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Iris Cayatte: “A Hanna é uma miúda entre rapazes”

Chega hoje, dia 19 de outubro, aos cinemas nacionais mais um filme de Bruno Gascon, autor dos reconhecidos filmes “Carga” e “Sombra”. Com uma abordagem corajosa, a que o realizador português já nos habituou, “Pátria” aborda questões urgentes como a xenofobia e a liberdade de expressão, pretendendo despertar a consciência do público para estes temas.

A ação passa-se numa “distopia realista”, que retrata um país dominado pela opressão de uma ditadura. Neste ambiente sombrio, dois grupos enfrentam-se num momento em que os movimentos extremistas crescem nas ruas. Com o slogan “Liberdade ou Morte”, “Pátria” conduz o espetador a uma jornada emocionante e provocadora, incitando a reflexão sobre a importância de defender os valores fundamentais da liberdade. Neste filme pretendi criar uma experiência visceral que mergulhasse no âmago dos conflitos sociais e políticos. É uma obra de ficção, mas infelizmente muito do que vão ver no cinema é profundamente real“, afirma o realizador.

Ao lado de Tomás Alves e Rafael Morais, a atriz portuguesa Iris Cayatte dá  vida à personagem Hanna. Em conversa com a LuxWoman revela detalhes da sua personagem, bem como do filme. 

Iris Cayette

Iris Cayatte

Alguma vez pensou em não aceitar este papel?

Quando recebi o convite do Bruno Gascon para interpretar este papel e fazer um personagem tão violento, confesso que questionei várias vezes. Nessa fase da minha profissão estava a tentar sair um bocadinho dessa bolha das personagens mais fortes, que já tinha feito algumas vezes, sobretudo em teatro. Mas, quando li mais sobre a Hanna, percebi que ela também tinha um lado mais doce e que era uma sobrevivente. O facto de ela ser tão “maluca”, é porque tem de ser.

Como se preparou para um papel que é precisamente o oposto de si? 

Tentei encontrar as semelhanças entre nós, para depois, então, celebrar as diferenças e fazer justiça à personagem, que é de facto o completo oposto de mim. Politicamente e ideologicamente não poderia haver mais diferença.  No entanto, uma coisa que temos em comum é este “ride or die”, este companheirismo para com os amigos e para com as pessoas que amamos. Embora ela vá um bocadinho mais longe, sem dúvida, mas é porque tem motivos.

A preparação, em concreto, foi feita em conjunto com o meu colega Rafael Morais. Tivemos muitos dias os dois, até mesmo sem o Bruno, a passar o guião e a ver o que é que podíamos mudar. Foi, sobretudo, tentar encontrar a psicologia por detrás de Hanna e tentar perceber o porquê de ela ser assim, sem julgar. 

FRAME 12

Créditos: Filme“Pátria”

O que foi mais difícil para si?

Para mim, o mais difícil em interpretar este personagem, foi a parte da violência. Porque é uma coisa que eu começo a abominar, sendo que estamos a viver um período político e social tão negro, e ter de fazer um filme negríssimo e violentíssimo não foi fácil.

Recordo-me de a cena de luta no final do filme ter sido particularmente difícil para mim. Foram duas ou três noites com uma data de figurantes, com coreografias de luta que exigiam muita concentração e muita calma dentro do caos, porque não nos podíamos magoar, obviamente. Já estava bastante cansada e cenas muito violentas fisicamente e psicologicamente requerem sempre muita energia.

Quem é e o que podemos esperar de Hanna, a personagem que interpreta?

A Hanna é uma miúda entre rapazes. Ela faz parte do grupo SSK, que é o grupo neonazi. Juntamente com Jonas, personagem interpretado por Rafael Morais, é um bocadinho líder deste grupo. A Hanna tem muito sentido prático, é totalmente apaixonada pelo Jonas e faz qualquer coisa por ele. É um bocadinho cega nesse sentido. Ela tenta racionalizar esta violência e tenta puxar um bocadinho o Jonas à terra. Ao mesmo tempo, está sempre pronta para a bulha e é a primeira a liderar os rapazes na destruição da oposição. É patriota, luta pela justiça, pelo seu partido e pelas suas pessoas.

FRAME 3

Créditos: Filme“Pátria”

Que mensagem passa o filme?

Qualquer pintura, peça de teatro ou filme, tem sempre qualquer coisa a dizer. Não sei se todos os filmes têm sempre de ter uma mensagem concreta, mas acabam sempre, nem que seja subconscientemente, por ter. Neste caso, em específico, acho que o Bruno Gascon quis mesmo falar sobre opressão, sobre política, sobre os grupos extremistas que já aconteceram no passado, mas que pelos visto continuam a acontecer. 

O filme acaba por falar sobre a cegueira com que as pessoas ficam quando estão sob influência de uma ideologia, de um partido ou de um líder. E, se calhar, quem vai ver este filme pode pensar nisso. Espero que as pessoas saiam da sala de cinema a sentir que ser um carneiro nos dias de hoje é muito perigoso. 

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