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Jane Hawking: o lado B

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Como é que era ser casada com uma mente brilhante?

Era interessante, mas por vezes desgastante. Por exemplo, nos fins de semana, ele sentava-se, com a mão a apoiar a cabeça, calado, e eu pensava se era alguma coisa que eu tivesse feito ou os miúdos. Talvez fosse porque os miúdos estivessem a fazer demasiado barulho e ele se sentisse desconfortável. Talvez fosse por não se estar a sentir bem. Talvez tivesse fome ou sede. Talvez eu tivesse dito ou feito alguma coisa que o pudesse ter aborrecido. Ele não dizia nada e, de repente, na segunda-feira de manhã, sorria e dizia: ‘Resolvi o problema!’ Era um problema matemático! E eu pensava: “OK, obrigada Stephen, deixaste-me preocupada o fim de semana inteiro!”

Como é que têm sido as reações ao livro?

Têm sido muito boas. Porque as pessoas não conheciam este lado da vida do Stephen. Havia dois lados das nossas vidas: o lado do Stephen que recebia prémios, da mente brilhante… e depois, o meu: que o conduzia para os prémios, que o deitava às duas da manhã e que no dia seguinte tinha de me levantar cedo para levar os miúdos à escola! Portanto, de um lado estava a imagem pública dele, maravilhosa! Do outro, a privada, que se traduzia num cansaço enorme meu, em exaustão e muito desprezo… E depois havia sempre a preocupação de o Stephen morrer nos meus braços, a qualquer minuto! Por exemplo, ele por vezes tossia toda a noite e eu não sabia o que ia acontecer… Às vezes, a minha mãe vinha ajudar-me, mas eu nunca passei uma noite tranquila, durante estes 25 anos.

Foi emocionalmente desgastante?

Foi de um desgaste enorme! No entanto, as coisas melhoraram um bocadinho quando ele começou a usar a máquina que o ajudava a falar. Porque ele não falava, de todo, a doença afetou-lhe as cordas vocais… A máquina trouxe-lhe muita liberdade! Podia dar conferências, falar com as pessoas, encontrar-se com elas… Ganhou mais vida. E entre nós as coisas também melhoraram, porque passou a haver muito mais comunicação! Ele podia falar-me dos problemas físicos que estava a sentir, por exemplo. E sentia-se mais à vontade para isso, porque antes não dizia nada. E, acima de tudo, sentiu-se mais feliz porque começou a falar de física e das teorias dele ao mundo!

O que é que fez com que ele vivesse tantos anos?

Acho que ele teve sempre um acompanhamento médico fabuloso! No Reino Unido, temos excelentes médicos para esta doença, a esclerose lateral amiotrófica, uma doença degenerativa, progressiva e sem cura, que afeta os nervos que controlam os movimentos voluntários dos seus músculos. O hospital também estava muito bem preparado para esta doença, ele fez muitos tratamentos, rodeou-se sempre muito bem de especialistas e depois fez uma cirurgia, a traqueotomia, para lhe colocarem um tubo de passagem de ar na garganta, facilitando a respiração. Isso aumentou-lhe muito a esperança de vida. E depois o pai dele, a uma dada altura, recomendou-lhe vitamina B12 e isso também o ajudou muito! Não há pesquisa dos benefícios da vitamina B12 nesta doença, mas ajudou bastante!

Ele combateu a doença também graças a si?

Espero que sim. Não posso dizer o quanto ajudei especificamente, mas sei que estive sempre do lado dele e dei o meu melhor. Espero ter contribuído para isso.

Como tudo começou…

Beryl Jane Wilde era o nome de solteira da jovem estudante de Letras quando conheceu Stephen.

Jane nasceu e cresceu em St. Albans, mas foi na Universidade de Cambridge, a 80 km de Londres, que conheceu o rapaz de cabelo louro, “sempre despenteado” e “com um ar estranho” que viria a ser o seu marido. Tinha apenas 18 anos.

Casaram-se em 1965, Jane tinha 21 anos e já sabia que a pessoa que escolhia para dividir a vida tinha esclerose lateral amiotrófica, uma doença degenerativa, progressiva e sem cura. Mas não desistiu da ideia dessa vida partilhada. Tiveram três filhos: Robert, que nasceu em 1967, Lucy, em 1970, e Tim, em 1979.

Separaram-se em 1990 muito por culpa do desgaste físico e psicológico de Jane, como confessa: “Foi uma vida muito difícil. Eu gostava muito do Stephen, mas numa relação tem de haver suporte e apoio mútuo e isso não havia na minha. O meu casamento chegou ao fim por causa disso.”

Jane casou-se, cinco anos mais tarde, com Jonathan Jones, um amigo da família.

Stephen casou-se, entretanto, com a sua enfermeira, Elaine Mason, a 16 de setembro de 1995, tendo-se separado em 2006.

Em ‘Viagem ao Infinito’ está retratada a vida de Jane e Stephen Hawing, mas de uma perspetiva diferente, a de Jane, a pessoa que foi sempre o suporte de um dos mais brilhantes cientistas da atualidade.

Editorial Presença €19,95

Imagem de destaque: Jane Hawking © Pau Storch.

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