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O sangue do cordão umbilical ajuda no tratamento de mais de 90 doenças

No passado mês de novembro, dia 15, assinalou-se o Dia Mundial do Sangue do Cordão Umbilical. Para assinalar esta data, a Crioestaminal, um Banco de Criopreservação, promoveu, ao longo do mês, uma campanha de doação do sangue do cordão umbilical dos bebés.

O sangue do cordão umbilical é uma fonte rica em células estaminais hematopoiéticas, que podem ser utilizadas no tratamento de mais de 90 doenças, como leucemias, linfomas, talassemia, anemia de Fanconi, imunodeficiências, entre outras. Atualmente, o potencial terapêutico das células estaminais está também a ser investigado em 226 ensaios clínicos de outro tipo de doenças, como a paralisia cerebral, o autismo, a perda auditiva, AVC, entre outras.

Segundo Mónica Brito, CEO da Crioestaminal, “em mais de 90% dos partos, em Portugal, o sangue do cordão umbilical é descartado como lixo biológico, e com ele a possibilidade de desenvolvimento de novos tratamentos”. Para percebermos como podem as futuras mães optar por preservar este sangue, estivemos à conversa com a CEO do Banco de Criopreservação.

Mónica Brito, CEO da Crioestaminal

Mónica Brito, CEO da Crioestaminal

Em Portugal, desperdiça-se muito sangue do cordão umbilical?

De facto, em mais de 90% dos partos, em Portugal, o sangue do cordão umbilical é descartado como lixo biológico, e com ele a possibilidade de novos tratamentos.

Como se pode evitar que isto aconteça?

Pode evitar-se o seu desperdício doando a amostra para um banco público de sangue do cordão umbilical ou doando à Crioestaminal para Investigação e Desenvolvimento. Neste caso, basta que as famílias informem a Crioestaminal de que pretendem doar as células estaminais do cordão umbilical do seu bebé e ser-lhes-á enviado o kit de colheita das células estaminais com o consentimento informado para a doação. Depois precisam de informar o seu médico assistente de que pretendem fazer a doação e ter o kit consigo no dia do parto. Logo após  o bebé nascer, a família deverá contactar a Crioestaminal para que a amostra doada seja recolhida e transportada até ao laboratório da Crioestaminal, em Cantanhede, onde será feita a criopreservação das células, caso cumpram com os requisitos para armazenamento no banco de investigação e desenvolvimento.

A Crioestaminal está comprometida com a Investigação e Desenvolvimento de medicamentos à base de células estaminais de modo a preservar o potencial terapêutico deste bem único, disponibilizando os seus recursos para que estas células possam estar disponíveis para o desenvolvimento da ciência e da medicina em Portugal.

Em que momento devem as mães manifestar o interesse na preservação do sangue do cordão umbilical?

Aconselhamos que o façam até dois meses antes do parto de modo a receberem o kit de colheita tranquilamente em sua casa e poderem conversar sobre a sua decisão com o médico assistente e assim preencherem a documentação necessária (Questionário de Avaliação Clínica e Consentimento Informado).

Durante o mês de novembro tiveram uma campanha de doação. Agora que o mês chegou ao fim, a quem podem estas mães recorrer?

Lançamos a campanha de doação no mês de novembro por se assinalar o Dia Mundial do Sangue do Cordão Umbilical a 15 de novembro, contudo, e atendendo aos pedidos de doação que nos chegaram, vamos continuar a receber amostras de sangue do cordão umbilical para Investigação e Desenvolvimento. Assim, as famílias poderão continuar a recorrer à Crioestaminal.  As amostras doadas desta forma altruística passarão a fazer parte do banco de I&D da Crioestaminal, podendo ser alocadas aos projetos de investigação e desenvolvimento de novas terapias celulares, ou inclusivamente disponibilizadas para utilização alogénica, caso aplicável.

Quais os benefícios do sangue do cordão umbilical?

No cordão umbilical encontramos células estaminais, também conhecidas como células mãe, que têm a capacidade única de autorrenovação, proliferação e diferenciação em diversos tipos de células especializadas. Estas características fazem com que as células estaminais tenham a capacidade de atuar no organismo de diversas formas, particularmente no âmbito da regeneração de tecidos e também na regulação de processos inflamatórios, traduzindo-se, assim, numa possibilidade de tratamento no contexto de várias doenças.

As células estaminais estão disponíveis em vários tecidos do nosso organismo, mas os procedimentos de obtenção destas células são geralmente invasivos, algo que não acontece com as células estaminais obtidas a partir dos tecidos perinatais, como seja o sangue do cordão umbilical, habitualmente descartados como resíduo biológico após o parto. A possibilidade de realizar uma colheita não invasiva e realizar de seguida um processo de criopreservação que mantém as características e a viabilidade celular, permite que as células estaminais fiquem disponíveis de imediato caso sejam necessárias para tratamento. De destacar também que, as células estaminais do cordão umbilical têm menor probabilidade de desencadear processos de rejeição, são menos suscetíveis de transmitir doença pós-transplante e, ao serem guardadas ficam disponíveis para serem utilizadas num doente compatível.

Este é usado no tratamento de doenças? Quais?

Sim, as células estaminais hematopoiéticas, presentes no sangue do cordão umbilical, são já utilizadas no tratamento de mais de 90 doenças, falamos de doenças hemato-oncológicas, imunodeficiências e doenças metabólicas. Foram utilizadas pela primeira vez num transplante, realizado em França, em 1988. Tratou-se de um transplante de células estaminais semelhante a um transplante clássico de medula óssea, mas neste caso foi utilizada uma amostra de sangue do cordão umbilical como fonte de células estaminais hematopoiéticas. O sangue do cordão umbilical de uma menina foi colhido à nascença e criopreservado em condições adequadas, para mais tarde vir a salvar a vida do seu irmão que padecia de Anemia de Fanconi, uma condição severa cujo único tratamento é um transplante com células estaminais de um dador compatível. Em Portugal, a primeira vez que foi utilizado sangue do cordão umbilical em transplantação foi em 1994. Também neste caso num transplante realizado com células de um irmão colhidas à nascença, num acontecimento em que a Diretora Médica da Crioestaminal esteve diretamente envolvida. Desde o início da sua atividade em 2003, a Crioestaminal já disponibilizou 15 amostras de sangue do cordão umbilical para o tratamento de doenças em contexto clínico regular como Imunodeficiência Combinada Severa, Anemia Aplástica Grave e Leucemia Mieloide Aguda e em contexto de terapia experimental no âmbito da Paralisia Cerebral e de Perturbações do Espectro do Autismo.

 De que forma é que é usado?

O sangue do cordão umbilical é colhido no momento do parto, logo após o nascimento do bebé, depois é enviado para laboratórios adequados onde é processado e armazenado em meio de azoto líquido a baixas temperaturas por longos períodos. Caso surja uma eventual necessidade de utilização clínica, a amostra de células estaminais do sangue do cordão umbilical já armazenada é requerida pela equipa médica que acompanha o doente e é enviada para o hospital onde será realizado o tratamento. Este envio da amostra criopreservada é também ele realizado em ambiente de azoto, em recipientes próprios que mantêm temperaturas muito baixas durante o transporte. A amostra de sangue do cordão umbilical é descongelada e preparada para o tratamento já no hospital onde o mesmo vai decorrer. Caso se trate de um transplante hematopoiético, os procedimentos são em tudo semelhantes a um tratamento com células estaminais obtidas a partir da medula óssea. Já no âmbito da medicina regenerativa os procedimentos poderão ser mais simples, semelhantes a uma transfusão de sangue.

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