mais qualidade.
O que deve ser feito para consciencializar os homens?
Para consciencializar a população sobre o cancro da próstata, especialmente os homens, é necessário contribuir para aumentar o conhecimento sobre esta patologia. Para tal, é fundamental pôr em prática ações que permitam:
- desmitificar o cancro da próstata e a abordagem da saúde sexual;
- apelar a uma consciência de si e à abertura a discussão do tema com o médico assistente;
- alertar para sintomas e para o seu reconhecimento, assim como a rápida procura de investigação;
- informar sobre o diagnóstico, o tratamento, o prognóstico, os efeitos a longo prazo e as estratégias de minimização de efeitos adversos;
- partilhar experiências e conter os tabus com abertura ao diálogo e à informação credível e fidedigna;
- dotar os sistemas de saúde de respostas rápidas e adequadas no tratamento dirigido à doença e no suporte e apoio ao doente na gestão dos efeitos da doença, aumentando desta forma a confiança e a sensação de segurança.
Caminhada do Cancro da Próstata
No âmbito do projeto ‘OncoMove’, a Associação de Investigação de Cuidados de Suporte em Oncologia (AISCO) vai realizar a 7.ª Caminhada do Cancro da Próstata, no dia 17 de novembro, às 10h00, na Douro Marina, em Vila Nova de Gaia.
A Caminhada do Cancro da Próstata consiste num percurso de 5 km, ida e volta, e visa consciencializar a população para a prevenção e diagnóstico precoce da doença, assim como promover a importância do exercício físico e de outros hábitos saudáveis em doentes oncológicos.
As inscrições encontram-se neste momento encerradas, mas poderá ainda participar na caminhada fazendo a inscrição no local no dia 17, sendo que está já não estará coberta pelo seguro.