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Portugal Fashion: o que ficou do regresso da moda à Invicta

De 1 a 5 de julho, o Norte do país voltou a ser palco do Portugal Fashion, que celebrou três décadas de existência com um programa distribuído entre Porto, Matosinhos, Gondomar, Douro e Famalicão. Entre 67 marcas e 72 designers, destacaram-se jovens criadores do BLOOM, nomes consagrados como David Catalán e Miguel Vieira, colaborações artísticas e um Summit que reforçou o evento como motor de inovação e internacionalização da moda portuguesa.

No início de julho, as atenções dos aficionados por moda estiveram postas no Porto. Depois de ter sido cancelado no ano passado por falta dos apoios necessários, o Portugal Fashion regressou à cidade Invicta, de 1 a 5 de julho, para celebrar os 30 anos do evento. Distribuído por vários pontos da Região Norte — Porto, Matosinhos, Gondomar, Douro e Famalicão — o evento contou com a participação de 67 marcas, que envolvem um total de 72 designers, num alinhamento que espelhou a diversidade estética, cultural e geográfica da moda contemporânea — de jovens talentos nacionais a nomes internacionais em ascensão, passando por colaborações artísticas e diálogos intercontinentais.

Novos talentos que floresceram no Portugal Fashion

Concurso Bloom

Em Matosinhos, a antiga fábrica de conservas Vasco da Gama acolheu o pulsar criativo do BLOOM, espaço dedicado à nova geração de designers. O programa incluiu o ESAD Showcase (show & exhibition), com 25 coleções assinadas por 28 criadores emergentes, que apresentaram narrativas de identidade e reflexão. A programação do BLOOM contemplou um total de 38 coleções, com 3 apresentações do BLOOM Incubator, 7 propostas finalistas do Concurso BLOOM powered by Salsa Jeans e 3 participações integradas no CANEX.

Com coordenação da dupla Marques’Almeida, o Incubator destacou-se como a nova rubrica de aceleração de talentos do BLOOM, que inclui os designers Maria Carlos Baptista (numa apresentação especial com a fadista Carminho), Arieiv for Lo Siento e Veehana, nome que se estreou em absoluto no calendário do evento. Os três nomes emergentes serão agora acompanhados no decorrer dos próximos meses, tendo em vista a afirmação e profissionalização das suas marcas.

Enzo Peres Perederko

O jovem designer Enzo Peres Perederko foi o grande vencedor da edição de 2025 do BLOOM PWD by Salsa Jeans. Natural de São Paulo, com ascendência espanhola e ucraniana, Enzo formou-se recentemente em Design de Moda pela Escola Superior de Artes e Design (ESAD), em Matosinhos, e apresentou no BLOOM a coleção “Genesis 01”, um trabalho que explora a desconstrução da alfaiataria clássica para dar origem a propostas andróginas, versáteis e profundamente ligadas à ideia de identidade e origem. O prémio inclui um estágio profissional remunerado de seis meses na Salsa Jeans, uma pós-graduação em Fashion Management na Católica Porto Business School, mentoria técnica e jurídica, e apoio de comunicação pela Showpress, bem como um incentivo financeiro de 2450 euros para o desenvolvimento da próxima coleção e a possibilidade de continuar a apresentar o seu trabalho no Portugal Fashion.

Também distinguida pelo júri do BLOOM 2025, a designer Vânia Oliveira recebeu uma menção honrosa pela coleção apresentada sob a marca Vaolms, evidenciando-se pela sensibilidade estética e abordagem conceptual. Esta distinção inclui uma residência criativa de três meses na Salsa, um voucher de formação executiva na Católica Porto Business School e assessoria de imprensa especializada pela Showpress.

Dos 29 designers, 5 que se destacaram

No calendário principal, foram apresentadas coleções de 29 designers, onde se incluem 5 criadores africanos integrados na plataforma CANEX e 2 designers oriundos da Arábia Saudita. De David Catalán a Pé de Chumbo, deixamos-lhe mais detalhes de cinco coleções que nos surpreenderam nesta edição:

David Catalán

Créditos: Ugo Camera

Foi em Matosinhos, na Casa da Arquitectura, que David Catalán decidiu apresentar a sua coleção AW25/26. “Careto” explora a dualidade entre a robustez e a sofisticação. Inspirada no universo dos Caretos de Trás-os-Montes, as peças desenvolvem-se a partir de contrastes — formas clássicas e estruturadas, realçadas por detalhes subtis. A paleta de cores reflete uma ligação com o mundo natural, evocando simultaneamente o universo fantástico dos Caretos.

O designer combinou materiais com texturas refinadas, criando um jogo entre a robustez e uma elegância discreta, evocando tanto o rude como o delicado. Cada peça procura o equilíbrio — streetwear com um toque de alfaiataria — resultando numa proposta inesperada e intemporal.

Miguel Vieira

Créditos: Ugo Camera

Para a estação primavera-verão 2026, Miguel Vieira propõe uma coleção onde a elegância se veste de preto e floresce na quietude da noite, recorrendo a uma paleta monocromática. Um lado mais poético e um luxo sofisticado são inspiração para um jardim nocturno onde cada flor se revela nos detalhes.

Na proposta masculina, as peças estruturadas e de corte preciso ganham vida com aplicações bordadas em missangas negras que formam camélias e jarros em pele — elementos que remetem a uma natureza reinterpretada com rigor contemporâneo. Sapatos adornados com berloques e colares em malha metálica preta acrescentam um toque de rebeldia elegante, mantendo-se sempre dentro do registo de sobriedade refinada.

Para senhora, o designer propõe coordenados onde o movimento é sugerido por fitas de cetim que se cruzam delicadamente sobre silhuetas esguias e tecidos fluidos. A sensualidade surge de forma subtil, numa celebração da feminilidade serena e contida.

“Uma Noite no Jardim”, apresentada no Museu do Carro Eléctrico, no Porto, é uma afirmação estética que reinterpreta uma noite de verão, entre sombras e flores, numa visão elegante.

NOPIN

Créditos: Ugo Camera

A coleção de NOPIN para SS26, “Soundwave”, retrata ondas sonoras como forma de expressão invisível e poderosa, onde cada look representa uma frequência emocional — dos graves densos aos agudos suaves — traduzida em ondas, texturas e brilho. A manipulação dos tecidos simula os movimentos das vibrações sonoras.

Cada peça representa uma frequência emocional, em que os graves são peças estruturadas, os tweeds e as cores castanho e preto; os agudos são as organzas e os tons claros como o rosa-claro e o pérola; e a distorção e eco são os tecidos brilhantes, metalizados e o fúchsia em apontamentos.

A paleta de cores é reinterpretada, com tons azul-pato e preto para sons graves e intensos, o mostarda e castanho para tons médios e encorpados, turquesa-claro, rosa-claro e pérola brilhante para frequências leves e etéreas, o prateado metalizado para som digital e apontamentos de rosa-fúchsia para distorções e destaques sonoros.

A coleção tem como característica a representação literal de frequências sonoras através das nervuras em ondas; o acolchoado em ondas cruzadas com pérolas representa a intersecção de sinais sonoros, manipulações criadas no ateliê da marca.

Susana Bettencourt

Créditos: Ugo Camera

Desconstruindo as Origens, a coleção “NO MEU ERRO, EU BRILHO” de Susana Bettencourt é mais do que uma coleção: é um manifesto pela resiliência, uma ode ao erro como força criativa absoluta. Neste trabalho, a designer mergulha na essência da sua identidade criativa. Desconstrói os códigos geométricos e a linguagem gráfica que há muito definem a marca para explorar o que está por baixo — questiona o que o mundo vê, o que lhe foi legado e como tudo isso evolui com o tempo. A tradição cruza-se com a inovação: técnicas de legado como a renda de bilros e o croché entram em diálogo directo com o jacquard digital e a precisão do design gráfico. O resultado é um terreno híbrido onde a memória artesanal colide com a invenção algorítmica — onde o erro deixa marcas visíveis e se transforma em método.

Nesta estação, duas grandes novidades marcam a coleção: as pequenas malas em croché, feitas em parceria com o Lar e Centro Social de Vila Boa de Quires — uma colaboração intergeracional que valoriza o saber das mãos experientes, promovendo trocas criativas com enorme significado. E, finalmente, a tão aguardada chegada da linha de sandálias Susana Bettencourt, desejada há muito, que faz agora a sua estreia — algumas das peças pisaram a passerelle, trazendo o espírito da marca até aos pés.

Pé de Chumbo

Créditos: Ugo Camera

Nesta edição do Portugal Fashion, a Pé de Chumbo, marca fundada pela designer Alexandra Oliveira, apresentou um crossover de coleções, que incluiu inverno 25/26, já apresentada em showroom, e algumas peças da coleção para o verão 26, que será apresentada em setembro (showroom em Milão, Paris e Arábia Saudita).

É uma apresentação de peças que definem bem o conceito e as características que identificam a Pé de Chumbo. Em tons de preto, prata, ouro e carmesim, a coleção apresenta principalmente vestidos que renasceram na mesma forma com novas texturas e as mesmas texturas em outras formas.

Créditos: Ugo Camera

A coleção foi acompanhada por um ensamble de músicos, com voz de Ana Luísa Costa, numa alusão ao fado.

Um espaço para conversas e conhecimento sobre moda

INVESTING INNOVATION SCALEUPS. Créditos: José Fernandes

A programação foi ainda marcada pelo Portugal Fashion Summit, que percorreu toda a semana como um eixo de pensamento e negócio transversal. Sob o mote “Think, Show and Connect”, o Summit reuniu criadores, marcas, investidores, scaleups e startups em sessões distribuídas entre o Douro, Matosinhos, Famalicão e o Porto. No total, destacaram-se oito sessões de conversas temáticas, uma pitch competition, um tour industrial e um almoço de networking, envolvendo 35 experts profissionais, entre oradores, moderadores e líderes empresariais envolvidos.

O ponto alto decorreu no Museu do Carro Elétrico, com apresentações da multinacional Metyis, mesas-redondas sobre e-commerce, inovação digital e crescimento data-driven, e uma pitch competition com startups emergentes, que consagrou a Rent Your Bag (RYB) como grande vencedora.

TALK INSIDE METYIS. Créditos: José Fernandes

Para além da reflexão estratégica sobre o presente e o futuro da moda, o Portugal Fashion lançou também a lista “Innovation Scaleups to Watch in Fashion, Beauty & Lifestyle”, composta pelos projetos Circlo, CareToBeauty e SkyPro, reforçando o seu papel como agente ativo na transformação da indústria criativa em Portugal e na internacionalização da moda nacional.

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