Júlia Pinheiro, Maria de Belém Roseira, Leonor Freitas e Ana Marques da Silva foram alguns dos oradores presentes na conferência “Saúde das Mulheres, um potencial a alcançar”, promovida pelo Projeto Saúdes da Médis, para debater a saúde e o bem-estar das mulheres em Portugal
Na semana passada, a Médis promoveu a conferência “Saúde das Mulheres, um potencial a alcançar”, na Reitoria da Universidade NOVA de Lisboa, onde reuniu profissionais de saúde e especialistas de várias áreas para debater o estado atual e futuro da saúde em Portugal, em especial, a saúde da mulher. Foram abordadas visões do ponto de vista clínico e social destacando a importância do bem-estar feminino ao longo das diferentes fases da sua vida.
Marta Atalaya, Maria de Belém Roseira, Júlia Pinheiro, Leonor Freitas, Diana Gomes da Silva na Conferência “Saúde das Mulheres, um potencial a alcançar”
De acordo com o Estudo Saúdes, apenas 10% das mulheres portuguesas referem ter altos níveis de saúde e bem-estar. As várias fases da vida, como a adolescência, a menstruação, a gravidez, a amamentação e a menopausa, são bolsas de mal-estar que necessitam de maior conhecimento e atenção. “Ser mulher é um desafio, estamos expostas a um enorme escrutínio público, numa busca constante pela perfeição em todas as áreas da nossa vida”, referiu Ana Povo, Secretária de Estado da Saúde, na abertura da conferência.
Se é verdade que as mulheres revelam uma esperança média de vida superior à dos homens, em contrapartida, os dados revelam estados de saúde inferiores. “60% das mulheres não se sentem bem”, afirma Carla Sousa Pontes, médica de Medicina Preventiva e Bem-Estar. A medicina não conheceu por completo o corpo da mulher durante muito tempo, já que “até ao início do século XXI nos manuais de anatomia constava apenas o corpo masculino”, acrescenta a profissional. Por razões históricas e culturais, o corpo feminino foi excluído de investigações médicas, o que contribuiu para lacunas significativas no diagnóstico e tratamentos. Situação que se pretende reverter.
O estudo revela ainda que muitas mulheres tendem a aceitar ou a ignorar o desconforto associado a fases como a menstruação, maternidade e menopausa. Ou seja, 37% das mulheres identificam a menopausa como um período propício a instabilidade emocional, enquanto 52% apontam o pós-parto como particularmente desafiante. Uma conduta que se reflete, também, na relação com os profissionais de saúde, onde 22% das mulheres que possuem dores crónicas afirmaram que as suas queixas foram desvalorizadas.
A dor é um dos temas centrais identificados pelo estudo da Médis, com 31% das mulheres com dores crónicas a classificarem-nas como intensas e/ou insuportáveis. Na faixa etária acima dos 40 anos, 33% das mulheres portuguesas sofrem de dores crónicas, um número significativamente superior aos 14% registados nos homens.
No campo das dores crónicas, importa referir que, recentemente, Portugal deu um passo significativo na valorização da saúde feminina com a aprovação, a 14 de março de 2025, da lei que estabelece o regime de faltas justificadas para mulheres diagnosticadas com endometriose. Uma resposta face à doença crónica que incapacita centenas de mulheres e que permite três dias de faltas mensais ao trabalho, mediante atestado médico, sem perda de remuneração. A lei responde, assim, às reivindicações de associações e especialistas que há muito alertam para a desvalorização da dor feminina.
Outro fator que influencia o bem-estar feminino é a relação da mulher com o seu corpo. 71% das mulheres consideram ter peso elevado ou desejam perder alguns quilos, enquanto 55% já passou por processos de emagrecimento. “Estes dados refletem a pressão imposta por padrões de beleza difíceis de alcançar, que afetam negativamente a autoestima e podem contribuir para problemas emocionais como ansiedade e baixa confiança. A constante comparação com ideais irreais intensifica-se em momentos de transformação física, como a gravidez ou menopausa”, reforça Maria do Carmo Silveira, Responsável de Orquestração Estratégica do Ecossistema de Saúde Médis, Grupo Ageas Portugal.
No meio de tudo isto, onde fica a felicidade? Júlia Pinheiro, oradora no painel ‘A Mulher, o Bem-Estar e a Felicidade’, afirma: “Não estou entre os 10% de mulheres que sentem altos níveis de saúde e bem-estar. Felicidade é sentirmo-nos bem em frente ao espelho”.
Luís Menezes, CEO do Grupo Ageas Portugal, referiu que o objetivo final “é chegar ao cidadão comum, informando, capacitando e promovendo uma cultura de saúde mais consciente e responsável. Acredito firmemente que debates como este são fundamentais para a partilha e o progresso no que concerne à saúde das mulheres”.
De resto, a conferência pretendeu contribuir para a adoção de políticas e práticas de saúde mais inclusivas e adaptativas, sempre através do diálogo aberto.