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Afinal, dormimos menos no verão…

Todos os anos, a chegada da Primavera traz uma discussão recorrente: devemos alterar a hora dos relógios para que a luz do dia se mantenha até mais tarde? Esta decisão política ganha uma hora extra de luz à noite durante o Verão e afeta um quarto da população mundial. Mas será esta a melhor decisão de acordo com a nossa fisiologia? Um novo estudo conduzido por Cátia Reis, investigadora pós-doutorada do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM, Portugal), e publicado na revista científica Journal of Pineal Research, mostra que mudar os relógios na Primavera custa mais de uma hora de sono a doentes que sofrem de um distúrbio chamado atraso de fase de sono e não só… Falámos com a investigadora para perceber as implicações desta mudança.

Cátia Reis, investigadora pós-doutorada do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM, Portugal)

Cátia Reis, investigadora pós-doutorada do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM, Portugal)

Antes de percebermos se a mudança da hora é benéfica ou não, importa começar pelo início e entender o que são os ritmos circadianos…

Comecemos pelo início, e explicando um pouco da fisiologia por detrás, nós temos ritmos endógenos, que são os nossos chamados ritmos circadianos, que fazem com que nós consigamos produzir algumas hormonas, dormir, estar acordado… E o que é que significa circadiano? A cerca de um dia, porque ele não é estritamente 24 horas. Em média, os nossos ritmos circadianos são ligeiramente superiores.

Devemos alterar a hora dos relógios para que a luz do dia se mantenha até mais tarde? 

Não. Durante o ano temos uma sazonalidade da luz, mais no verão e menos no inverno, que é denominado de fotoperíodo. É o nosso período de luz ao longo do dia. Quando saímos do inverno os dias são mais pequenos e quando entramos na primavera os dias começam a crescer. Tem a ver com a rotação da terra e com a sua distância ao sol.  Isto é natural e estamos todos habituados e crescemos com esta dinâmica. O Daylight saving time (o Horário de Verão) foi inicialmente proposto por questões económicas, pois achava-se que pôr luz ao final do dia fazia com que se usasse menos eletricidade. No entanto,  mais tarde foi provado que isto não era bem assim, tendo em conta que se estava a tirar luz de manhã e tínhamos de utilizar eletricidade na mesma. Essa luz de manhã, que nos foi retirada, é super importante porque é aquela que nos permite manter dentro das 24 horas. Por isso, independentemente de nós estarmos a mudar a hora do relógio, a nossa resposta hormonal está a responder à hora do sol. O que estamos a fazer com a introdução do Daylight saving time é causar um desalinhamento entre a hora do relógio e a hora solar. Importa dizer, e mostramos isso neste artigo, é que a nossa noite biológica, que é marcada pelo início da produção de melatonina (a hormona da noite), está acoplada à hora solar e não à hora do relógio.

Qual é a relação entre a luz e o sono?

Nós precisamos de sinais do ambiente, nomeadamente a luz, que nos permitam sincronizar os ritmos circadianos e mantê-los dentro das 24 horas. São estas pistas temporais, do sol e da ausência do mesmo, que nos dizem quando é que é dia e quando é que é noite. E que, de acordo com essa informação que nós recebemos do ambiente, o nosso organismo tem uma resposta.  Durante a noite é suposto dormirmos, porque somos organismos diurnos, e durante o dia estamos mais alerta. A pista máxima que nós temos é a Luz. Por isso, quando nós estamos expostos à luz no período da manhã, os nossos ritmos avançam e vamos dormir mais cedo. Se nós não tivermos esta luz de manhã e passamos a tê-la ao final do dia, nós vamos dormir mais tarde. Então, nós precisamos de ter luz, nomeadamente no período da manhã, se quisermos ir dormir mais cedo. 

No estudo que conduziu, publicado na revista científica Journal of Pineal Research, mostra que mudar os relógios na Primavera custa mais de uma hora de sono a doentes que sofrem de um distúrbio chamado atraso de fase de sono. No que é que consiste este distúrbio? 

A característica destes doentes é que eles são cronotipos muito tardios. São aquelas pessoas que se deitam muito tarde e que acordam muito tarde. Durante o Daylight saving time sofrem muito mais.

Quais são as consequências para as pessoas que sofrem deste problema?

Dormem menos. Todos nós, em média, dormimos menos durante o verão. Estes doentes dormem ainda menos e têm o sono ainda mais encurtado.  

A solução seria, eventualmente, acabar com esta alteração. No entanto, caso não seja possível, que medidas podem as pessoas tomar para melhor lidar com esta mudança de horário? 

Para qualquer pessoa, a melhor coisa que pode fazer para conseguir dormir mais cedo é apanhar luz no período da manhã. Quando sair de casa de manhã, não use óculos de sol. E, ao final do dia, tente desligar e privilegiar luzes mais fracas para que o seu cérebro entenda que já é noite. Como temos luz até mais tarde, pode, aí sim, usar uns óculos de sol no regresso a casa.

Há também que ter disciplina e saber quando desligar as tecnologias, principalmente no caso dos adolescentes.

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