A sexualidade integra a vida de cada indivíduo, contribui para a sua identidade e para o seu equilíbrio físico e psicológico, mas assume mais ou menos importância na
vida de cada um, consoante fatores culturais, religiosos, sociais e económicos.
Em Portugal, a educação sexual integrou o currículo escolar em 1984, assumindo o seu papel real, o de uma necessidade e de um direito das crianças, dos jovens e das famílias. Para sublinhar a sua importância, atualmente, a lei prevê que cada criança e jovem tenha, anualmente, um mínimo de horas estipuladas, para a educação sexual: seis horas nos 1.º e 2.º ciclos, e 12 horas no 3.º ciclo e ensino secundário. Paralelamente, existem, nas escolas, muitos projetos de implementação de programas de educação para a saúde, que integram a educação sexual. Há também gabinetes de informação e atividades integradas, nos horários letivos ou extracurriculares, que abordam o tema.
Europa vs EUA
Na Europa, de uma forma geral, a educação sexual assume grande importância nas escolas e aborda abertamente matérias como a orientação sexual, o prazer, a relação e a proteção, sendo obrigatória por lei na maioria dos países. Na Holanda, por exemplo, a educação sexual inicia-se aos quatro anos. Na Suécia, o programa de educação sexual inclui temas como as várias orientações sexuais, a prostituição e a pornografia e tem servido de modelo para outros países, uma vez que se verificam, naquele país, bons resultados, ao nível da redução do número de abortos, de gravidez adolescente e de doenças sexualmente transmissíveis. A ideia que prevalece é a de que quanto mais informação tiverem os jovens, mais preparados estarão para entender e refletir, de uma forma crítica, sobre as suas escolhas e comportamentos.
Em contrapartida, nos Estados Unidos da América, opta-se, por norma, por uma abordagem mais conservadora. Dos 50 estados, apenas em 22 se ensina educação sexual e, na maioria das escolas, educadores e professores aconselham a total abstinência de sexo antes do casamento, apresentando-a como o melhor método contracetivo e o mais eficaz na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. “Não façam sexo, porque podem engravidar ou morrer” é o conselho, ameaçador, que dirigem aos jovens. De notar que os Estados Unidos são um dos países industrializados com uma das maiores taxas de gravidez adolescente e também de doenças sexualmente transmissíveis.
Abordar o assunto com transparência e clareza
No sentido de encontrar formas de estreitar a conversa entre pais e filhos, sobre um tema tão natural quanto delicado, falámos com a psicóloga clínica infantojuvenil, Rita Castanheira Alves, também conhecida como a ‘psicóloga dos miúdos’. A especialista começa por reforçar que, como em qualquer outro assunto, não há uma fórmula mágica ou receita, quando se educa ou se ajuda uma criança ou adolescente a crescer.
Do seu livro ‘Adolescência, Os Anos da Mudança’, a psicóloga sublinha algumas recomendações, no que toca à forma como se aborda o tema, e destaca a importância de assegurar, enquanto emissor e educador, que a criança percebe exatamente o que se lhe quer dizer. Sem ruído ou mal-entendidos.
“É preciso que o adulto que aborda o assunto, ou o vai abordando, o faça garantindo que as palavras partilhadas no diálogo com o adolescente têm o mesmo significado, para que não leve a interpretações com interferências. Quando refiro ‘vai abordando’, faço-o propositadamente porque, como em diversos assuntos importantes para esta fase, e no âmbito do diálogo entre pais e filhos, também a sexualidade não é um tema que se encerre numa conversa de uma hora, ou em meia hora, como se de um módulo de um curso se tratasse. A sexualidade é um aspeto em elaboração e em descoberta, na personalidade do seu filho, a qual está também em construção, abarcando vertentes como a física, a emocional, a social e a afetiva, pelo que é importante encontrar o contexto, o momento para ir abordando os assuntos, o que ajuda à sua construção, reflexão e escolhas. É um trabalho contínuo, que não tem momento de começo nem de fim, mas em que o adulto vai semeando ideias, conceitos, dilemas, informações, para que o adolescente possa ir caminhando, tomando opções mais conscientes, informadas e saudáveis, do ponto de vista físico e mental.”
Reflexão sobre a própria sexualidade
Um dos desafios que se verifica neste tema, como em tantos outros, quando se educa, é a obrigatoriedade de os pais terem de pensar e avaliar as suas próprias opções e comportamentos, como a psicóloga alerta. “Outra questão importante nestes assuntos relacionados com a sexualidade, diz respeito à importância de os pais refletirem sobre si próprios, a sua educação, cultura e história, para que possam perceber como estarão a influenciar os filhos, a dirigir o assunto da sexualidade junto deles, quais os seus próprios preconceitos, tabus e automatismos, de forma a não perpetuar preconceitos.”
Quais os sinais a ter em conta para iniciar a conversa?
“Não há uma idade para iniciar uma conversa sobre a primeira vez ou qualquer que seja o tema. É, sim, fundamental, para que essa conversa possa surgir entre pais e filhos, que desde cedo, adaptando sempre à maturidade e fase de desenvolvimento da criança e, mais tarde, do adolescente, o tema da sexualidade vá sendo abordado de forma natural, aberta e como um assunto importante. Ir abordando é importante, não o fazer apenas uma vez. É um assunto com muitas vertentes, que não se limita aos aspetos físicos ou à reprodução. Há um caminho de diálogo muito importante, relativamente aos afetos, às emoções envolvidas, aos direitos sexuais e ao respeito mútuo.”
Aguardar a curiosidade dos mais novos ou tomar a iniciativa da conversa?
No seu livro, a psicóloga, reflete sobre o significado da ausência de conversas sobre o tema: “Ficar calado é também uma forma de educação sexual informal. Quando nos calamos, quando optamos por não nos exprimirmos sobre um tema, estamos, pelo silêncio, a transmitir determinados valores ao adolescente. A opção de não conversar sobre determinados temas dentro da sexualidade, não abordar quaisquer temas ou escolher uns em detrimento de outros é, por si só, uma atitude educativa, em que, de forma implícita, se transmitem os valores do adulto que se cala ou que faz opções na abordagem dos temas.”
O que impede a comunicação?
Muitos pais que se consideram modernos, tolerantes, com mentes abertas, assumem a dificuldade em lidar com o tema, em abordá-lo clara e objetivamente. Admitem, inclusive, a surpresa que é perceberem que os filhos podem já ter iniciado a vida sexual, estando muitas vezes em negação em relação ao crescimento dos filhos. A psicóloga clínica reflete sobre o que gera este impedimento à comunicação.
“Por razões históricas, políticas, económicas, culturais e religiosas, a sexualidade foi um assunto silenciado ou deixado de lado, nunca falado de forma alguma nos meios a que se tinha acesso, nomeadamente os de comunicação. Nos meios educativos, a sexualidade não era objeto de estudo nem de diálogo entre professores e alunos e somos, por isso, fruto de uma cadeia que se habituou a silenciar o sexo e tudo o que com ele se relaciona, na maioria das vezes, fora e dentro de casa. E, cada um, sozinho, na sua adolescência, foi construindo a sua sexualidade, com influências grupais, respondendo às necessidades e impulsos internos, ou apenas por convenção ou inevitabilidade.”
“Hoje, temos ainda uma forte herança deste ‘modo de estar’, sexualmente falando, não tão silenciado ou já não como um tabu, mas ainda pouco abordado em casa, e quando tratado é com embaraço e vergonha de pais e filhos. A par disto, em algumas escolas, ainda não é abordado ou, quando o é, nem sempre decorre da melhor forma, com programas pouco estruturados ou demasiadamente curtos. É encarado como um assunto para os tempos livres, não prioritário.”
“Junta-se a isto a dificuldade em compreender o adolescente e o que pensa e sente, numa fase em que se vira mais para fora (entenda-se, para os amigos) e partilha menos, tanto em tempo de lazer como em diálogo, o que contribui para a dificuldade de falar sobre sexo ao jantar, ao serão ou ao deitar, pelo receio de ser cedo, de ele achar estranho, de ser recusado. E se for? Não será melhor do que não assumir a responsabilidade de o munir com ferramentas úteis nesta área, como quando o mune de estratégias para que faça escolhas em termos de estudo, de autonomia, de amigos? Partilhar informação útil é essencial, mesmo que o pai e a mãe possam partilhar, histórica e culturalmente, o motivo de estes temas serem constrangedores.”
O que sublinhar, em relação à contraceção e às doenças sexualmente transmissíveis?
Quanto mais e melhor informação fornecer, melhores opções e probabilidades de prevenção terão os jovens. Segundo a especialista: “É importante informar, recorrendo a fontes úteis, de qualidade e ajustadas à idade e fase de desenvolvimento de cada criança ou adolescente. Acima de tudo, é importante abordar o tema, munindo-os de informação preventiva e realista.”
Masturbação infantil
Convém que impere a aceitação e a naturalidade. “É preciso ajustar a conversa à idade da criança, refletir primeiro sobre a pertinência do assunto e encontrar os pontos importantes a abordar. Nunca adotar uma postura punitiva ou reprovadora, como se se tratasse de algo errado. Ter em conta o contexto e o motivo pelo qual se vai referir o tema, para que a abordagem seja a mais adequada.”
Sites e pornografia
A ‘psicóloga dos miúdos’ recomenda: “O ideal é que se determinem regras e se ajuste o uso das tecnologias, da Internet e das redes sociais de acordo com a idade e fase de desenvolvimento. O adulto deve saber quando, como e para que é que a criança usa a Internet. O diálogo e a comunicação são fundamentais para que, na adolescência, os pais possam, mesmo não proibindo ou sem desrespeitarem a intimidade e a privacidade dos filhos, ter uma relação próxima e aberta.”
Preservativo: sim ou não?… ainda é uma questão
Os dados avançados pela marca de preservativos Durex, como resultado de um estudo internacional, que durou dois anos, com indivíduos com idades compreendidas entre os 18 e os 25 anos, demonstram que prevalece a ‘cultura de invencibilidade’ entre os jovens, que sabem que devem usar preservativo, mas que, na altura, optam por não o usar, não se protegendo e correndo riscos.
– 40% admite ter tido sexo com mais do que uma pessoa, sem preservativo.
– 61% concorda que não costuma pensar em preservativos, até precisar de um.
– 14% (apenas) afirma que as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) são a sua principal preocupação.
– 48% acha que contrair HIV/Sida não é algo que possa acontecer a alguém do seu grupo de amigos.
Para incentivar a confiança, que será a chave para uma mudança de atitude e comportamento, a marca lançou uma plataforma digital abrangente, que disponibiliza conselhos reais sobre sexo e relacionamentos. O site inclui artigos e vídeos, onde a confiança, o sexo seguro, as DST e a gravidez não planeada são abordados de forma clara e prática.
Basta telefonar
Os pais devem entender que os filhos possam preferir falar do tema fora do âmbito familiar e que podem não apresentar grande abertura para confidências. Elas não são estritamente necessárias. Importante é garantir que eles detenham toda a informação necessária para poderem melhor decidir. Para esclarecer qualquer dúvida de caráter sexual a marca de preservativos Control lança o projeto ‘Control Talk’ que consiste em dar respostas, através da aplicação WhatsApp, e de forma anónima, a todas as questões sobre contraceção, sexualidade, riscos, prevenção, e outros temas, ou dúvidas, relacionados.
Basta adicionar 934 059 910 aos contactos no WhatsAPP e Vânia Beliz, psicóloga clínica e mestre em Sexologia, responderá a todas as questões, de segunda a sexta-feira, das 18h às 20h.
*Texto elaborado com Rita Castanheira Alves, psicóloga clínica infantojuvenil e de aconselhamento parental.