

A designer MJ Gomes partilha as suas reflexões e um resumo da Lisbon Fashion Week, com o apoio de várias fotos da fotógrafa de moda Tamara Flaqué, que capturou o espírito e a ousadia da ‘ModaLisboa Singular’ e do seu público.
Com vários locais espalhados pela adorada cidade de Lisboa, desde o deslumbrante Locke de Santa Joana até ao histórico Pátio da Galé, a ModaLisboa Singular foi única, com certeza, mas tudo menos ‘singular’. Um dos destaques proeminente foi o forte sentido de comunidade – BFF’s, reencontros emocionantes e bastantes caras novas, toda a gente parecia conhecer alguém ou saber de alguém que conhecia, e ninguém se sentia sozinho.
O evento começou com duas conferências no Museu do Design (MUDE), apresentadas pelo carismático Rui Maria Pêgo. As discussões foram preenchidas de sabedoria e gargalhadas, e ao olhar para os outros criativos curiosos à minha volta, senti uma profunda sensação de pertença. Se foi pelo charme do Rui ou pelos Tabi shoes do António, a verdade é que a comunidade da moda estava presente em força. As conversas abordaram questões prementes que moldam o sistema da moda, e cada orador trouxe perspectivas incríveis. Da arquitetura ao mobiliário, o consenso transmitido foi que o que nos torna singulares é a nossa capacidade de errar – algo que liga os humanos de uma forma que a tecnologia nunca conseguirá.
Sentia-se que as pessoas se importavam, que estavam curiosas, e não há melhor sensação do que olhar à volta e sentir-se tanto tão inspirada como também integrada.
Equipada com novos conhecimentos e ainda a rir, segui para a abertura da exposição Beat by Be@t ainda no MUDE, e mais tarde para as Exposições Workstation New Media na Sociedade das Belas Artes (SNBA). Algumas horas e vários copos de vinho grátis depois, quase que me esqueci de onde estava – toda a experiência passou a correr, o que é sempre um bom sinal. Uma coisa é certa: saí entusiasmada com o que estava para vir e inspirada a experienciar a semana para além da moda. Desde a inovação da Be@t à curiosidade despertada pelas exposições na SNBA, mal podia esperar pelo segundo dia.
Após a exposição e uma noite de networking descontraída, o segundo dia trouxe uma atmosfera completamente diferente. Passámos de discussões intelectualmente profundas para o que pareceu ser um dia mais lúdico. Talvez fosse a paixão dos jovens criativos no ar, o ‘Sangue-Novo’, ou talvez fosse a promessa de bebidas e um concerto-performativo dirigido pelo criativo João Telmo e interpretado por Ella Nor. Pelo meio, assisti à apresentação de João Magalhães, um designer emergente e não convencional, cujo espetáculo foi mais do que uma apresentação – trouxe bolo, lágrimas, e uma narrativa significativa de experimentação, protesto e desafio. A sua mensagem, transmitida pela roupa e o seu espaço, deixou-nos com muito por refletir.
A exibição de João foi acompanhada pela vibrante coleção de Constança Entrudo. Conhecida pelas suas criações divertidas e irreverentes, Constança proporcionou-nos uma performance misteriosa, dando vida à sua nova coleção. Desde os estilos de cabelo complementados com areia à roupa coberta de conchas, o desfile fez-nos querer correr para a praia mais próxima e deixou-nos com uma sensação infantil de procura – algo tão unicamente Constança.
Um dos pontos altos foi conhecer os designers pessoalmente, vê-los rodeados de amigos, família e fãs que vieram celebrar os seus feitos. Foi comovente assistir a esses momentos tão íntimos, que para observadores como eu, foram repletos de um sentimento de gratidão e compaixão.
Quando o fim-de-semana começou, sem dúvida que o ritmo acelerou. O maravilhoso Pátio da Gale abriu as suas portas, dando boas-vindas a uma onda de desfiles de moda. Ao entrar, LEDs roxas guiavam-nos brevemente para um espaço aberto, marcado por pilares e arcos típicos do pátio e várias pessoas pousadas à frente do ar-condicionado. A passarela, que se encontrava por trás de duas portas brancas altíssimas, foi criada por Nuno Paiva que tinha como objetivo incorporar o campaign da Lisboa Fashion Week e criar uma utopia de singularidade.
Por mais que estivesse encantada com o que parecia ser uma miragem de um palácio, o verdadeiro espetáculo veio do público, que não deixou nada ao acaso – entre cores arrojadas e texturas totalmente loucas, estavam todos impecáveis. Mini-me’s foram avistados e coelhos gigantes saltitavam por aí. A energia era contagiante, parecia que todos eram crianças à espera de doces – os nossos doces sendo as novas coleções que em breve se tornariam as nossas obsessões. Desde os estreantes da semana da moda aos veteranos, as filas para os desfiles enchiam-se rapidamente. E desde o primeiro desfile da Mestre Studio, até ao último de Dino Alves, tudo que passou na passarela foi um sucesso, terminando com um sentido de orgulho enquanto os designers davam as primeiras vénias do fim-de-semana.
Ao longo do fim de semana, petiscámos Lay’s, bebemos água Monchique e fomos mimados com amostras da Clarins para nos mantermos frescos, juntamente com revistas da Portuguese Soul e da LuxWoman para ficarmos entretidos durante os intervalos. Bem alimentados, hidratados e cuidados, o último dia trouxe ainda mais entusiasmo com alguns dos desfiles mais esperados da semana. Entre a multidão, novos amigos encontraram-se, sussurros de colaborações e partilha de ideias ecoavam de todos os lados. Estávamos todos ansiosos por levar algo mais do que uma revista para casa da experiência, fosse uma discussão ou um contacto. Pessoalmente, tive a sorte de conhecer pessoas incríveis – uma das quais que está a colaborar comigo neste artigo. Beijos, Tamara!
A Lisboa Fashion Week não foi apenas sobre moda – foi sobre pessoas, conexões e experiências partilhadas. Havia algo profundamente reconfortante em estar rodeada de criativos tão apaixonados e curiosos quanto eu. A criatividade floresce na imperfeição, especialmente na que abraça tanto o sucesso quanto os erros. Saí de lá a sentir-me inspirada e profundamente conectada, empolgada por ver como este sentido de comunidade continuará a quebrar barreiras.
Depois de algum descanso e reflexão (e de deixar os meus pés recuperarem dos saltos!), posso dizer com confiança que a ModaLisboa foi cheia de risos, emoção, moda incrível e talento. Não houve um momento aborrecido – nem sequer durante as pausas de cigarro. Saí de lá ansiosa por ver mais, e estou certa de que cada ano continuará a elevar a fasquia.
Lisboa Fashion Week, foste maravilhosa – até para o ano!
Pode encontrar mais fotos cheias de sorrisos e moda em baixo, tiradas pela talentosa Tamara:
Artigo de Opinião de MJ Gomes
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