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Na Passarela da COP28: entre Tendências Sustentáveis e a Nuvem de Incertezas

Com o encerramento oficial da COP28, a comunidade internacional encontra-se num ponto de equilíbrio entre a esperança e um profundo descontentamento. Embora aplausos ecoem pelo progresso alcançado, uma corrente de desilusão persiste, especialmente na perceção de falta de comprometimento dos governos e na influência dos lobbies, sobretudo no que diz respeito à eliminação dos combustíveis fósseis. A expectativa por ações resolutas parece confrontar-se com uma realidade mais cinzenta, suscitando reflexões sobre o real compromisso por detrás da retórica e os passos concretos necessários para uma transição significativa para longe da dependência do petróleo.

No caleidoscópio das questões globais discutidas nos diversos eventos da COP28, os holofotes também se voltaram para a indústria da moda. Para além do seu fascínio estético, a moda foi mencionada como um elemento fundamental na formação das nossas identidades e de como nos vemos, e na criação de senso de pertença. A omnipresença da moda tornou-se um ponto importante na discussão, reconhecendo a sua natureza global que transcende fronteiras e exerce uma substancial influência política, económica e cultural.

Enquanto gigante da indústria transformadora, a indústria da moda não só molda os guarda roupas, mas também as economias, empregando milhões de pessoas em todo o mundo e contribuindo significativamente para o comércio e o crescimento económico, bem como tendo um grande impacto nas comunidades. Com uma receita global estimada em cerca de 2,5 mil milhões de dólares, poucos setores podem rivalizar com a capacidade da moda de se envolver à escala global e, ao mesmo tempo, permanecer intensamente pessoal.

Esta conjuntura oferece ao setor uma oportunidade única de liderar o percurso num caminho sustentável, em concordância com as metas do Acordo de Paris. No entanto, e como sabemos, esta indústria abriga uma verdade menos glamorosa – uma contribuição significativa para as emissões, muito desperdício e uso intensivo de recursos, que permanecem sem serem resolvidos e que têm de ser endereçados urgentemente.

Entre os diversos temas debatidos nos vários eventos e painéis de especialistas, alguns dos que tiveram principal destaque foram a necessidade de colaboração entre todas as partes envolvidas na cadeia, a inovação de materiais e processos, a transição energética e a legislação.

O tema talvez mais retumbante das discussões: a abordagem colaborativa entre governos e privados, entre diferentes marcas e entre as marcas e as comunidades (sim, as comunidades têm de começar a ser chamadas para as discussões, uma vez que são as principais partes afetadas). Existe um poder transformador nas colaborações, especialmente quando baseadas em mentalidades sustentáveis partilhadas.

Uma necessidade de mudança de paradigma fica evidente; é necessário que se deixe de falar uns dos outros e se comece a falar uns com os outros. O apelo foi para que todas as partes envolvidas se comprometam ativamente no diálogo, finalmente em medidas concretas e em projetos colaborativos para o bem comum. Isso significa transcender barreiras competitivas e compartilhar insights, recursos e iniciativas. Percebeu-se com vários exemplos que o impacto coletivo dos esforços supera em muito a soma das contribuições individuais, anunciando-se uma nova era de responsabilidade coletiva. Mentalidades iguais e sustentáveis geram resultados positivos!

Estas colaborações podem resultar em inovações tecnológicas que levam à produção de novos materiais e novos processos.

A maior parte das emissões relacionadas com a moda provêm dos processos de produção. Isto serve como o alarme para reavaliar a forma como a indústria cria. A ênfase em ‘fazer melhor as coisas’ deverá abranger um espectro maior, desde o fornecimento de matérias-primas até às técnicas de fabrico, transporte, uso e descarte.

Contudo, nem sempre a inovação é fácil de implementar. Embora haja cada vez mais investimento em novos materiais, com menor impacto e igual performance, muitas das vezes é difícil ‘escalar’ a produção de forma que se tornem viáveis para as marcas começarem a usá-los nos seus produtos finais.

Foi igualmente enfatizado o papel da legislação, que continua a ser uma das ferramentas mais importantes para responsabilizar e levar à mudança.

Todos os envolvidos, sabendo as alterações na legislação sobre o têxtil que estará aí em breve, devem começar já a preparar-se; saber como vão ser afetados, o que lhes vai ser exigido e como podem desde já começar a implementar as mudanças necessárias. Tudo para que estas novas leis não se tornem um ‘banho de sangue’ na indústria.

É preciso igualmente ter em conta que, embora possa em muitos casos haver realmente vontade em investir em tecnologias menos poluentes e em fontes energéticas renováveis, nem sempre a realidade dos atores envolvidos assim o permite. Isto porque a sustentabilidade ainda não é, na sua maioria, uma forma de lucro. Pelo contrário, significa quase sempre custos acrescidos e aumento de preço, nem sempre aceites pelo consumidor. Daí se ter focado na importância do financiamento, extremamente necessário para ajudar na transição (realmente) verde.

Um termo interessante que foi mencionado na COP e que resume o que é necessário fazer daqui para a frente é o Quadruplo A: Action (Ação), Accountability (Responsabilidade), Advocacy (Advocacia) e Ambition (Ambição).

À medida que a indústria da moda luta com o seu papel na agenda de sustentabilidade global, estas principais conclusões da COP28 sublinham a necessidade de transições personalizadas, processos de produção renovados, mentalidades colaborativas e um compromisso com o bem estar coletivo. E apesar de todas as discussões, ideias promissoras, e chamados à ação, percebemos que grande parte ainda se mantém no âmbito teórico, com resultados poucos práticos e com uma necessidade urgente de uma implementação efetiva.

Artigo de Opinião de Sara Celina

Sara Costa

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