[wlm_register_Passatempos]
Siga-nos
Topo

A saúde mental e os cuidadores informais

Em Portugal, segundo o Instituto Nacional de Estatística, cerca de 1,4 milhões são cuidadores informais. Estes assumem o seu papel sem preparação, conhecimento ou suporte adequado para o desempenho desta nova função, o que implica prejuízos para a sua qualidade de vida e para a qualidade do cuidado dispensado. Isto faz com que  o cuidador passe a sofrer restrições em relação à própria vida: impactos frequentes podem ocorrer nas relações familiares e sociais, no desempenho profissional, financeiro, na sua saúde física e mental, podendo desencadear sintomas como ansiedade e depressão.

Hoje, dia 15 de maio, celebra-se o Dia Internacional da Família. Para assinalar esta data, falámos com a Presidente da direção da associação Abraço, Cristina Sousa, sobre a importância da preservação da saúde mental de um cuidador informal, sendo esta essencial para que o doente consiga atingir o bem-estar de que necessita.

Cristina Sousa, Presidente da direção da associação Abraço

Cristina Sousa, Presidente da direção da associação Abraço

O que deve mudar para que os cuidadores informais consigam ter melhores condições?

Hoje em dia, ainda existem poucas respostas que deem suporte aos cuidadores informais e as respostas ou apoios que existem, parecem, não circular de forma a que quem cuida esteja informado sobre os seus direitos e a que quem beneficia dos cuidados os receba, efetivamente, de forma adequada.

Tem de existir um investimentos em literacia neste âmbito, que seja suportado por campanhas direcionadas para públicos-alvo específicos dentro dos cuidadores informais, como é o caso da campanha que a Abraço, em conjunto com o Hospital de Santo António, desenvolveu no âmbito do projeto “Vhiver para além do VIH”.

Paralelamente, precisamos de um investimento no apoio e no acompanhamento efetivo para estas pessoas, que muitas vezes largam as suas vidas profissionais para cuidar dos seus familiares e na maioria das vezes fazem-nos sem qualquer conhecimento clínico. Isto, além de desgastante e mau para o doente, que precisa de apoio e acaba por o receber em moldes desajustados à sua condição clínica, é também péssimo para quem cuida, que se sente desamparado.

Temos o estatuto do cuidador informal, que foi um passo enorme nesta área, mas que na prática apresenta algumas lacunas, que começam desde logo nas burocracias do pedido e na ajuda para que as pessoas ultrapassem a barreira para o pedir, passando pela pouca divulgação de como aceder a tudo aquilo que o estatuto oferece como, por exemplo, o apoio psicológico. Trata-se de um subsídio monetário que fica aquém de um ordenado profissional. Idealmente, deveríamos caminhar para a profissionalização do cuidador informal.

Quais os sinais de alerta que mostram que o cuidador informal pode estar a pôr a sua saúde em perigo?

Cuidar de familiares com doenças crónicas é um trabalho a tempo inteiro e prejudica quem cuida. Muitas vezes, quem cuida anula-se, colocando as suas próprias necessidades de lado e isso pode levar a um esgotamento, ou até a um burnout, do cuidador. É muito comum iniciarmos a prestação de apoio domiciliário e encontramos cuidadores exaustos, em estados depressivos, com níveis elevados de ansiedade e dificuldade em executar as tarefas de cuidar de si e do outro.

Deve existir um cuidado acrescido na preservação da saúde mental de um cuidador informal de um doente portador de VIH?

Neste aspeto, é indiferente se é VIH ou portador de qualquer outra doença crónica, que precisa de cuidado. Garantir que o cuidador se mantem mentalmente saudável é garantir uma qualidade de vida para o doente e para quem cuida. Isto é essencial para que ninguém seja abandonado ou deixado para trás.

Segundo o Instituto Nacional de Estatística, cerca de 1,4 milhões de portugueses são cuidadores informais, tendo muitas vezes deixado o emprego para cuidar dos seus familiares e amigos mais próximos. Porque é que isto acontece?

Acontece porque muitas das doenças crónicas que carecem de apoio familiar, de acordo com o seu nível de evolução da doença, não carecem de institucionalização ou hospitalização, podendo o doente regressar ao domicílio.

O problema é que os apoios domiciliários existentes, na sua maioria não são como os da Abraço, que se adaptam às necessidades do doente. Acabam por ser apoios tipificados e não têm em conta a adaptação do horário de prestação de cuidados, face à necessidade da pessoa que precisa de apoio.

Estamos a falar, por exemplo, de apoios de 30 minutos até uma hora por dia, quando as pessoas muitas vezes precisam de apoios alimentares, de higiene pessoal, habitacionais, de socialização, e de medicação.

Estas condições clínicas face às respostas sociais não deixam outra hipótese aos familiares, do que o abandono profissional, para cuidares dos seus entes queridos.

Que características deve ter um cuidador informal?

Principalmente, deve ser capaz de cuidar e, quando digo isto, não é no sentido romantizado da palavra. O “ser capaz de cuidar” implica muito mais além do amor. Implica uma capacidade para cuidar não por obrigação, mas por vocação e capacidade. Cuidar de outro implica, muitas vezes, dar banho, mudar fraldas, alimentar, pegar e andar com o doente de um lado para outro entre consultas e especialidades como fisioterapia e outras terapias.

Veja mais em Sociedade

PUB