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No Dia dos Irmãos falamos-lhe de duas “Inspiring Sisters” (ENTREVISTA)

A 31 de maio celebra-se o Dia dos Irmãos. Para assinalar a data, a LuxWOMAN foi conhecer a história de Cátia e Rita Curica, duas irmãs que também no seu percurso profissional resolveram seguir lado-a-lado esta caminhada.

Desde muito cedo, que os problemas de pele com que se depararam fizeram com que explorassem todo um universo de produtos até se cruzarem com a cosmética biológica, fora de Portugal. Foi a pensar nesta lacuna dentro do nosso país, que as duas irmãs abriram a primeira loja Organii, no Chiado, Lisboa, em 2009. A Organii foi crescendo e hoje conta com cinco lojas, um mercado anual – o EcoMarket -, e uma marca própria, a Unii.

Fomos conhecer melhor o percurso das “Inspiring Sisters” Cátia e Rita Curica, perceber melhor o que é a cosmética biológica e qual a aceitação destes produtos em Portugal, desmistificando ainda algumas crenças enraizadas.

LuxWOMAN: A vossa história é a prova de que há sempre um lado positivo mesmo no que de mau, por vezes, nos bate à porta. De certa forma, foi assim que nasceu a Organii. Começava, então, por perguntar como surgiu este projeto?

Cátia: Em família fomo-nos deparando com várias situações: tínhamos alergias de pele e fazíamos reações diversas, desde irritações, borbulhas, rash, eczemas, crostas no escalpe. Fazíamos reações a produtos de farmácia, perfumaria, a produtos hipoalérgicos e sem nunca perceber o motivo. À medida que crescemos, fomos contactando com a cosmética biológica, experimentando, testando, sobretudo fora de Portugal, que ainda pouca ou nenhuma oferta tinha neste sentido. Quando entrei na faculdade de farmácia fui estudando os ingredientes e apercebendo-me que as nossas reações de pele eram fruto do contacto com os ingredientes sintéticos das formulações.

Rita: Quando se vive em preocupação constante com as possíveis reações e de repente descobrimos produtos que podemos usar, no corpo, rosto, cabelo, dias seguidos, sem qualquer alergia ou sensibilidade, percebemos: ” isto tem de ser partilhado com pessoas que sofrem como nós”.

LuxWOMAN: Em 2009 era tudo muito diferente do que é hoje. Como foi enveredar num universo (“Bio”) tão desconhecido para a generalidade das pessoas?

Cátia: Em 2009 abrimos a nossa primeira loja Organii, no Chiado, e que foi também a primeira loja de cosmética biológica em Portugal, um conceito que tinha tanto de inovador quanto de desconhecido. Há 12 anos, era mesmo quase inexistente a informação sobre o que é este mundo bio. Tínhamos de explicar tudo. Mas agora as pessoas já sabem, vêm com perguntas específicas e que denotam investigação. Querem mudar de desodorizante e perguntam logo se tem alumínio. Já estão muito mais informadas. Muitas dessas grandes marcas até acabam por despertar o cliente para o bio, mas depois o verdadeiro biológico é um caminho que alguns vão fazer. Como em todas as áreas há muito mais informação, mas também muita informação difusa e muito Greenwashing. Existimos também para ajudar as pessoas a percorrer este caminho não só na cosmética, mas também na alimentação, detergentes, entre outros.

LuxWOMAN: Começaram com uma loja, no Chiado, em Lisboa, e atualmente têm cinco espaços abertos. Essa necessidade de crescer impunha-se?

Rita: Quando abrimos a primeira loja, e sendo um projeto em família, era aquilo que queríamos e conseguíamos lidar. Aprendemos muito com o negócio e daí irmos crescendo. Já tivemos lojas em locais que com o passar do tempo deixaram de fazer sentido. Vamos sempre ouvindo os nossos clientes e evoluindo com eles. Expandimos a oferta para o Day Spa para que pudéssemos oferecer a experiência dos nossos produtos aplicados a tratamentos de rosto e corpo. Queremos criar a experiência Organii, que as pessoas venham e se sintam bem acolhidas, que sintam que é um espaço onde podem tirar dúvidas, aprender sobre estes temas, mas, acima de tudo, este modo de vida. Muitos dos espaços foram convites pessoais (como a Embaixada, no Príncipe Real, em Lisboa) ou a pedido de clientes.

LuxWOMAN: Que produtos são estes que nos apresentam? Que benefícios nos trazem? São muito exigentes e seletas nas marcas com as quais trabalham?

Cátia: Todos os produtos que temos são testados por ambas. Recebemos amostras, cheiramos, analisamos ingredientes e formulações, testamos, comparamos. Visitamos as marcas, as fabricas, conhecemos as pessoas. Pensamos sempre em produtos que vão ao encontro das necessidades dos nossos clientes e das tendências do próprio mercado. E são sem dúvida um dos veículos de diferenciação. Mas também os projetos, as pessoas e as suas famílias por detrás deles também tem de ser inspiradores. É todo um bolo entre gente com vontade de fazer a diferença no mundo e bons produtos! No fundo, o que quisemos com a Organii foi fazer uma curadoria pelo cliente, dar-lhe a confiança de que estivemos a estudar estes produtos e que são verdadeiramente naturais. Ao qual juntamos o nosso know-how de tratar e aconselhar sobre como ter uma pele saudável, bonita e luminosa. Mas temos muito orgulho nas nossas marcas. Até porque, para terem estas certificações, estes cosméticos não podem usar derivados do petróleo, produtos sintéticos, mas sim extratos naturais e de agricultura biológica ou colheita selvagem. Nos seus processos de extração não usam solventes, não usam nada que seja poluente e químico. Como conservantes usam o vácuo, óleos essenciais, aloe vera. Também não usamos produtos testados em animais, além de temos cuidados com as embalagens e tintas e percebermos se as fábricas usam energias renováveis.

Rita: Somos semanalmente contactadas por marcas que querem trabalhar connosco uma vez que a oferta é cada vez maior. Nestes casos tentamos primeiro perceber se estas marcas têm certificados. Depois estudamos os valores e a proposta de valor de cada uma das marcas. Há marcas, com que trabalhamos há muitos anos, em que conhecemos os fundadores, acompanhamos o crescimento dos seus projetos e identificamo-nos com o seu trabalho e projetos. Marcas como a Voya ou a Mádara estão connosco há 12 anos.

LuxWOMAN: Hoje em dia, as pessoas já acreditam no poder dos produtos naturais? É este o futuro? Há ainda muitos mitos por derrubar? Quais?

Cátia: Mais do que mitos, existe desinformação. E é curioso como existe desinformação ao mesmo tempo que existe um excesso de oferta informativa. Um dos mitos é que os produtos biológicos não têm químicos ou que os bons produtos são produtos naturais. Um produto bio é aquele que é mesmo natural, porque, por lei, para ser natural, basta ter um extrato do mundo natural e tudo o resto ser sintético e conter derivados do petróleo, silicones e conservantes. Mas também que os produtos naturais são isentos de tecnologia o que também não é verdade. A ciência do mundo natural está a desenvolver-se muito à medida que aumenta muito a procura. Para mim será o futuro sem dúvida! O consumidor será cada vez mais informado e exigente e as marcas terão que se ajustar ao que os consumidores querem. E o consumidor do futuro quer produtos melhores para a pele e também para o planeta.

Rita: Nem é preciso entrar no mundo dos sulfatos, parabenos e outras possíveis ameaças para ficar alerta com o facto de cerca de 95% dos cosméticos tradicionais “alimentar-se de petróleo”. Qual é a parte do nosso corpo que se alimenta de petróleo?! Mas haverá sempre muitos mitos a derrubar porque as grandes marcas e o seu marketing fazem afirmações que são difíceis de comprovar pelo individuo não técnico. Mitos como o que é natural, biodegradável, verdadeiramente amigo do ambiente, dos animais. Muitos mitos ainda para explorar.

Cátia: Depois existe o mito que é sobre a eficácia, sobretudo em termos de antienvelhecimento, dos produtos naturais. Nunca conseguiremos travar o envelhecimento. O que conseguimos é travar o envelhecimento precoce, que está a ser acelerado pelo nosso estilo de vida. Nesse aspeto, a cosmética bio até é mais eficaz. A convencional está sempre muito focada em disfarçar, a pensar no agora. Queremos uma pele funcional durante mais tempo, pensar a longo prazo. Por último, e um dos mitos mais comuns é que que é preciso fazer um grande investimento para se ter produtos biológicos.

LuxWOMAN: Contrariam a ideia de que os produtos Bio são mais caros?

Cátia: À medida que vão existindo mais marcas e oferta diversificada, os preços começam a uniformizar-se. Atualmente temos marcas de qualidade muito elevada, biológicas, e com diversos preços. O preço terá sempre muito a ver com marketing. Para ser bem explícita, existe hoje uma perceção, a meu ver, muito distorcida do preço, porque existem produtos demasiado baratos em todas as áreas. Quando temos um litro de gel duche a 1 euro no supermercado o que paga isso? Os ingredientes? A embalagem? O rótulo? O transporte? Por isso, um cosmético biológico que pretende gerar comércio justo em toda a sua cadeia de valor não pode descer a determinados níveis. Mas também é um facto que temos muitos produtos abaixo dos 10 euros.

Rita: Obviamente que todo o processo biológico implica ingredientes e processos que não se coadunam com a produção massificada, o que acaba por encarecer o preço quando comparamos com as grandes multinacionais. Existe cosmética bio a um preço em conta. Mas há níveis abaixo dos quais não é possível produzir sem perder a ética, na cosmética, na alimentação, na roupa. É transversal a tudo. Mas também é possível ter cosméticos biológicos de elevada qualidade e a preços muito mais em conta que muitos produtos que se encontram nas perfumarias. Depende das concentrações dos ingredientes, dos ingredientes escolhidos e do grau de investigação. Mas diria que a cosmética biológica familiar (feita por pequenas empresas locais) tenta sempre ter um valor mais justo e mais transparência na sua forma de dar um preço.

LuxWOMAN: É ainda um mercado em expansão? Pode dizer-se que é um negócio rentável?

Rita: A cada ano que passa, e sobretudo com o crescimento de plataformas online como o Instagram, sentimos que as pessoas estão em modo escuta ativa, querem mudar o seu estilo de vida, cuidar para prevenir e, por isso, começam a explorar influenciadores e marcas que realmente os ajudem neste processo. Compreendem os malefícios de produtos de síntese e derivados do petróleo, compreendem a proposta de valor dos produtos e os benefícios no médio longo prazo, por isso, sim, é um mercado em expansão.

Cátia: É rentável sim, mas não para o padrão de lucro de uma multinacional. É rentável, mas não para se ficar milionário [risos].

LuxWOMAN: A par com o conceito do espaço físico, lançaram também um mercado anual, o Organii EcoMarket. Foi o primeiro Mercado do género? O que podemos encontrar aqui?

Rita: Ao longo destes anos, fomos conhecendo muitos produtores portugueses que nos encantavam com o que estavam a fazer. Pensamos em oferecer um evento familiar, para quem gosta de compras originais, aprender a fazer coisas novas, comer bem, e saber mais sobre a sustentabilidade. O EcoMarket foi o primeiro evento de lifestyle que reuniu única e exclusivamente marcas, projetos e produtos que se regem por princípios e práticas ecológicas. Mais do que mais um Mercado, um espaço de partilha Bio, Eco, Fair-Trade, Cruelty free.

Cátia: Depois da 1ª edição, em 2017, percebemos que valia a pena investir, ter mais edições e fazer do mercado um ponto de encontro. Além de muito mais espaço, o número de marcas subiu. São pequenos negócios, artesãos e produtores, muitos deles sem capacidade de garantir stocks para uma presença permanente numa loja.

LuxWOMAN: O EcoMarket realiza-se sempre no mesmo local? Como funciona? Quantas edições já realizaram? Este ano vamos ter uma nova edição?

Rita: Já realizamos 4 edições. Começámos no LxFactory em 2016 e 2017 e nas duas últimas edições, fizemos no Armazém 16, em Marvila. O programa conta com oradores, palestras, workshops e empresas a expor produtos.

Cátia: Mas este ano não vamos ter nova edição. Para voltar, precisamos de ter a certeza que podemos juntar 10.000 num mesmo local fechado. E é um mercado que era para nós uma festa e um grande convívio. Só voltaremos a fazer quando não existirem restrições. Caso contrário, não faz sentido.

Quantas marcas conseguem reunir no Mercado e nas vossas lojas?

Rita: No último EcoMarket, em 2019, tivemos mais de 100 marcas a participar, o que nos deixa de coração cheio. Nas lojas Organii, contando com a nossa marca Unii, temos mais de 20 marcas connosco.

LuxWOMAN: Quais os produtos com mais saída e aqueles que são mais difíceis de conquistar os clientes?

Cátia: A nossa marca Unii é uma marca muito querida. É descomplicada e tem um preço qualidade que consideramos incrível e por isso é fácil para os nossos clientes começarem a experimentar e, aos poucos, alargarem a experimentação. Depois temos a Mádara, uma marca da Estónia com uma gama muito alargada, para vários tipos de cuidados de pele, com um packaging e uma comunicação muito moderna, o que, conjugando com um preço idêntico a uma marca de farmácia, faz com que seja facilmente escolhida pelos clientes. Mas cada uma das nossas marcas tem uma história que a diferencia.

Rita: Mais difícil de conquistar são os produtos específicos, as curas, os boosters, as máscaras. Estes são os produtos que precisam de mais explicação, que são mais desconhecidos.

Em 2018, lançaram uma marca própria, a Unii, de que nos falou em cima? Podem-nos falar um pouco desta marca/conceito?

Cátia: Em 2016 começamos a delinear este novo projeto a que chamamos Unii – Organic Skin Food. O nosso objetivo era oferecer a linha mais pura de produtos cosméticos biológicos que existisse. Com ingredientes portugueses, alguns dos quais únicos, em Portugal ou na Península Ibérica. E claro, com isso estimular os produtores nacionais. É também feita a pensar nas peles do mediterrâneo, mais húmidas e menos secas. Somos cientistas, otimistas e profundamente ecologistas. Isso significa que somos adeptas do minimalismo e do baixo impacto ambiental. Daí a Unii ter uma política de baixo impacto ambiental e ser desperdício zero.

LuxWOMAN: Hoje em dia têm toda uma estrutura montada, inclusive um departamento comercial. É um negócio difícil de gerir?

Rita: É um desafio constante. Distribuímos as nossas marcas a parceiros que com as mesmas se identifiquem e por isso temos o importante papel de lhes chegar com as mensagens certas. Ao mesmo tempo gerimos 5 lojas físicas, um negócio online que em 2020, como tantos outros, explodiu, o que exigiu também reajustes estratégicos.

Cátia: Ser-se empreendedor em Portugal nunca é fácil, temos muita burocracia e uma legislação mais adaptada a grandes empresas do que a pequenas. É tudo muito complicado e exige muita gente de muitas áreas que as pequenas empresas não têm recursos para contratar. Até os apoios são difíceis de perceber. Existem sempre desafios, mas se tivermos resiliência e vontade tudo se vai fazendo. Não é que seja difícil, mas dá muito trabalho.

LuxWOMAN: Creio que as vossas áreas académicas pouco tinham a ver com o rumo que resolveram dar ao vosso percurso profissional…

Cátia: Eu comecei por me formar em Farmácia, em Coimbra, e gostei imenso do curso, mas não me via a trabalhar em nada. Depois tirei o curso de Medicina Tradicional Chinesa e foi aí que encontrei a minha filosofia de vida, todos os princípios de orientação, foi tudo uma enorme descoberta. Depois do curso comecei a dar consultas. Viajei pela Ásia e quando regressei, desafiei a Rita a criar uma loja. Na Organii e na Unii junto a farmácia com a visão holística da medicina chinesa. No fundo bate tudo certo.

Rita: Sim, eu na altura trabalhava num gabinete de Arquitetura, sendo essa a minha formação académica. Aceitei o desafio e atualmente faço a gestão da Organii. As coisas foram acontecendo, por forças externas e por vontades internas. Temos construído assim o nosso caminho, mas não era nada disto que estava no plano inicial, era mesmo só uma pequena loja.

LuxWOMAN: Alguma vez pensaram em trabalhar juntas? Tinham essa vontade desde pequenas?

Rita: Acho que não. Cada uma tinha as suas próprias ideias e projetos, que eram em áreas bem distintas.

Cátia: Nunca na vida! Nem sermos donas de negócio próprio, nem trabalharmos juntas. Foi tudo um acaso.

LuxWOMAN: Como era a vossa relação em criança e o que mudou de lá para cá?

Rita: Eu fui muito desejada pela Cátia. Sempre tivemos grande cumplicidade, a ideia que tenho é que sempre me senti apoiada pela Cátia, sempre estive muito junto dela. Tínhamos os mesmos amigos, chegámos a viver juntas em Coimbra quando a minha irmã foi para a universidade e eu consegui convencer o meu pai a ir para lá fazer o 12.º ano.

Cátia: Hoje somos uma extensão uma da outra. Continuamos unidas, quer na vida profissional, quer na vida pessoal. Os nossos filhos estão juntos, brincam juntos, crescem juntos tal como nós. Somos muito diferentes, temos opiniões muito distintas e quase sempre contrárias, o que torna tudo mais desafiante mas também mais equilibrado. Apoiamo-nos nas diferenças e tentamos chegar a acordo e nem sempre a consensos.

LuxWOMAN: Que planos ou novidades têm para um futuro próximo?

Cátia: Estamos sempre em processo de melhoria contínua. Não é que não estejamos satisfeitas com o que atingimos até aqui, mas por sabermos que há tanto ainda por explorar, por melhorar. O nosso propósito é servir o cliente e por isso mesmo temos sempre muito caminho para trabalhar. Fazer crescer a Unii, a cosmética a granel, desenvolver mais produtos portugueses.

Rita: Há 12 anos começamos com soluções para peles sensíveis. Hoje continuamos a trabalhar para esses clientes, mas também pessoas ecologicamente responsáveis. Continuaremos a falar de pele e de valores que para nós são importantes, e se conseguirmos inspirar mais pessoas a fazer pequenas transições, ficaremos orgulhosas. Temos muito por onde melhorar todo o atendimento ao cliente e tornar a experiência online o mais semelhante à da loja física.

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