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Biopic de Anselmo Ralph chega ao cinema

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O Anselmo cativou-o, a si?

Sim, sem dúvida. Nós tentámos sempre acompanhá-lo e percebemos que essas motivações que ele tinha de querer fazer sempre mais também eram um padrão que interessava contar, interessava abordar essa faceta dele. Existem pessoas que realmente trabalham muito e o Anselmo Ralph é uma dessas pessoas, ele não chegou aqui por acaso… E depois percebemos que existem várias pessoas que trabalham com ele e que o respeitam imenso, pessoas que quiseram dar o seu depoimento. Algumas fizeram participações em discos, outras fizeram parte de álbuns no início da sua carreira, outras foram as primeiras pessoas que o gravaram… Portanto, existem pessoas da sua história que aparecem no filme. Pessoas tão diferentes como o Eduardo Paim, um dos percursores da kizomba como estilo musical, o Kalaf, dos Buraka Som Sistema… O Rui Reininho também entra no documentário, também ficou muito tocado com o Anselmo, alguém alternativo e que à partida não teria nada a ver com ele… Isso foi muito engraçado! E então aí começámos a perceber: “OK, vamos por este caminho, vamos tentar perceber um pouco mais porque é que isto é tão apelativo para as pessoas, porque é que as pessoas ficam tão ligadas ao Anselmo”…

Quais é que foram os principais desafios na elaboração do filme?

Acho que o mais difícil foi mesmo acompanharmos o ritmo do Anselmo, ou seja, adaptarmo-nos a essa agenda dele e tentarmos sempre estar conscientes do que é que ele estava a fazer… Isso foi muito complicado, porque ele anda sempre de um lado para o outro. A planificação foi mais complicada… E depois foi tentar chegar às pessoas, aos artistas angolanos, foi difícil conseguirmos gravar alguns depoimentos.

Olhando para trás, tem o filme que quis desde o início?

Sim. Infelizmente, houve várias coisas nas quais não conseguimos tocar ainda. Só tive pena por isso, porque a história dele é mais densa, tem mais ramificações e tinha ainda mais coisas para contar. Mas, também por isso, deixámos algumas perguntas no filme para as pessoas irem procurar, para irem pesquisar um pouco mais. A ideia foi passarmos algumas mensagens, mas também passarmos algumas questões, que são questões de fundo, questões importantes como: como será o futuro do Anselmo? Será que as coisas vão correr bem? As pessoas que não conhecem o Anselmo vão poder conhecê-lo, o músico, a sua forma de estar no processo de criação, no estúdio… E depois vão poder perceber coisas engraçadas, como o facto de o processo de criação dos angolanos ser exatamente igual ao dos norte-americanos. Beyoncé, Justin Timberlake, Kanye West… Todos fazem música da mesma forma que faz o Anselmo e nós tentámos passar essa mensagem no filme… Isso também era algo de que eu não fazia ideia e acho que ninguém sabe verdadeiramente. Todos temos uma ideia mais ou menos preconcebida: eles chegam lá, tocam uns instrumentos, depois ele escreve umas letras… Mas não, o Anselmo é completamente espontâneo, aquilo que ele faz é ligar o microfone e tudo sai! Estamos a falar de alguém que tem 75 milhões de visualizações no Youtube e todo o trabalho dele é assim… É fabuloso! E são também estas questões que colocamos às pessoas e que queremos que as pessoas fiquem a saber. Afinal, os angolanos funcionam assim? É muito engraçado.

Mas nasce-se já com esse talento…?

É isso… A verdade é essa. As histórias estão na cabeça do Anselmo, as letras e as histórias estão com ele, mas a realidade é que tudo se baseia nessa espontaneidade e nessa reação imediata: ‘Isto soa bem’, ‘Vamos fazer alguma coisa disto’, etc. A química que existe. Por exemplo, com o seu produtor, o Nellson Klasszik, há uma química enorme. E isso foi também algo que eu quis logo passar no filme. E tem tudo a ver com isso, o Anselmo tem esse magnetismo que fez com que ele encontrasse as pessoas certas, que trabalhasse com as pessoas certas e que conseguisse alcançar sucesso. É difícil explicar porquê, mas a verdade é que tudo funciona. Mas ele próprio tem muito trabalho, é uma pessoa que trabalha muito, todos os dias… Sei que eles fizeram mais de 100 músicas para este último disco! E só 14 ficaram… Estiveram um ano e meio até escolherem as músicas que ficavam no álbum. Os angolanos são muito minuciosos, tentam sempre saber do que é que as pessoas vão gostar, de que é que Portugal vai gostar, de que é Angola vai gostar… E depois também é difícil conciliar isso, acho que essa é também uma batalha do próprio Anselmo: satisfazer toda a gente e chegar a todo o lado.

Num futuro próximo, há a hipótese de trabalhar de novo com ele e contar o resto da história?

Acho que neste formato já vai ser difícil. O Anselmo quer sempre fazer mais coisas, houve algumas interessantes de que falámos e que ficaram em cima da mesa… Mas, acima de tudo, acho que o importante é que nunca se tinha feito um registo como este em Angola, sobre um artista angolano. Houve algumas coisas mais ou menos do género, como o documentário ‘I Love Kuduro’, mas que englobou o movimento e não tanto um artista específico… Acho que isto, principalmente em Angola, onde existe pouco cinema e pouca produção, pode ser interessante e pode puxar outros artistas a quererem fazer algo semelhante.

E cá, fazem-se estes documentários?

O último do qual me lembro foi o dos Buraka Som Sistema, um documentário mais do estilo road movie sobre a história deles. O ‘Vontade de Vencer’ vai tocar com o lançamento do documentário da Amy Winehouse, também com o documentário sobre os Nirvana… Este é um formato que é atual e cada vez mais vai aparecer.

Ficou fã do Anselmo?

Sim, fiquei fã da música dele e não era, de todo. Acho que há mais na música nele do que aquela que eu inicialmente pensava existir, achava que era uma coisa diferente e ao longo do tempo percebi que estava errado. Percebi que existem muitas influências ali que são interessantes e que depois, se formos dissecar, se assemelham muito ao que se faz hoje na pop americana. Artistas como Rihanna, Madonna e até mesmo Kanye West estão a procurar as mesmas sonoridades africanas, sonoridades vindas desses países, e eu acho que o Anselmo também já se apercebeu disso e gostaria de fazer esse crossover, de dar esse passo. Aliás, estivemos a trabalhar com o Anselmo em Nova Iorque e estivemos com o produtor dos Fugees e da Mary J. Blige, estivemos com a equipa que lançou a Shakira… E o Anselmo, mesmo assim, achou que ainda não estava bem, que ainda é preciso mais trabalho… [risos]

Veja aqui o trailer de ‘Vontade de Vencer’:

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