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Jani Zhao: inquietação Vs otimismo

A atriz aceitou desconstruir-se no editorial de moda que acompanha a nossa edição de Janeiro, no qual se vê refletida enquanto mulher adulta e cada vez mais consciente do seu papel na sociedade. Chamar a atenção para alguns dos seus valores – como a representatividade, a sustentabilidade e a igualdade de género – é o que pretende.

Numa conversa tão intimista quanto fluída e, ao mesmo tempo, informal e profunda, a atriz portuguesa Jani Zhao – 29 anos, mãe há dois – pondera e propõe algumas das suas reflexões. O cuidado com o planeta e o futuro das novas gerações, a maternidade, a igualdade de género, a representatividade na sociedade e o racismo estrutural são alguns dos temas que abordámos. Numa altura em que se prepara para integrar o elenco do filme Aquaman and the Lost Kingdom, a sequela de Aquaman, da Warner Brothers e DC Comics, a atriz, que nada pode revelar sobre a sua participação no projeto, sente-se numa fase de mudança que acompanha, também, uma mudança de visual que há muito vinha a ser preparada. “As duas situações andam quase sempre de mãos dadas: ou é uma mudança interna que proporciona uma mudança externa ou vice-versa. Claro que o facto de mudar algo na minha imagem exterior tem um impacto na maneira como me vejo e pode impulsionar uma reflexão quase direta. Há uma mudança exterior e há também algo que faz com que pense: então como é que estás? Como é que tu és? Como é que te vês e onde é que tu te encontras? Há uma reflexão sobre a questão da mulher não ter de ter cabelos compridos, não ter de usar saia, não ter de usar saltos, não ter de usar maquilhagem todos os dias, não ter de fazer as unhas, não ter de pintar o cabelo… Ter agora o cabelo curto, ter um look dito mais masculino, sugere, também, essa reflexão: o que é que, de facto, isso significa? O que é um look masculino ou um look feminino? Hoje em dia há que quebrar essas construções, essas ideias e esses conceitos e por isso é que me deu tanto prazer ver-me num look tão diferente daquele que tive durante anos. Foi uma mudança muito bem-vinda e muito feliz.”

Constante evolução e inquietação

A sua participação neste editorial foi motivada não só pela permanente vontade de se ver de múltiplas formas e de se desconstruir, mas também com o intuito de partilhar e sugerir a sua inquietação sobre o futuro. “Brincar com a nossa imagem é sempre uma maneira de brincarmos connosco próprios e com a maneira como nos vemos. É isso, também, que move um performer, um artista, um criador… É o podermos brincar connosco e vermo-nos de várias formas. É tentar desconstruir-me ao máximo… De facto, entrei numa fase da minha vida diferente, seja ela o que for, porque se trata de uma descoberta diária. Mas é através das imagens que conseguimos captar a nossa essência, que conseguimos ver-nos de uma forma um bocado distanciada”, justifica a atriz que admite ver-se, pela primeira vez, como uma mulher adulta. “Pela primeira vez na vida vejo uma mulher, uma pessoa adulta, com uma criança interior, sim, – e nunca a quero deixar, porque é fundamental para ter alegria, imaginação, criatividade e capacidade de desconstruir e de inventar – mas vejo uma mulher. Uma mulher na descoberta, na luta, na tentativa. Nestas imagens não vejo a ideia de que estou bem, plena e feliz. Vejo muito mais uma mulher inquieta e é assim que espero que me vejam. É essa inquietação que espero despertar em quem me vê. Espero que seja uma inquietação que nos faça querer ser sempre melhores!”

Responsabilidade social

Consciente do poder que tem, enquanto atriz e figura pública, Jani não hesita, sempre que tem oportunidade, em dar voz a algumas das causas que defende e a sua participação neste editorial não é exceção. “Sinto que, cada vez mais, todos temos uma grande responsabilidade social e, também por isso, fiz este editorial. Há alturas em que devemos estar na toca, connosco, na nossa vida, e há outras alturas em que temos de sair. Tendo a oportunidade, podendo ter voz, que muita gente não tem, sinto-me muito privilegiada por poder fazer parte de uma mudança que é uma luta diária, é uma conquista diária e é uma frustração diária, também, mas é aquilo que me move.” A atriz, de ascendência chinesa, faz questão de lembrar quão importante é a representatividade de todas as etnias, raças e géneros em todas as áreas da sociedade. “Move-me poder fazer algo pela representatividade, não só em Portugal, mas também lá fora… Tenho tido a oportunidade de o fazer e vou continuar a fazer todos os possíveis para abrir caminho para outras pessoas. Quando era mais pequena não me via representada e hoje, alguém que me veja, vai sentir-se representado e incluído. É este sentimento de inclusão e de pertença que é tão importante passar. Move-me esta questão da representatividade. Por outro lado, move-me, também, poder fazer algo pela igualdade de género. Esta questão da mulher ter sido submissa durante anos e ter um lugar muito específico na sociedade é algo que tem de mudar. Infelizmente, há muitos países que estão a piorar. Como é que uma pessoa vive sem direitos e sem liberdade? Como é que uma pessoa lida com isso?”, reflete a atriz assumidamente feminista. “Feminista ou antimachista! E antissexista e antirracista! Hoje em dia, quem não é ‘anti’ estes conceitos é cúmplice. O silêncio é cúmplice. Não dá para ter uma posição neutra nestes temas. Já basta de estarmos numa situação em que não nos posicionamos porque o nosso posicionamento é necessário!” Este posicionamento, que considera tão necessário quanto urgente, pode consistir, também, em pequenos passos que irão ajudar a combater o machismo, ou o racismo que conclui ser estrutural. “Não podemos permitir conversas do ‘estava a brincar’. Já não podemos compactuar com isso. Não podemos deixar perpetuar. Devemos educar, devemos explicar. Estas questões devem estar na ordem do dia e têm de ser assumidas e enfrentadas. Tem de haver um posicionamento. Não dá para estar num cantinho confortável… O racismo é estrutural, está enraizado, no dia a dia, nos nossos hábitos e nos nossos pequenos pensamentos e é preciso refletir e lutar para que isso mude. É preciso lutar por direitos iguais para todas as pessoas, sejam de que raça, etnia ou género forem. É mesmo cada vez mais importante! A pessoa ser o que é não a pode incapacitar ou impedir de ser o que quiser ser. Ou de fazer o que quiser fazer. Isso é viver numa sociedade opressora. Já chega de politicamente correto.”

O desafio da maternidade e o futuro

“O grande desafio da vida, para mim, nos próximos tempos, vai continuar a ser a maternidade. Depois de ser mãe há muito pouco que seja maior do que isso. Claro que, em termos profissionais, há desafios mas depois da maternidade há uma capacidade de relativizar muito grande e há um bem maior que é transversal”, salienta. O filho da atriz, Lee, tem dois anos e é por ele e pelas futuras gerações que o desrespeito pelo planeta e pelos seus recursos é outra das suas grandes preocupações. “Não estamos sozinhos. Não estou apenas comigo. Tenho uma responsabilidade perante um ser que é dependente, que não percebe nada disto e tenho o dever e a obrigação de deixar o melhor mundo possível para o meu filho, para a sua geração e para as seguintes. É muito contraditório os pais terem hábitos prejudiciais ao futuro do planeta”, sublinha. Se por um lado, a pandemia trouxe a oportunidade de estarmos mais próximos e mais conscientes, segundo a artista, o tempo pode não ter sido bem aproveitado. “Tivemos a oportunidade de estar mais connosco, com os nossos e com o tempo que muita gente queria e não tinha, mas tenho receio que esse tempo não tenha sido bem aproveitado. A individualidade já estava muito presente e a pandemia, em vez de nos trazer uma coletividade, um maior sentido de comunidade, uma maior responsabilidade cívica, veio fazer com que as pessoas estejam, ainda, mais viradas para si próprias. Não há bom senso, nem companheirismo, nem empatia. Tem havido uma falta enorme de empatia. Termos a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro e sentirmos aquilo que o outro está a passar, independentemente da nossa dor, da nossa luta, da nossa tristeza, ou dos nossos obstáculos serem maiores ou mais difíceis do que os do outro. Mesmo a questão do respeito pelo meio ambiente… Agora que sou mãe, preocupa-me mais ainda o impacto que o nosso comportamento terá no futuro das novas gerações.”

A que mudanças gostaria de assistir?

“Gostava que deixássemos de ser tão céticos em relação à mudança, em relação às mudanças. Em relação à igualdade de género, aos direitos humanos, em relação à ecologia. Não são só as grandes empresas que têm de mudar. Todo o esquema que está estruturado e montado é muito difícil de romper… E isso é muito angustiante, o futuro é angustiante nesse sentido…”, confessa para prosseguir salientando que é necessário não baixar os braços: “É preciso agir. Todo o nosso esforço tem de ser nesse sentido. Temos de mudar de hábitos. É difícil, mas é muito mais difícil pensarmos na possibilidade, que é real, pois já estamos na reserva dos recursos naturais, de que aconteça o pior. Tenho uma visão otimista do mundo, porque se não tivesse, não teria sido mãe, mas, sem dúvida, urge falar sobre o futuro do planeta, o nosso futuro, dos nossos filhos e dos nossos netos. E a verdade é que nós temos, de facto, a capacidade, de mudar! E temos mesmo de mudar! Não se trata de uma questão filosófica. Trata-se de uma questão prática. Temos de mudar de hábitos, temos de encontrar alternativas e temos de pensar mais uns nos outros, no outro e no futuro de todos.”

Aprecie a beleza e a versatilidade da atriz, no editorial ‘Camaleónica’ na nossa edição de janeiro, já nas bancas.

Fotografia Sara Saraiva by Brandfire

Maquilhagem Frederico Simão

Styling Diogo Raposo Pires

Vídeo Ana Rocha Néné by Brandfire

Agradecimentos Brandifre

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