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A quantidade que o teu filho come não diz nada sobre ti

Alimentar o teu filho não é um teste à tua competência como mãe, é um convite a ouvires as necessidades dele — e as tuas também

Antes de qualquer coisa tenho um convite a fazer-te: respira, observa a tua respiração, os teus pés, as tuas mãos. O que sentes? Frio, calor? É o que é. Não precisas de mudar nada.

Ufa! Parece que estás mais presente, então vamos lá… Sem dúvida que alimentar uma criança é algo que te pode trazer preocupação, angústia, desespero. Afinal, é uma das necessidades básicas de sobrevivência. A forma como o fazes é que deve ser refletida.

No início dos anos 1900, Watson, Skinner e Pavlov tiraram conclusões sobre os seres humanos que influenciaram profundamente a forma como o mundo passou a pensar sobre o comportamento e o desenvolvimento infantil. Estes investigadores acreditavam que os comportamentos humanos existiam principalmente em resposta ao condicionamento. A crença generalizada passou a ser esta: comportamentos positivos são motivados pela recompensa, e comportamentos negativos são eliminados através de consequências e punições. Esta linha de raciocínio leva-te a acreditar que é o teu trabalho controlar o comportamento do teu filho e as suas respostas emocionais ao mundo, usando recompensas e punições.

Esta é a razão pela qual és atingida por uma “bomba de vergonha fedorenta” (que muita coisa conta sobre ti) quando o teu filho se recusa a comer naquele encontro com a família toda. E pensas: “Estou a falhar como mãe, perdi o controlo sobre o meu filho.” Fizeram-te acreditar que a forma como o teu filho come diz alguma coisa sobre ti como mãe. Como? A criança está a choramingar? Esta teoria diz-te para a manipular com castigos e ameaças, criando sofrimento como lição para este comportamento. A criança está a comer a sopa toda? Então basta dar-lhe elogios ou recompensas (aquela promessa da sobremesa) para que perceba que é isso que queres.

Só que esta mentalidade deixa-te presa a focares-te em tentar controlar o comportamento em vez de tentar compreender as necessidades que estão a ser comunicadas.

Já pensaste que ninguém pode obrigar uma criança a comer? Sim, podes usar várias estratégias, mas é mesmo difícil fazer com que uma criança coma se ela não quiser. Então talvez a criança esteja apenas a pedir para ter escolha, para ter autonomia.

Em que outros momentos do dia permites que ela possa escolher o que quer? A roupa que veste, o brinquedo que leva, os totós que não quer usar? Afinal, parece que não comer é algo que sente que pode controlar.

Quando te focas apenas no comportamento e tentas extingui-lo sem o compreender, estás a ensinar à tua criança que o que ela faz para te agradar é mais importante do que o que ela sente. Estás a ensinar que, para ter o teu amor, ela precisa de se ignorar a si mesma.

Claro que és responsável por aquilo que o teu filho come e também contribuis para o seu bem-estar e saúde. Mas imagina que o teu filho é um passarinho. Ele está no ninho e tu podes guiar e estar presente, mas nunca vais poder voar por ele e também não vais poder decidir totalmente qual o destino dele. Isso não significa que não influencias e impactas a sua capacidade de voar em segurança e felicidade. A forma como te relacionas com ele afeta o quão preparado ele está para voar. A relação que constróis com ele e a forma como interages tem um impacto enorme em como está pronto, como preparou as penas e o tipo de clima emocional que o rodeia enquanto aprende a voar.

Isto tudo para repetires a ti mesma: “Eu não estou no controlo dos meus filhos. Não consigo voar por eles. Sou a torre de vigia a fazer tudo o que posso para garantir que está pronto para voar de forma segura. E a quantidade que o meu filho come não diz nada sobre mim.”

E agora, que pensamentos te estão a surgir? O que sentiste enquanto lias o texto? Esperança, alívio, desconforto? Fica aqui o convite para pensares um bocadinho sobre este tema.

Com carinho,

Filipa Gomes

Especializada em alimentação responsiva e fundadora do projeto Oishi, a sua missão é apoiar famílias na construção de refeições mais tranquilas, promovendo confiança, autonomia e ligação à mesa. Com base na sua experiência profissional e na maternidade, acredita que a alimentação é um espaço privilegiado para fortalecer relações. Atualmente, acompanha mães e crianças a criarem memórias felizes e uma relação mais saudável com a comida.

-Contactos- 

Instagram: @filipa.alimentacaoresponsiva

Site: oishi.pt

E-mail: geral@oishi.pt

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