

“I Love Seeing You” da artista Marie Tomanova é a próxima exposição a inaugurar na Her Clique, galeria de arte de Izabela Depczyk
Fundada em 2019 por Izabela Depczyk, a Her Clique é uma uma plataforma artística global, que representa um grupo diversificado de artistas que trabalham em diferentes meios, incluindo pintura, escultura, têxtil, performance, fotografia e videoarte. De 30 de maio a 30 de junho, a galeria de arte – que fica no Largo do Contador Mor 4, em Lisboa– recebe “I Love Seeing You”, a exposição individual de Marie Tomanova, que representa o percurso da artista através do autorretrato, desde 2016 até aos dias de hoje.
O autoretrato de Marie Tomanova

Série “UNTITLED PORTRAITS” (2024)
Créditos: Marie Tomanova
Embora seja mais conhecida pelo seu retrato da cultura jovem da cidade de Nova Iorque, é na prática contínua de autorretrato que Marie Tomanova investiga profundamente temas de identidade, género, deslocação, memória e raízes.
Como imigrante checa que vive e trabalha em Nova Iorque, Tomanova sempre se debateu com um sentimento de pertença. À medida que se confronta com um passado repressivo e um futuro incerto, a artista mergulha em questões que são tão pessoais para ela como universais para a experiência humana.
Marie Tomanova cresceu na cidade fronteiriça checa de Mikulov. Depois de concluir o mestrado em pintura, partiu para os Estados Unidos e optou por se dedicar à fotografia. Tomanova teve exposições individuais em todo o mundo, incluindo em Nova Iorque, Praga, Tóquio e Paris. O seu trabalho foi exposto na Bienal do Mês Europeu da Fotografia 2020, em Berlim, e no Rencontres d’Arles, como parte do Prémio Louis Roederer Discovery 2021 (Arles, França). Neste último foi selecionada para viajar para o Festival Internacional de Fotografia Jimei x Arles em Xiamen, China, em 2021. A vida e a carreira de Marie Tomanova foram registadas no recente documentário da plataforma de streaming Max, a “WORLD BETWEEN US”.
Her Clique por Izabela Depczyk

Izabela
Créditos: Natalia Laczynska Courtesy of Her Clique
Ambiciosa por natureza, Izabela Depczyk considera-se uma “conectora” e “alguém que procura captar o zeitgeist (espírito da época) do nosso tempo”. Em 2019, fundou a Her Clique com o propósito de dar voz às mulheres e às minorias, que “ainda estavam significativamente sub-representadas no espaço de arte (e além)”.
O que a motivou a fundar a Her Clique e qual foi o momento em que percebeu que era isto que queria criar?
Fundei a Her Clique em 2019, após vários anos a trabalhar na indústria da arte e sentir que as mulheres e as minorias ainda estavam significativamente sub-representadas no espaço de arte (e além). Queria então que meu projeto fosse construído com a premissa de abordar essa discrepância.
A plataforma distingue-se não apenas pela curadoria, mas também pela intenção de construir uma comunidade em torno da arte feita por mulheres. Qual é, para si, a importância dessa dimensão coletiva?
Tendo em conta tudo o que se passa no mundo – a agitação política, as crises ambientais, as crescentes discrepâncias em termos de riqueza e de acesso às oportunidades, penso que as iniciativas centradas na comunidade são agora mais necessárias do que nunca. Na Her Clique centramo-nos tanto nas mulheres como nas minorias étnicas, na comunidade queer e em todos aqueles cujas vozes podem ser abafadas ou marginalizadas. A arte tem esta qualidade única de ligar as pessoas, mesmo que não falem a mesma língua ou venham de diferentes contextos. Proporcionar este tipo de plataforma para a arte é de grande importância para mim e é um dos pilares fundamentais do que é a Her Clique.
Ao longo do crescimento da Her Clique, quais foram os maiores desafios — e as maiores recompensas — que encontrou?
O que faço é sobretudo gratificante – tenho a oportunidade de trabalhar com pessoas talentosas que são sensíveis ao mundo e que captam o que tantos de nós lutam para expressar. Os artistas são muitas vezes o termómetro dos tempos atuais, o bálsamo para as almas feridas, o refúgio para os inquietos. E quanto aos desafios, tenho tendência para os ver como oportunidades – de crescimento, de mudança, de aprendizagem.

Galeria de arte Her Clique
Créditos: Pernille Haugen Courtesy of Her Clique
Como foi o seu percurso profissional e de que forma é que este influencia a sua abordagem enquanto curadora e empreendedora?
A minha carreira começou muito cedo. Tive o meu primeiro emprego aos 15 anos, quando trabalhei para uma empresa de comunicação durante uma pausa de verão.
Sou muito ambiciosa e sempre segui por onde as oportunidades me levaram, onde senti que havia um elemento de descoberta. Não me atrevo a chamar-me de curadora, sou mais uma conectora e alguém que procura captar o zeitgeist do nosso tempo. Acontece que estou rodeada de pessoas incríveis de todos os sectores da vida que inspiram-me profundamente no meu percurso curatorial. No que respeita às nossas exposições, estou sempre interessada na história humana, uma história que não seja embelezada e filtrada, e sim uma que fale ao cerne do que significa ser um ser humano, com todos os nossos defeitos e imperfeições. É aí que eu vejo a beleza e é sobre isso que quero que as nossas exposições sejam.
Como mulher à frente de uma plataforma que visa amplificar vozes femininas no mundo da arte, sente que a sua própria história se reflete na missão da Her Clique?
É claro que há muito de mim na Her Clique. Certamente, como empresária, enfrentei desafios e rejeições e até o fracasso.Mas também reconheço o meu privilégio e canalizo-o de uma forma que pode dar poder a outras pessoas que o possam ter menos. Para mim, trata-se de nivelar o campo de jogo para que possamos aceder coletivamente as mesmas oportunidades.
Lisboa tem vindo a afirmar-se como um polo artístico e criativo. Que impacto teve a cidade — e a sua energia única — no desenvolvimento da Her Clique?
Lisboa tem tido todo o impacto na trajetória da Her Clique ao entrarmos neste novo capítulo com a nossa galeria em Alfama. É uma cidade com uma história rica, uma cultura profunda e tenho muita sorte por poder fazer parte deste incrível tecido colorido da vida da cidade.

Galeria de arte Her Clique
Créditos: Pernille Haugen Courtesy of Her Clique
A arte tem, muitas vezes, o poder de provocar, curar, transformar. Que tipo de arte mais a comove ou desafia?
Num mundo cheio de censura, superficialidade e ego, a arte que me move é a arte que não é filtrada, pura e honesta.
O que a inspira diariamente — seja na arte, na literatura, ou nas conversas que tem com artistas e criadoras?
As pessoas e as suas histórias são as que mais me inspiram.
Se pudesse deixar uma mensagem a jovens mulheres que desejam criar algo seu no mundo da arte ou da cultura, qual seria?
Sejam autênticos – essa é a arte na sua forma mais pura.