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Será mesmo amor ou egoísmo? Sofia Soares Tavares ajuda a distinguir

Quantas vezes sentiu que dá o seu melhor nos seus relacionamentos e não é reconhecida ou que o outro lado não retribui de igual modo? Ao longo da vida fomos ensinadas a ser “boas pessoas” e, em virtude de o sermos, temos de sacrificar quase sempre as nossas necessidades e desejos pessoais. Facilitadora de Autoconhecimento, Sofia Soares Tavares diz que “esta é uma questão recorrente em sessões com pessoas que se sentem desvalorizadas, incompreendidas, injustiçadas ou magoadas sob qualquer forma pelos outros e pela própria vida”. Posto isto, alerta para a importância de distinguir o amor distorcido do amor verdadeiro e dá-nos ferramentas para evitar e superar o primeiro.

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Sofia Soares Tavares

Como conseguimos distinguir amor distorcido de amor verdadeiro?

O amor verdadeiro é raro e a maior parte dos atos que consideramos serem atos de amor estão carregados de exigências e dependências, mais ou menos explícitas. Uma das formas mais rápidas de distinguir amor verdadeiro de amor distorcido é, de cada vez que pensarmos estar a fazer algum gesto de amor para alguém, ou a sermos carinhosos, simpáticos e “boas pessoas”, perguntar-se a si mesma(o): “Eu espero receber algo com isto? O quê, exatamente?”. Por vezes, esperamos receber reconhecimento e validação, noutros casos desejamos apenas sentir-nos úteis e importantes.

O amor genuíno é aquele que não espera nada em troca e que está livre de “ses” ou “mas”, é incondicional. O que quer isto dizer? É um amor livre de restrições, que não está dependente de quaisquer condições. Que oferece paz onde há discórdia; compreensão onde há intolerância e desejo de vingança; e perdão onde há ódio, medo e rancor. É um amor que une, que se compadece e perdoa e, por isso, é capaz de curar todos os males do corpo e as feridas mais profundas da nossa alma.

O amor verdadeiro é o estado natural do Ser e a distorção deste amor genuíno acontece devido ao principal mecanismo do estado inconsciente do ser humano: a identificação com a mente, que ocorre quando a nossa sensação de identidade tem origem em algo ou alguém exterior a nós próprios, criando a ilusão de um “falso eu” – o ego – que ocupa o lugar do Eu autêntico. Esta disfunção, que se instala sempre que nos identificamos com a nossa mente, buscando nela um sentido de identidade, faz com que muitos dos nossos relacionamentos (amorosos, familiares, de amizade ou profissionais) não sejam enraizados no Ser, acabando por trazer conflitos e sofrimento para as nossas vidas. A maioria das nossas relações são relações entre mentes e não relações entre corações, que se reconhecem através (e para além) do véu do ego.

Quantos de nós olham, aceitam e amam genuinamente os seus companheiros(as) por aquilo que eles/as realmente são, sem desejar que eles/as fossem diferentes?

Estamos todos sujeitos a receber amor distorcido, mas há um padrão?

A maioria de nós, de forma inconsciente, aprendeu a amar de forma distorcida, confundindo o apego e o afeto do ego com amor verdadeiro.

Se aprendemos a amar dessa forma, é perfeitamente natural que, na vida adulta, repliquemos esse modelo de amor distorcido que observamos vezes e vezes sem conta (e aceitamos como válido e verdadeiro) desde tenra idade.

Os nossos pais (ou cuidadores), bem como o tipo de relacionamento que mantinham, transmitiram-nos, na nossa infância, uma ideia do que é o amor e do que é uma relação amorosa. Contudo, a verdade é que muitos deles viviam num estado de enorme stress, agitação, escassez, medo e total desregulação emocional, que inviabilizavam o equilíbrio mental e maturidade emocional, capazes de torná-los conscientes da diferença entre amor verdadeiro e apego, dependência e egoísmo.

Existe assim, um padrão de amor distorcido na sociedade atual, já que muito poucos aprenderam a amar verdadeiramente. E acredito que um dos maiores propósitos das nossas vidas é esse: reconhecermos que o Amor é a essência de quem somos e aprendermos a amar incondicionalmente, começando por nós mesmos, pois só então conseguiremos estender esse amor para tudo e todos à nossa volta.

Este padrão que existe na nossa sociedade tornou-se aceitável, porque é fácil de mascarar e muitas das suas manifestações são até incentivadas pelo ego coletivo dominante. No entanto, é crucial termos sempre presente de que ser bondoso, prestável, gentil e “boa pessoa” não implica que a pessoa negue quem é, o que deseja e precisa a cada momento. Se para demonstrar o meu amor ao outro, tenho de anular ou reprimir partes de mim ou abdicar de satisfazer as minhas próprias necessidades, isso não é amor. É egoísmo, é amor distorcido.

Como se evita um amor distorcido?

Para evitar um amor distorcido basta tornarmo-nos conscientes, ou seja, conhecermo-nos a nós próprios como o Ser subjacente à mente. Eu tenho pensamentos, mas não sou os meus pensamentos, tal como também tenho emoções mas não sou as minhas emoções. O pensamento é apenas um ínfimo aspeto da consciência e as emoções são a reação do nosso corpo a esse mesmo pensamento.

Quando percebemos que temos uma mente e que não somos a nossa mente, a ilusão cessa e o ego deixa de controlar a nossa vida e dominar as nossas ações, e assim deixamos de nos tornar dependentes de um “falso amor”, começando a trabalhar e a desenvolver o amor por nós mesmos. O amor-próprio, aqui, é a chave.

O que podemos fazer para sair de um relacionamento de amor distorcido?

Sair de um amor distorcido requer a saída de um estado inconsciente para um estado de consciência, como referi acima, e sobretudo uma, ou várias, decisões. Implica adquirir conhecimento e compreensão de si mesmo, da dinâmica de funcionamento da mente consciente e subconsciente, e de que somos seres multidimensionais (com uma dimensão mental, emocional, física, energética e espiritual). Mas o que quer dizer isso, afinal, de nos conhecermos? É tomarmos consciência das nossas feridas emocionais e verdadeiros mecanismos de defesa (da mente egóica) que nos tornam dependentes do amor distorcido nas nossas dinâmicas de interação com os outros. Mecanismos esses de que são exemplo o perfecionismo (querer sempre fazer tudo bem e de forma perfeita); a síndrome do salvador (quando queremos ajudar – salvar – tudo e todos à nossa volta); a pessoa que diz sempre que sim (quando fazemos de tudo para agradar os outros); entre outros.

Como se recupera de um amor distorcido?

A melhor maneira de recuperar de um amor distorcido é amar de coração aberto. É vencermos o medo de amar e sermos amados. É escolher, conscientemente, o amor no lugar do medo e do apego do ego. É sermos autênticos e corajosos para amar, mesmo com o coração partido. É não ceder à tentação e à forte resistência do ego, que insiste em fechar o nosso coração (muito ferido pelas experiências do passado), superprotegendo-nos, colocando-nos num estado de defesa e hipervigilância constantes. Quando isso acontece, o medo e a desconfiança instalam-se e torna-se impossível amar de forma genuína, já que não nos conseguimos mostrar verdadeiramente aos outros, roubando-lhes (a eles e a nós próprios) a oportunidade de conhecermos o verdadeiro amor.

A famosa investigadora e palestrante norte-americana, Brené Brown afirmou que, “os corações partidos são os mais corajosos, porque tiveram a coragem de amar” e eu não poderia estar mais de acordo. Estou profundamente convicta de que o Amor é, sempre foi e sempre será a resposta, e que só alcançaremos a paz, harmonia e felicidade plenas quando transcendermos o nosso ego e nos abrirmos ao amor verdadeiro. Para além disso, o Amor é a essência do Ser, de quem realmente somos, e é a única coisa que levaremos connosco quando morrermos: a nossa capacidade de amar.

Uma nota de extrema importância: viver um amor distorcido não é “mau”, pois dá-nos a oportunidade de reconhecer o amor verdadeiro, curar as nossas feridas e tomar consciência do que é, realmente, uma relação de amor genuíno e o que queremos experienciar em qualquer relacionamento da nossa vida.

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