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Falência ovárica prematura: o rejuvenescimento ovárico abre uma janela de esperança

Estima-se que uma em cada 100 mulheres com menos de 40 anos sofra de falência ovárica prematura. Essa cessação prematura da atividade dos ovários é um dos piores cenários para quem sonha com a maternidade, uma vez que a mulher deixa de menstruar. O rejuvenescimento ovárico abre uma nova janela de esperança para uma gestação com os próprios óvulos da mulher e, portanto, sem recurso à doação de óvulos.

Para perceber mais sobre a falência ovárica prematura pedimos ajuda à Dra. Catarina Godinho, ginecologista e especialista em medicina da reprodução da Clínica IVI.

Dra. Catarina Godinho, ginecologista e especialista em medicina da reprodução da Clínica IVI.

Dra. Catarina Godinho, ginecologista e especialista em medicina da reprodução da Clínica IVI.

“A reserva ovárica é composta de folículos primordiais (folículos muito pequenos que estão no ovário desde a sua formação e que constituem a reserva ovárica). Cerca de 1.000 desses folículos são ativados a cada mês e começam a passar por todas as fases de desenvolvimento até atingir a fase de óvulo maduro, num processo que leva meses. Muitos degeneram ao longo deste processo de desenvolvimento até restarem apenas um ou dois.

Quando iniciam seus ciclos menstruais, as meninas têm cerca de 300.000 óvulos disponíveis. A cada mês, geralmente só um óvulo chega à maturidade (ovulação), mas cerca de 1000 são perdidos, reduzindo progressivamente a reserva ovárica, ou seja, até que, por fim, se esgota (menopausa).

Há duas causas naturais que podem proporcionar o envelhecimento dos ovários: o encurtamento dos telómeros e a diminuição do número de mitocôndrias presentes nas células reprodutoras femininas.

Os telómeros são estruturas presentes nas extremidades dos nossos cromossomas (são eles que transmitem as características hereditárias). Em células jovens, os telómeros são compridos, mas à medida que elas se multiplicam, eles vão ficando cada vez mais curtos. A dada altura, a célula perde completa ou parcialmente a capacidade de se dividir.

As mitocôndrias são organelas microscópicas presentes em todas as células do nosso corpo e que produzem energia — cada célula pode ter centenas de mitocôndrias. Os óvulos, com o passar dos anos, tendem a ter uma quantidade menor de mitocôndrias, ou seja, perdem energia, dificultando a fecundação ou criando condições mais propícias a malformações fetais.

Em resumo, com a idade, os óvulos diminuem qualitativa e quantitativamente, causando frequentemente problemas reprodutivos.

Técnicas disponíveis

As diferentes técnicas de rejuvenescimento ovárico em estudo são muito promissoras, pois podem ajudar mulheres que respondem de forma insatisfatória a outros tratamentos de reprodução assistida, como a medicação para a estimulação do ovário.

Infusão de células pluripotenciais (ASCOT-1) – Esta técnica parte da ativação de células pluripotenciais presentes noutras partes do corpo que com estímulo biológico adequado convertem-se em células com funções ováricas. ASCOT-1 é uma técnica desenvolvida pelo IVI em que a partir de administração de fármacos que mobilizam as células pluripotenciais da medula óssea, aumentam a sua concentração no sangue periférico e produzem fatores de crescimento. A disponibilidade destes fatores permite a possibilidade de restaurar os processos fisiológicos implicados no recrutamento folicular e recuperar a função ovárica.

Reativação ovárica (OFFA) -Esta técnica consiste em ativar os folículos através do reimplante de tecido ovário previamente extraído e ativado no laboratório por técnica cirúrgica de laparoscopia. Uma porção do ovário é obtida e processada em diferentes fragmentos que se reimplantam de novo no ovário. Desta forma os folículos primordiais e silenciosos existentes no ovário reativam-se, crescem e desenvolvem-se. Apesar de ser necessário um procedimento cirúrgico, é realizado em regime de ambulatório e de baixo risco.

Regenera Ovário – Esta técnica consiste na administração de um pequeno volume de plasma enriquecido em cada ovário, num procedimento semelhante à punção ovárica. O procedimento é simples e realizado em regime  ambulatório. Esta técnica baseia-se em reequilibrar o ambiente biológico, imitando e acelerando os processos de regeneração do próprio organismo.

O futuro

Nos últimos anos, o IVIRMA, o maior grupo de Medicina da Reprodução do mundo, concentrou-se no desenvolvimento de novas alternativas para pacientes com reserva ovárica diminuída, cuja única opção era a doação de óvulos. Os nossos estudos anteriores mostram que o transplante autólogo de células mãe ováricas foi capaz de otimizar o crescimento dos folículos existentes, permitindo gestações e nascimentos de bebés de pacientes com baixa resposta ovárica e com mau prognóstico reprodutivo.

Num esforço para projetar uma técnica mais eficiente, mas também menos invasiva, foi recentemente desenvolvido um estudo experimental para testar a capacidade de diferentes fatores segregados pelas células mãe para reativar os ovários. Também foram testados outros fatores contidos nas plaquetas, que são a base do tratamento com PRP (plasma rico em plaquetas) proposto para mulheres com insuficiência ovárica. Neste estudo observou-se que diferentes fontes de plasma ou fatores de células mãe ou plasma do sangue do cordão umbilical foram capazes de induzir diferentes graus de vascularização ovárica local, proliferação celular, reduzindo a apoptose e finalmente promovendo o crescimento folicular em ratos com ovários danificados.

Estas descobertas sugerem que combinar os benefícios dos componentes não celulares da técnica ASCOT – infusão de células estaminais na artéria ovárica – com os fatores de crescimento contidos nas plaquetas pode melhorar e acelerar os efeitos regenerativos no ovário e ser um tratamento eficaz para pacientes com reserva ovárica baixa para usar os seus próprios ovócitos com resultados encorajadores.

A hipótese da qual os cientistas partiram era que o DNA mitocondrial sofreria mutações com o tempo, o que tornaria a produção de proteínas derivadas do DNA mitocondrial menos eficiente e, uma vez que a célula perdesse a capacidade de gerar energia de forma eficaz, envelheceria mais rápido.

Desde então, muitas outras teorias surgiram sobre como as mitocôndrias podem afetar a saúde e o envelhecimento das células. Alguns sugerem que problemas de fusão mitocondrial – entendo por fusão que as mitocôndrias se encontram ou se fundem – ou os problemas derivados do stress das mitocôndrias podem acelerar o envelhecimento. Esse cenário foi observado em testes em animais, causando o envelhecimento ovárico acelerado e danificando a reserva. Além disso, as mitocôndrias têm sido utilizadas como ferramentas de diagnóstico medindo o número de cópias de DNA mitocondrial como um prognóstico da saúde e da viabilidade do embrião.

E os estilos de vida podem potenciar o envelhecimento dos ovários?

O nosso estilo de vida tem um grande impacto na nossa saúde e, consequentemente, tem reflexos na fertilidade feminina. O stresse, uma alimentação pouco variada e equilibrada, o tabaco e o álcool, bem como um sono insuficiente e a atividade física excessiva podem prejudicar o bom funcionamento dos ovários e, consequentemente, a fertilidade feminina.

Cinco conselhos que favorecem a fertilidade e a saúde

1. Divirta-se! Saia de casa

Tentar engravidar não é sinónimo de repouso. Divirta-se, saia com amigos, sem excessos, claro. Programe também passeios a dois para relaxar e namorar. Marque uma visita a um SPA, sozinha ou para o casal. Cuidar da sua vida social, afetiva e do seu corpo vai ajudar a relaxar e a aliviar alguma pressão que possa estar a sentir em torno da gravidez. Por vezes o casal está tão focado na gravidez e nas mudanças que a maternidade implica que se esquece de outros aspetos da vida que são essenciais para manter o equilíbrio do corpo e da alma.

2. Respire, medite, pratique exercício

Não deixe que as tensões se acumulem no corpo. Os exercícios de respiração são uma ótima opção, uma vez que obrigam a pessoa a estar focada na respiração e não noutros assuntos que possam estar a perturbar a mente. A atividade física, que pode ser a caminhada ou a prática de uma modalidade, produz benefícios cardiovasculares, metabólicos, endócrinos e neurológicos.

3. Escolha bons alimentos e controle o peso

Evite os alimentos processados. Dê primazia aos alimentos naturais e faça uma dieta variada com sementes, grãos, legumes, proteínas animais e/ou vegetais e produtos não refinados, ricos em fibras. Os alimentos mais amigos da fertilidade são os que contêm vitaminas e minerais como: ácido fólico (ajuda a prevenir defeitos e malformações no feto), DHA – ácido docosahexaenóico (essencial para a saúde do nosso cérebro, olhos e neurónios, além de promover o equilíbrio hormonal nas mulheres), Vitaminas B, C, D e E (para o controle hormonal, desenvolvimento ósseo fetal, entre outros), selénio e cálcio. Uma alimentação variada, rica em produtos naturais evitará o excesso de peso corporal, grande inimigo da fertilidade. A obesidade também leva a um aumento das taxas de aborto e duplica o risco de morbidade fetal. Prepare lanches e refeições ligeiras saudáveis e faça piqueniques. Alie os piqueniques a dias ou tardes ao ar livre.

4. Partilhe ansiedades e medos

Não guarde os problemas só para si. Partilhe as ansiedades e medos com as pessoas mais próximas. Vai sentir-se mais aliviada e descontraída. É importante ter uma boa rede de suporte para se sentir menos pressionada. Se mesmo assim achar que não está a conseguir gerir as emoções sozinha ou achar que o problema da infertilidade está a prejudicar a vida do casal procure ajuda especializada.

5. Durma bem

Mantenha um ciclo de sono saudável para carregar baterias. É tão importante quanto a alimentação. Devemos dormir, no mínimo, oito horas por dia. O descanso adequado, com rotinas e horas certas para deitar e levantar vai melhorar a produção de melatonina no nosso corpo, que desempenha um papel importante no desenvolvimento dos folículos ovarianos.”

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